Presidente da Câmara dos EUA pede abertura de processo de impeachment de Biden

Pressionado por radicais republicanos, Kevin McCarthy muda de posição para evitar perder o posto

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Washington

Em meio a uma briga interna de seu partido, o líder da Câmara dos Estados Unidos, o republicano Kevin McCarthy, anunciou nesta terça-feira (12) que determinou a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Joe Biden.

A decisão ocorre após a ala mais radical da oposição ameaçar tirá-lo do posto. O grupo está insatisfeito com a postura de McCarthy nas negociações com os democratas para autorizar mais gastos federais e evitar uma paralisação do governo no final do mês por falta de dinheiro.

Assim, o líder republicano preferiu tentar agradá-los com a abertura da investigação sobre o presidente e sua família em vez de ceder aos pedidos de expressivos cortes de despesas desses deputados, que tornariam inviável um acordo com a Casa Branca.

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O presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, anuncia pedido de abertura de um processo de impeachment contra Biden em frente ao seu gabinete - Haiyun Jiang/The New York Times

McCarthy determinou que três comitês da Casa —Fiscalização, Judiciário e Meios e Recursos— conduzam a investigação.

A estratégia do líder republicano, porém, não é consenso no seu partido. Muitos republicanos temem que o processo possa acabar fortalecendo Biden politicamente em vez de enfraquecê-lo.

Por isso, deputados e senadores da oposição já indicaram que não apoiariam a abertura do processo a não ser que fossem constatadas evidências claras de envolvimento do presidente nas relações entre o filho de Biden, Hunter, e empresas estrangeiras. Após nove meses de investigação por um comitê na Câmara, no entanto, essas provas não foram encontradas.

McCarthy vinha sinalizando nas últimas semanas que apoiaria a medida para dar ao Congresso mais poder para investigar as finanças da família de Biden. A partir de agora, os republicanos poderão emitir mandados para obter extratos bancários e faturas de cartão, por exemplo, conforme o próprio republicano afirmou no mês passado.

A decisão representa uma mudança de estratégia do presidente da Câmara. Há apenas 11 dias, ele havia afirmado em entrevista ao conservador Breitbart News que um processo de impeachment seria aberto apenas por meio de votação no plenário, não por declaração de uma pessoa.

"Abrir um inquérito de impeachment é um assunto sério, e os republicanos da Câmara não o tratariam levianamente ou o utilizariam para fins políticos. O povo americano merece ser ouvido neste assunto por meio de seus representantes eleitos", disse na ocasião.

Ele culpou a democrata Nancy Pelosi pela mudança de posição, dizendo que ela abriu esse precedente. Em 2019 e 2021, a então presidente da Câmara abriu processos de impeachment contra Trump sem antes votar o movimento no plenário. Uma votação ocorreu em um segundo momento.

A decisão de não buscar uma votação foi um reconhecimento tácito de McCarthy de que ele não tem os votos necessários em meio às divisões da bancada do partido.

Falando rapidamente no Capitólio, o republicano disse que as alegações de abuso de poder, obstrução da Justiça e corrupção contra Biden demandam a continuidade das investigações pela Câmara.

As acusações às quais ele se refere tratam dos negócios de Hunter com empresas estrangeiras. Segundo o Wall Street Journal, o filho do presidente teria usado o pai para obter vantagens na compra de uma participação em fundo de private equity chinês e em consultorias com um magnata do setor imobiliário romeno. A Casa Branca afirma que Biden não tem nenhuma relação com as empresas do filho.

Em um comunicado publicado no X (ex-Twitter), Ian Sams, porta-voz do governo, repreendeu o presidente da Câmara por se envolver no que chamou de "política extrema no seu pior".

"Os republicanos da Câmara investigam o presidente há nove meses e não encontram evidências de irregularidades", escreveu Sams. "Os próprios membros do partido dizem isso. Ele prometeu realizar uma votação para abrir o impeachment e agora mudou de ideia porque não tem apoio."

O anúncio de McCarthy também não acalmou os críticos do Partido Republicano. O deputado Matt Gaetz, da Flórida, disse que se o líder estivesse "realmente interessado em responsabilizar a família Biden por seus crimes, não teríamos uma declaração apressada; teríamos uma estratégia de intimação que demonstrasse seriedade".

Nesta terça, Gaetz foi ao plenário para pedir a destituição de McCarthy sob a argumentação de que ele estaria descumprindo um acordo feito com a ala mais radical do partido para obter o cargo em janeiro. Ele pretendia avançar com esse plano se o líder apresentasse um projeto de lei para financiar temporariamente o governo e evitar uma paralisação.

Gaetz disse ainda que pretendia forçar votações para remover o presidente da Câmara, ameaçando tornar o procedimento parte da rotina de abertura do dia legislativo na Câmara: "a oração, o juramento e a moção de vacância".

Os democratas, por sua vez, se preparam para defender Biden. O deputado Jamie Raskin, de Maryland, por exemplo, reuniu-se com membros de seu comitê na noite de domingo (10) para planejar uma resposta. No dia seguinte, o partido divulgou um memorando de 14 páginas detalhando o que chamaram de "fracasso esmagador" da investigação republicana.

O documento aponta que o Comitê de Supervisão, liderado pelo deputado James Comer, republicano de Kentucky, recebeu mais de 12 mil páginas de registros bancários solicitados por intimação, revisou mais de 2.000 páginas de relatórios de atividades suspeitas e passou horas entrevistando testemunhas, incluindo dois ex-sócios comerciais de Hunter Biden, mas nenhum dos registros bancários divulgados até agora mostra qualquer pagamento ao presidente.

"Em vez de trabalhar em legislações que promovam o bem comum ou mantenham o governo funcionando", disse Raskin, "os republicanos da Câmara estão usando seus cargos como armas e explorando o poder e os recursos do Congresso para promover teorias da conspiração desacreditadas e absurdas sobre o presidente Biden."

Com The New York Times

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