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América Latina

Morte de Villavicencio deve favorecer a direita na eleição no Equador

Segurança é a principal preocupação da população, já que taxas de homicídio estão 245% mais altas do que há 2 anos

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Buenos Aires

Desde que voltou à democracia, em 1979, o Equador teve 15 presidentes, cinco dos quais não ficaram no poder por mais de dois anos, sendo substituídos após impeachment, pressões ou rusgas com a oposição.

A gestão que deu maior calma institucional ao país desde então foi a de Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017. Muitos de seus eleitores apontavam, entre as razões para votar nele, a questão da estabilidade e do alívio de viver num país que não convivia com protestos violentos e um poder acéfalo, além das reformas sociais e do aumento do gasto público que levaram milhões de pobres à classe média.

Pessoas tentam se proteger após disparos em comício de Fernando Villavicencio, morto a tiros em Quito
Pessoas tentam se proteger após disparos em comício de Fernando Villavicencio, morto a tiros em Quito - Stringer - 9.ago.23/AFP

Essas melhorias, porém, tiveram custo alto. Com o tempo, acusações de corrupção e um crescente autoritarismo passaram a marcar a gestão. Foi nessa época que Fernando Villavicencio, candidato à Presidência assassinado a tiros nesta quarta-feira (9) após participar de um ato de campanha, projetou-se nacionalmente. Repórter ativista, foi dos primeiros a denunciar desvios de verbas por parte do governo.

Uma das facetas desse autoritarismo crescente era justamente a de perseguir jornalistas, por meio de ações judiciais movidas pelo próprio Correa, que chegava a comparecer às audiências dos processos em que profissionais da imprensa eram alvo. Villavicencio sentiu essa pressão na pele e não quis se calar.

Quando a Folha o entrevistou, em 2017, o político falou por videoconferência, sem dizer onde estava. Afinal, depois de ter sua casa revirada numa operação de busca e apreensão, Villavicencio achou melhor se esconder em algum ponto do país e atuar como uma espécie de "refugiado interno". Dali, seguia publicando denúncias, enquanto mostrava-se angustiado ao acompanhar a guerra contra os meios de comunicação movida pelo governo e ver diretores de jornais imigrando e colegas sendo presos.

A imprensa, no entanto, destoava da opinião popular. Correa sustentou alta aprovação até o fim de seu terceiro mandato, tanto que elegeu um sucessor, Lenín Moreno, e esteve por trás da candidatura de Andrés Arauz, bem votado na eleição passada apesar de ter sido derrotado por Guillermo Lasso. Até a última quarta-feira, apadrinhava a campanha de Luisa González, nome que encabeça as pesquisas atuais.

Em maio, quando Lasso pediu a "morte cruzada", mecanismo que dissolveu o Legislativo, o país voltou a flertar com a instabilidade institucional dos tempos pré-Correa. Essa sensação de vazio de poder agora é revivida a dez dias das eleições, após Villavicencio ser morto a tiros. O que agrava essa situação é que o Equador de hoje é um país muito mais violento do que aquele que Correa assumiu.

Antes menos protagonista do narcotráfico da região, o Equador hoje abriga vários cartéis estrangeiros —mexicanos, colombianos e até um albanês—, e há vários criados no país, como os Choneros, cujos dissidentes formaram a facção Los Lobos, que teria reivindicado a autoria do assassinato de Villavicencio.

A segurança é a principal preocupação nesta eleição. As taxas de homicídio estão 245% mais altas em 2023 do que há dois anos, e, entre as comunidades de migrantes que buscam as rotas que levam aos EUA, a de equatorianos cresce, alimentada por uma fatia da população que não suporta viver sob o estelionato, as ameaças de sequestro e morte ou o recrutamento forçado de seus filhos.

A morte de Villavicencio num país agora em estado de exceção e com altas cifras de violência tende a favorecer as candidaturas à Presidência mais à direita, quando não da ultradireita, representada pelo candidato Jan Topic. Não deve favorecer em nada González, a apadrinhada de Correa.

Um dos movimentos a acompanhar nos próximos dias é o dos indígenas —Villavicencio tinha o apoio de parte importante dessa parcela. Divididos entre o partido Pachakutik, os sindicatos reunidos na Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador) e o líder Yaku Pérez, também candidato, eles também são vítimas do narcotráfico e já pararam o país em momentos cruciais do Equador.

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