Migrantes começam a deixar ilha na Itália após superlotação

Mais de 10 mil desembarcaram em Lampedusa em três dias, segundo autoridades; população local é de 6.000

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Lampedusa | AFP

Migrantes começaram a deixar nesta sexta-feira (15) a pequena ilha de Lampedusa, no sul da Itália, depois que a chegada de milhares de pessoas em busca de melhores condições de vida desencadeou uma crise local nos últimos dias. Eles foram transferidos para outras cidades do país.

Mais de 10 mil migrantes desembarcaram em Lampedusa de segunda (11) a quarta (13), segundo o Ministério do Interior italiano. O número supera o total da população local, estimada em 6.000 pessoas.

Migrantes em centro de acolhimento na ilha de Lampedusa, na Itália
Migrantes em centro de acolhimento na ilha de Lampedusa, na Itália - Alessandro Serranò - 14.set.23/AFP

Os migrantes viajaram em embarcações precárias que partiram principalmente do Norte da África, região atingida por duas tragédias nos últimos dias. Na Líbia, enchentes na noite de domingo (10) provocaram a morte de mais de 11 mil pessoas. No Marrocos, quase 3.000 perderam a vida em um forte terremoto.

A menos de 150 km da costa da Tunísia, Lampedusa é um dos primeiros pontos de parada dos migrantes que se arriscam no mar Mediterrâneo numa tentativa de chegar à Europa. A rota é considerada uma das mais perigosas do mundo e, desde janeiro, mais de 2.000 mortes foram registradas durante a travessia, número que, segundo organizações que atuam em defesa dos direitos humanos, é subnotificado.

A chegada recorde de migrantes em Lampedusa superlotou o centro de acolhimento administrado pela Cruz Vermelha, com capacidade para 400 pessoas. Funcionários e voluntários tiveram dificuldades em lidar com as chegadas e precisaram colocar homens, mulheres e crianças para dormir ao ar livre em camas de plástico improvisadas.

Pressionadas, as autoridades italianas começaram nesta sexta a transferir os migrantes para Sicília, a maior ilha do Mediterrâneo, e para outros portos do país. Antes do embarque, centenas de pessoas formaram longas filas —segundo a Cruz Vermelha, cerca de 700 já foram transferidas, e outras 2.500 deveriam deixar Lampedusa ainda nesta sexta.

Outros migrantes continuam desembarcando na ilha, segundo um fotógrafo da agência de notícias AFP. "Não é fácil estar aqui", disse o migrante identificado apenas como Omar, que pretende reencontrar o irmão na Holanda depois de seis meses de viagens perigosas. "Somos tantos [...], até comer é um problema."

Em abril, o governo italiano decretou estado de emergência nacional devido ao fluxo de imigrantes em situação irregular que chegam pelo mar Mediterrâneo. A decisão foi tomada durante reunião da primeira-ministra Giorgia Meloni com seu gabinete de ministros.

A medida confere ao governo poderes extraordinários para enfrentar situações de exceção. Em outras ocasiões, o estado de emergência foi adotado para responder com velocidade a desastres naturais, como terremotos, e à pandemia da Covid-19. De acordo com a agência de notícias Ansa, o decreto tem o objetivo de reforçar e acelerar o trabalho de identificação, expulsão e repatriamento dos migrantes que não obtêm o direito de permanência na Itália.

Segundo autoridades, 126 mil pessoas chegaram às costas italianas este ano —o número é quase o dobro do registrado no mesmo período do ano passado, quando 65 mil desembarcaram.

Eleita em setembro, Meloni, do partido Irmãos da Itália, de ultradireita, tinha, entre as promessas, "fechar os portos" para a imigração ilegal e combater a ação de quem organiza viagens clandestinas. Um dos primeiros decretos, apresentado no fim do ano e aprovado pelo Parlamento em fevereiro, estabeleceu um código de conduta para o trabalho de resgate realizado no Mediterrâneo por navios de ONGs.

Uma das mais controversas é a regra que exige que as ONGs aguardem a indicação de um porto para desembarcar os imigrantes socorridos, em vez de se dirigirem ao local mais próximo de onde ocorreu o resgate. Houve casos de embarcações enviadas para cidades como Ancona e Ravenna, no centro-norte do país. Além disso, prevê sanções de até € 50 mil para quem violar as normas.

Em outro episódio, em novembro, foi criado um incidente diplomático com a França, depois que o governo tentou impedir o atracamento de navios que prestam serviço humanitário, forçando uma unidade da ONG SOS Mediterrâneo a se mover até a costa francesa.

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