América Latina tem número recorde de migrantes menores de idade, diz ONU

Estudo do Unicef aponta que crianças com até 11 anos são 91% do contingente; pobreza e violência causam êxodo

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Nova York | AFP

A América Latina e o Caribe estão enfrentando uma das maiores e mais complexas crises de migração infantil do mundo, com quantidades recordes de crianças cruzando seus principais pontos de trânsito, alertou o Unicef na quarta-feira (6).

Cerca de 25% dos migrantes na região são menores de idade, em comparação com 15% globalmente, de acordo com um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância, que aponta a pobreza, a violência e a degradação do meio ambiente como causas do êxodo em massa.

Grupo de migrantes que cruzou para os Estados Unidos é guiado por um agente de fronteira no Texas - Suzanne Cordeiro - 29.ago.23/AFP

Os menores de 11 anos representam 91% do total de crianças e adolescentes que frequentemente viajam desacompanhados pelos três principais pontos de trânsito de migração: a perigosa e inóspita selva de Darién, entre Colômbia e Panamá, o norte da América Central e o México, de acordo com o relatório "O Rosto em Transformação da Infância Migrante na América Latina e no Caribe".

A situação da infância migrante na região "não tem parâmetro por sua complexidade e magnitude", alertou o diretor regional do Unicef para América Latina e Caribe, Gary Conille, durante entrevista coletiva. Trata-se, disse ele, de um problema continental, que exige uma resposta unificada.

A pobreza, as consequências socioeconômicas da pandemia de Covid-19, a violência de quadrilhas armadas, os impactos de desastres naturais, exacerbados pelas mudanças climáticas, e o desejo de se reunir com suas famílias explicam esse êxodo.

Os menores desacompanhados correm mais riscos de serem alvo de traficantes, criminosos, quadrilhas organizadas e outras pessoas que desejam explorá-los ou feri-los se viajarem sozinhos ou em pequenos grupos, diz o relatório.

Independentemente de serem migrantes ou solicitantes de asilo, "estas crianças estão expostas a um enorme nível de riscos" e o "tratamento deveria ser padronizado, sistemático", afirma Conille.

Nos primeiros seis meses de 2023, mais de 40 mil menores e adolescentes cruzaram a selva de Darién. Por sua vez, o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos registrou no primeiro semestre deste ano 83 mil menores, em comparação com 149 mil em 2021 e 155 mil no ano seguinte.

Jovens de mais de 70 nacionalidades passaram por Darién, muitos de lugares tão distantes quanto a África e a Ásia. Após uma queda em 2022 devido à pandemia, os fluxos estão se recuperando este ano, com a intenção, na maioria dos casos, de chegar ao México, Estados Unidos e Canadá, de acordo com o relatório.

Entre 2020 e 2021, o número de venezuelanos que cruzaram Darién superou os 150 mil, 50 vezes mais do que antes, a caminho, na maioria dos casos, dos Estados Unidos.

Os haitianos foram protagonistas de outro grande foco de migração na última década. Em 2020, havia mais de 870 migrantes e refugiados na região. A esses somam-se salvadorenhos, hondurenhos, guatemaltecos e mexicanos.

Segundo o relatório, estima-se que entre 2014 e 2022 mais de 2 milhões de pessoas tenham emigrado de El Salvador, Guatemala e Honduras, tanto dentro quanto fora da região.

Dos 541 mil cidadãos desses países que chegaram à fronteira sul dos Estados Unidos em 2022, 140 mil eram menores e, destes, 114.585 estavam desacompanhados, segundo dados oficiais.

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