Arquidiocese de Baltimore pede falência após revelação de abuso sexual de crianças

Diocese católica mais antiga dos EUA busca acordos antes que nova lei para facilitar novos processos judiciais entre em vigor

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Dietrich Knauth
Nova York | Reuters

A Arquidiocese de Baltimore entrou com um pedido de falência nos Estados Unidos, nesta sexta-feira (29), afirmando que pretende buscar acordos com vítimas que acusam dezenas de integrantes da instituição de abuso sexual quando os denunciantes eram crianças.

O pedido de proteção judicial ocorre dias antes que uma lei estadual de Maryland entre em vigor no domingo (1º). A legislação permite que sobreviventes de abuso sexual entrem com novos processos independentemente de quando ocorreu o abuso, de acordo com os documentos judiciais da arquidiocese.

Interior da catedral de Baltimore, no estado americano de Maryland, em 2017
Interior da catedral de Baltimore, no estado americano de Maryland, em 2017 - Brendan Smialowski - 23.jun.2017/AFP

O procurador-geral de Maryland, Anthony Brown, afirma que há mais de seiscentos sobreviventes conhecidos de abuso por integrantes da Igreja Católica no estado, números que a Arquidiocese disse não poder confirmar.

Em abril, Brown levou a público o relatório de uma investigação sobre o assunto que, em mais de 450 páginas, lista nomes dos acusados e revela que padres, seminaristas, diáconos, professores e outros integrantes da arquidiocese teriam participado de abusos contra crianças entre 1940 e 2002.

"Os documentos acessados revelam de maneira perturbadora que a arquidiocese esteve mais preocupada com evitar escândalos e publicidade negativa sobre o caso do que com proteger essas crianças", diz um trecho do relatório, construído com base em relatos das vítimas e milhares de documentos da igreja.

Segundo o arcebispo William Lori, o pedido desta sexta-feira ajudará a instituição a compensar as vítimas de forma justa, ao mesmo tempo em que permitirá que a igreja continue suas operações e preserve seus "recursos limitados".

"Reconheço que nenhum pedido de desculpas, compensação ou conhecimento de nossas medidas de responsabilização atuais necessariamente levará à cura das vítimas sobreviventes, nem reparará o dano que sofreram", afirma Lori. "Com certeza, as conversas com as vítimas sobreviventes me ensinaram que nem eu nem a arquidiocese podemos desfazer o que foi tirado delas."

Sobreviventes dos abusos e associações de proteção de vítimas criticam a decisão da arquidiocese, que julgam ser uma tentativa de minar a nova legislação e evitar a responsabilização dos culpados.

David Lorenz, líder em Maryland da Rede de Sobreviventes de Abuso por Padres, disse ser "inconcebível" a arquidiocese entrar com um pedido de falência "antes mesmo de o primeiro caso ser apresentado" sob a nova lei do estado.

A Arquidiocese de Baltimore é a diocese católica mais antiga dos Estados Unidos. A instituição atende mais de 485 mil pessoas em vários condados do estado e possui entre US$ 100 milhões e US$ 500 milhões em ativos e entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão em passivos, de acordo com petição apresentada no Tribunal de Falências dos EUA em Baltimore.

Ações judiciais por abuso sexual levaram várias outras dioceses católicas a entrar com pedido de falência. Nova York e Califórnia já aprovaram leis semelhantes à legislação de Maryland, causando uma onda de falências católicas nesses dois estados. Das 8 dioceses de Nova York, 6 entraram com pedido nos últimos anos, e as dioceses de Oakland, Santa Barbara e San Francisco buscaram proteção judicial contra credores no início deste ano.

Falências católicas anteriores resultaram em grandes acordos relacionados a acusações de abuso, como um acordo de US$ 121,5 milhões em 2022 na falência da Arquidiocese de Santa Fé. Muitas das dioceses que entraram com o pedido após mudanças recentes na lei estadual permanecem em falência sem acordos finalizados.

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