Descrição de chapéu África chuva

Mortes em cidade na Líbia destruída por inundações ultrapassam 11 mil

Agência de meteorologia da ONU diz que óbitos teriam sido evitados se país não vivesse caos político

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Genebra | AFP e Reuters

O número de mortes causadas por inundações na cidade de Derna, na Líbia, subiu para 11.300 nesta quinta-feira (14) —mais do que o dobro dos 5.300 óbitos que haviam sido registrados em todas as áreas afetadas por chuvas até então. A informação foi dada pelo Crescente Vermelho, versão da Cruz Vermelha para países islâmicos, à agência de notícias Associated Press. Ainda segundo a organização, 10.100 pessoas seguem desaparecidas na região.

Região próxima ao mar devastada na cidade de Derna, na Líbia, após inundação
Região próxima ao mar devastada na cidade de Derna, na Líbia, após inundação - Divulgação Crescente Vermelho líbio - 13.set.23/AFP

Mais cedo, o chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, havia afirmado que as mortes poderiam ter sido evitadas caso a situação política do país fosse outra. A nação do Norte da África é dividida entre governos a leste e a oeste —este, reconhecido pela comunidade global e com sede na capital, Trípoli— como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011.

Taalas afirmou que o poder público na Líbia "não funciona normalmente", o que restringiu um trabalho de prevenção antes da catástrofe e agora dificulta esforços de resgate. "As inundações vieram e não houve retirada dos moradores porque não havia sistemas de alerta adequados", disse. "[Se os sistemas fossem eficientes] as autoridades de emergência teriam sido capazes de realizar a retirada das pessoas."

Derna foi a cidade mais impactada pela passagem da tempestade tropical Daniel pelo território. No domingo (10), o rompimento de duas barragens provocou uma enxurrada de água e lama que pegou os moradores de surpresa —muitos estavam dormindo. Testemunhas compararam as inundações a um tsunami. Casas, veículos e pontes foram arrastados em direção ao mar.

Taalas afirmou que a OMM já tinha entrado em contato com as autoridades líbias para ajudá-las na reforma do sistema meteorológico, mas que os esforços foram dificultados por ameaças à segurança. Segundo ele, parte da rede de observação meteorológica do país foi destruída durante os conflitos internos que assolam o país desde 2011, quando um levante na esteira da Primavera Árabe apoiado pela Otan, a aliança militar ocidental, levou à morte do ditador Muammar Gaddafi.

A ação deu início a disputas entre milícias rivais. Os tumultos reduziram a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para grupos extremistas. Também foram o gatilho para a criação de um governo paralelo, liderado pelo militar Khalifa Haftar, que atualmente domina a maior parte do país, e tem sua capital na costa leste, mais atingida pelas tempestades.

Além da fratura política, a tragédia expôs falhas na infraestrutura do país africano. No ano passado, um pesquisador havia alertado para o fato de que a falta de manutenção das barragens em Derna tornavam a cidade vulnerável a desastres. "Se ocorrer uma grande inundação, o resultado será catastrófico", escreveu Abdelwanees A. R. Ashoor, especialista em hidrologia ligado à Universidade Omar Al-Mukhtar.

A primeira barragem rompida fica a 11,5 km do centro de Derna, e autoridades locais anunciaram uma investigação para apurar as causas do incidente. A outra estrutura rompida fica no começo do perímetro urbano. "As estradas estão bloqueadas e destruídas, dificultando o acesso à ajuda humanitária", disse em nota a OIM, acrescentando que pontes sobre o rio Derna, que ligam a parte oriental da cidade à ocidental, ruíram.

Quatro dias após a catástrofe, socorristas continuam encontrando sobreviventes. O premiê líbio, Abdulhamid al-Dbeibah, baseado em Trípoli, disse nesta quinta que mais de 300 pessoas, incluindo 13 crianças, foram resgatadas por equipes de resgate após as enchentes devastadoras.

Já o prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, manifestou preocupação com um possível surto de doenças causadas por corpos em decomposição. "Precisamos de equipes especializadas na recuperação de corpos", disse ele à agência de notícias Reuters. "Temo que a cidade seja atingida por uma epidemia devido ao grande número de corpos sob os escombros e na água."

Mohamed al-Menfi, que faz parte do governo baseado em Trípoli, disse na plataforma X (ex-Twitter) ter pedido ao procurador-geral que investigasse o desastre. Segundo ele, aqueles cujas ações ou omissões foram responsáveis pelo rompimento das barragens devem ser responsabilizados.

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