Entidades não conseguem dimensionar catástrofe na Líbia 5 dias após enchentes

Balanços provisórios indicam mais de 11 mil mortos, e prefeito de cidade atingida fala em 20 mil óbitos

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São Paulo

Ainda não é possível compreender a dimensão da catástrofe provocada pelas inundações no leste da Líbia, afirmou nesta sexta-feira (15) o subsecretário para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths.

"Não conhecemos o alcance do problema e o nível das necessidades, o número de mortos ainda é desconhecido", disse Griffiths em uma entrevista coletiva em Genebra. A prioridade, segundo ele, é coordenar os esforços com o governo e outras autoridades —um desafio, dada a instabilidade política no país africano.

Áreas atingidas pelas enchentes em Derna, na Líbia - Marwan Alfaituri - 13.set.23/via Reuters

Como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011, quando o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado, a nação do Norte da África é dividida entre governos a leste e a oeste —apenas o último, com sede na capital, Trípoli, é reconhecido pela comunidade internacional. A área administrada pelo primeiro, porém, foi a mais atingida.

Também nesta sexta, o diretor de ajuda da Cruz Vermelha na Líbia, Tamer Ramadan, afirmou que "ainda há esperança de encontrar sobreviventes", mas se negou a anunciar um balanço de mortos, que "não seria definitivo nem preciso", disse.

No último fim de semana, a Líbia foi surpreendida com inundações provocadas pela tempestade Daniel, que deixaram cenários de destruição. A enxurrada arrastou casas, veículos e pontes em direção ao mar e destruiu prédios inteiros nos quais famílias dormiam. O local mais impactado foi a cidade costeira de Derna, no nordeste do país, na qual duas barragens e quatro pontes foram destruídas.

"A água estava carregada de lama, e as árvores tinham pedaços de ferro. A enchente percorreu quilômetros antes de ocupar o centro da cidade e destruir tudo que encontrava pela frente", disse Abdelaziz Busmya, 29, morador de um bairro que não foi afetado pela inundação.

"Perdi amigos e pessoas próximas. Estão sepultados debaixo da lama ou foram arrastados pela água até o mar", conta ele. Dezenas de corpos são encontrados a cada dia, e alguns são enterrados em valas comuns.

As autoridades enfrentam um dilema: conservar os corpos encontrados para possibilitar a identificação ou enterrá-los rapidamente para evitar a decomposição, já que a capacidade dos necrotérios é limitada.

"Estamos tentando obter amostras de DNA e fotos das vítimas antes de enterrá-las para ajudar na identificação mais tarde", afirmou o tenente Tarek al-Kharraz, porta-voz do ministério do Interior do governo não reconhecido.

Para Busmya, as autoridades líbias não adotaram as medidas de prevenção necessárias e se contentaram em orientar as pessoas para que permanecessem em casa antes da chegada da tempestade.

Nesta quinta-feira (14), balanços provisórios do Crescente Vermelho, versão da Cruz Vermelha para países islâmicos, indicaram que ao menos 11.300 morreram —mais do que o dobro dos 5.300 óbitos que haviam sido registrados em todas as áreas afetadas por chuvas até então. De acordo com o prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, porém, a cifra pode chegar a 20 mil mortes.

Mais de 10 mil pessoas seguem desaparecidas na região, segundo o Crescente Vermelho e, de acordo com a OIM, braço das Nações Unidas para migrações, o número de pessoas desabrigadas chegou a 30 mil.

Também na quinta, o chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, afirmou que as mortes poderiam ter sido evitadas caso a situação política do país fosse outra.

Taalas disse que o poder público na Líbia "não funciona normalmente", o que restringiu um trabalho de prevenção e agora dificulta esforços de resgate. "As inundações vieram e não houve retirada dos moradores porque não havia sistemas de alerta adequados", disse. Se os sistemas fossem eficientes, continua, "as autoridades de emergência teriam sido capazes de realizar a retirada das pessoas."

Com AFP

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