Descrição de chapéu América Latina violência

Facção que teria reivindicado autoria de crime político integra 'nova geração' de gangues no Equador

Grupo Los Lobos cresceu diante do encolhimento do cartel Choneros, que dominou país e ameaçou candidato morto

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Buenos Aires

Uma complexa rede de poder, golpes e massacres, somada à falta de controle governamental, explica a ascensão da facção criminosa Los Lobos no Equador. Encapuzados, seus supostos membros gravaram um vídeo afirmando ter assassinado o candidato presidencial Fernando Villavicencio a tiros num evento de campanha nesta quarta-feira (9).

Em outro vídeo compartilhado na internet, homens vestidos de branco e com o rosto à mostra que parecem estar num presídio afirmam ser integrantes do Los Lobos e negam a veracidade do primeiro vídeo. Questionado, o governo do Equador disse não ter resposta sobre a autenticidade das gravações.

A facção integra a autodenominada "nova geração" de gangues no país e possui cerca de 8.000 membros em várias prisões e cidades, segundo o observatório InSight Crime. Eles são aliados a outros dois grupos, Tiguerones e Chone Killers, e suspeita-se que tenham elos com organizações criminosas mexicanas.

Grupo de pessoas armadas e encapuzadas reivindica assassinato de candidato no Equador
Grupo de pessoas armadas e encapuzadas reivindica assassinato de candidato no Equador - Reprodução

Os Lobos cresceram à medida que o cartel dominante na região nos últimos 15 anos, os Choneros, sofreu uma derrocada. A prisão ou a morte de seus líderes até meados de 2020 impulsionou uma guerra que dura até hoje e fez os homicídios equatorianos saltarem de 14 para 25 por 100 mil habitantes de 2021 a 2022.

Há uma semana, Villavicencio afirmou ter recebido ameaças dos Choneros. "Há três dias, um militante de Manabí [província que o grupo ainda domina] recebeu visitas de vários mensageiros de Alias Fito [líder do cartel] para dizer que, se eu continuasse mencionando os Choneros, eles me quebrariam", afirmou o candidato presidencial no programa local Vis a Vis, acrescentando que não suspenderia a campanha.

Os Choneros surgiram nos anos 2000 no porto de Manta, que recebia regularmente cocaína da Colômbia. Expandiu-se na década seguinte por meio de uma política estatal de transferência de líderes e detentos perigosos. A ideia do governo era desmantelar os grupos, mas a medida fez com que eles disseminassem seu poder e entrassem em conflito com outras facções prisionais, como os Cubanos e os Lagartos.

A violência nesses presídios começou a aumentar, com 49 assassinatos em centros de detenção do país em 2019. De lá para cá, a situação só piorou: mais de 419 detentos foram mortos só em 2021 e 2022, segundo o InSight Crime, muitas vezes em massacres com machados, armas automáticas e granadas.

Antes vivendo em um país considerado pacífico, a população se acostumou a ver no noticiário cenas de corpos pendurados em pontes, sicários abrindo fogo em restaurantes, sequestros-relâmpago e até um prefeito "reeleito" enquanto era velado, o que impulsionou discursos anticriminalidade na campanha presidencial.

Além do fato de o Equador estar localizado entre o Peru e a Colômbia, grandes produtores de cocaína do mundo, especialistas apontam outros motivos para a explosão da violência.

Entre eles estão uma economia que funciona em dólares, o que favorece a lavagem de dinheiro; a retirada de forças de segurança americanas do país pelo ex-presidente Rafael Correa; e políticas de abertura migratória que impulsionaram o tráfico de pessoas e a chegada de criminosos internacionais.

"Com isso temos um coquetel muito complicado, a somar uma falta de capacidade contínua das forças políticas em criar consensos, porque estão mais concentrados em brigar do que em construir uma agenda de Estado", afirma o analista político e consultor Michel Rowland. "Temo que o Equador esteja se convertendo num novo México, onde cartéis têm mais poder que o Estado."

Erramos: o texto foi alterado

O título e o corpo da reportagem foram alterados porque ainda não é possível confirmar a autenticidade dos vídeos da suposta facção.

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