Índia suspende emissão de vistos para canadenses em meio a crise diplomática

Países estão sob tensão desde que Trudeau acusou governo indiano de envolvimento em assassinato de líder sikh

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Nova Déli | Reuters e AFP

O governo da Índia suspendeu nesta quinta-feira (21) a emissão de vistos para cidadãos canadenses. A decisão escala a crise diplomática entre os países iniciada por acusações relacionadas ao assassinato de um ativista sikh, religião fundada pelo Guru Nanak no século 15, na cidade de Surrey, no Canadá.

O anúncio foi feito horas após o governo canadense anunciar uma redução temporária da delegação consular na Índia devido a ameaças. Em nota, a representação de Ottawa em solo indiano disse que adotou a medida para garantir a segurança dos funcionários no atual contexto de "tensões exacerbadas".

Membros da comunidade sikh protestam contra assassinato do líder Hardeep Singh Nijj em Peshawar, no Paquistão
Membros da comunidade sikh protestam contra assassinato do líder Hardeep Singh Nijj em Peshawar, no Paquistão - Fayaz Aziz - 20.set.23/Reuters

O Canadá não especificou quantos diplomatas serão impactados, mas disse que seus escritórios permanecerão operacionais. "Com alguns dos nossos diplomatas tendo recebido ameaças em várias plataformas de redes sociais, a Global Affairs Canada avalia [a continuidade do] seu pessoal na Índia", disse em comunicado a agência governamental que administra as relações consulares de Ottawa.

A crise explodiu no início da semana, quando o premiê canadense, Justin Trudeau, anunciou a expulsão de um agente de segurança indiano de seu país. A justificativa era de que a inteligência canadense suspeitava que o governo indiano estivesse envolvido na morte do ativista Hardeep Singh Nijjar em junho.

Nova Déli chamou as acusações de absurdas e, em represália, expulsou um diplomata canadense. Nesta quarta (20), o governo indiano ainda recomendou que seus cidadãos evitassem viagens ao Canadá.

"A situação de segurança devido à inação do governo canadiano resultou em perturbações e, assim, suspendemos os pedidos de visto", afirmou nesta quinta o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano, Arindam Bagchi. Ele disse que a medida se aplica a todas as categorias de vistos e não estabeleceu um prazo para a retomada da emissão do documento.

A BLS International, empresa indiana que atua com vistos, disse que a missão da Índia no Canadá divulgou um aviso mencionando razões operacionais para a suspensão dos serviços "até novo aviso".

Nijjar foi assassinado a tiros por dois homens encapuzados do lado de fora de um templo em Surrey. Ativista favorável à criação de um Estado sikh na região do Punjab, na Índia, ele era procurado pelas autoridades indianas por acusações de terrorismo e envolvimento em assassinatos.

Após a morte do ativista, dezenas de manifestações a favor dos direitos da comunidade sikh eclodiram no Canadá, na Índia e no Paquistão. Com a crise diplomática, Ottawa anunciou a suspensão das negociações para um acordo de livre-comércio com a Índia.

Até o momento, autoridades canadenses não informaram por que suspeitam que o governo indiano esteja conectado com o assassinato de Nijjar. Trudeau disse nesta quinta que o Canadá tem evidências que sustentam a acusação, mas não vai divulgá-las.

"Não há dúvida de que a Índia é um país de importância crescente e com o qual precisamos continuar a trabalhar. E não pretendemos provocar ou causar problemas", disse Trudeau numa conferência de imprensa em Nova Iorque em à margem da Assembleia-Geral da ONU. "Mas somos inequívocos quanto à importância do Estado de Direito e inequívocos quanto à importância de proteger os canadenses".

"É por isso que apelamos ao governo da Índia para trabalhar conosco para estabelecer processos para descobrir e revelar a verdade sobre o assunto", acrescentou o premiê canadense.

Já Nova Déli manifestou preocupação com a segurança de seus cidadãos em solo canadense devido à proliferação de "crimes de ódio" contra eles.

Em resposta, o ministro da Segurança Pública canadense, Dominic LeBlanc, disse que o Canadá é seguro. O país tem uma das maiores comunidades de origem indiana no exterior: são 1,4 milhão de pessoas, ou 3,5% dos 40 milhões que compõem a população canadense. Desde 2018, os indianos também são a nacionalidade mais comum entre estudantes estrangeiros, representando 40% dessa comunidade.

O Canadá abriga a maior quantidade de sikhs fora do estado indiano de Punjab —cerca de 770 mil pessoas declararam o sikhismo como sua religião no censo de 2021. Nova Déli há muito demonstra insatisfação com a atividade desses seguidores no país norte-americano e já urgiu o governo a agir contra eles em ocasiões anteriores —grupos extremistas sikh apoiam movimentos separatistas na Índia.

O Canadá afirmou que respeita o direito de todos os cidadãos à liberdade de expressão. Alguns analistas, porém, afirmam que Ottawa não abafa o movimento porque eles formariam um grupo político influente.

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