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General líder do Sudão manda dissolver grupo rival em conflito interno

EUA aplicam sanções a chefe de força paramilitar em meio a disputa que já deixou centenas de mortos

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Adre (Chade) | Reuters

O chefe do Conselho Soberano do Sudão, general Abdel Fattah al-Burhan assinou decreto nesta quarta (6) que dissolve as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), grupo paramilitar liderado por Mohamed Hamdan Dagal, conhecido como Hemedti, com quem disputa o controle do país em um conflito armado que já acumula centenas de mortos entre combatentes e civis e 380 mil refugiados apenas no vizinho Chade, segundo as Nações Unidas.

Burhan e Hemedti haviam se juntado em 2021 em um golpe de Estado para derrubar o governo de transição do premiê Abdallah Hamdok, que havia assumido após outro golpe para depor o ex-ditador Omar al-Bashir, em 2019. Discordâncias sobre o papel das RSF e desconfiança crescentes entre os dois líderes militares, porém, culminaram na eclosão do conflito em abril deste ano.

Mercado destruído em al-Fasher, no estado de Darfur do Norte, no Sudão, em meio ao conflito entre Exército e grupo paramilitar
Mercado destruído em al-Fasher, no estado de Darfur do Norte, no Sudão, em meio ao conflito entre Exército e grupo paramilitar - 1º.set.23/AFP

As RSF reivindicam o controle de pontos estratégicos no Sudão, incluindo a capital, Cartum, e cidades na região do centro político do país, como Bahri e Omdurman.

Frequentes bombardeios e contra-ataques entre os dois grupos deixam a população no meio de fogo cruzado e sujeita a atrocidades. O número de mortes aumenta toda semana, enquanto tentativas de diálogo e anúncios de cessar-fogo, como os mediados por Estados Unidos e Arábia Saudita fracassam antes de entrar em vigor.

Nesta quarta, ao menos 32 civis foram mortos em ataques com mísseis no bairro de Ombada, em Omdurman, na região metropolitana da capital. Grupos de ativistas afirmam que esse foi o dia mais mortal do conflito até o momento. Há relatos de mais 19 mortes por ataques semelhantes na mesma região no último domingo (3).

"Os civis estão sendo feitos de alvo, presos, estuprados e assassinados. Isso é ilegal e ultrajante", afirmou o coordenador de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths.

Segundo a agência Reuters, no começo da semana o Exército havia enviado tropas à cidade para preparar uma operação com o objetivo de cortar as linhas de suprimento das RSF com origem em Darfur, no leste do país, onde conflitos se estendem há décadas, quando o país ainda estava sob o controle de Bashir —os paramilitares têm origem nas chamadas milícias janjaweed, acusadas de atrocidades na região nos anos 2000.

Em meio à ordem do general Burhan de dissolver as RSF, os EUA anunciaram a imposição de sanções ao comando do grupo, sob o argumento de que a força comete violações de direitos humanos em larga escala no conflito. O líder, Hemedti Dagalo, e seu irmão e vice-comandante, Abdelrahim Dagalo, tiveram seus recursos nos EUA bloqueados. O chefe da organização em Darfur Ocidental, Abdul Rahman Juma, foi sancionado com restrições de visto.

Também nesta quarta, a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, esteve na fronteira do Chade com o Sudão, onde visitou um hospital improvisado e operado pela organização Médicos Sem Fronteiras que atende cerca de 140 mulheres e crianças desnutridas em fuga do conflito e de violência física e sexual.

Ela afirmou que os Estados Unidos doariam mais US$ 163 milhões em ajuda humanitária —que já soma US$ 710 milhões, segundo ela— e pediu que outros países contribuíssem com mais recursos.

Pacientes em camas do hospital improvisado do Médicos sem Fronteira na cidade de Adre, no Chade, na fronteira com o Sudão
Pacientes em camas do hospital improvisado do Médicos sem Fronteira na cidade de Adre, no Chade, na fronteira com o Sudão - Michelle Nichols - 6.set.23/Reuters

Metade dos cerca de 49 milhões de habitantes do Sudão precisa de auxílio básico, segundo a ONU, que tem uma meta de arrecadar US$ 2,6 bilhões —até agora, apenas 26% desse valor chegou à entidade. "Isso é vergonhoso. Conclamo a comunidade internacional a fazer mais e doar mais", disse a embaixadora.

"Certamente chegamos a um nível de atrocidades graves sendo cometidas e isso lembra muito o que vimos acontecer em 2004, que levou à determinação do genocídio", disse Thomas-Greenfield antes de chegar ao Chade, em referência ao mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) ao ex-ditador Omar al-Bashir em relação a crimes cometidos em Darfur.

Foragido, o ex-ditador havia sido derrubado em 2019 pelas Forças Armadas após manifestações de rua que duraram meses exigirem o fim do regime. O próprio Bashir havia ascendido ao poder, em 1989, por meio de um golpe de Estado.

Com Reuters

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