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Suécia estuda enviar caças Gripen para a Ucrânia

Governo avalia impacto em sua defesa se doar modelos, de geração anterior à vendida ao Brasil

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São Paulo

Com a demora no envio por parte de países do Ocidente do caça norte-americano F-16 à Ucrânia em guerra com a Rússia, a Suécia avalia a doação de até 18 modelos Saab Gripen C/D de sua própria frota para Kiev.

A informação foi veiculada nesta terça (12) pela rádio pública sueca SR, citando informações anônimas do governo local. A Folha confirmou a intenção com uma pessoa com conhecimento do caso, em Estocolmo.

Dois Gripen C da Força Aérea da Suécia durante demonstração de interceptação em conjunto com a Otan
Dois Gripen C da Suécia durante demonstração de interceptação em conjunto com a Otan - Piroschka van de Wouw - 4.jul.2023/Reuters

O país nórdico, que espera a aprovação dos Parlamentos turco e húngaro para aderir à Otan [aliança militar ocidental] após 200 anos de neutralidade devido à Guerra da Ucrânia, vai avaliar o impacto que a perda dos aviões teria na capacidade defensiva sueca.

Hoje, o país tem 96 modelos C (um piloto) e D (dois pilotos), e já recebeu dois monopostos de nova geração E, que estão em teste. O Brasil já opera 6 modelos E dos 36 Gripen comprados em 2014 —8 deles bipostos F, desenhados em conjunto com a Embraer para fabricação na Suécia.

A avaliação levará em conta tanto a perda quanto a capacidade de a Saab de acelerar a entrega de novos caças para a Força Aérea. Isso, segundo pessoas com conhecimento do assunto, não afetará o cronograma de fornecimento para o Brasil, o maior contrato externo da empresa sueca.

Estocolmo previa comprar 60 Gripen E/F, mas a nova realidade geopolítica deverá fazer a encomenda crescer, o que é boa notícia para Saab em um ambiente em que o americano de nova geração F-35 tem ganho praticamente todas as concorrências e novos negócios na Europa.

A questão é que a frota nunca está 100% disponível. Se estiver 70%, índice considerado alto, são 67 aviões operacionais —retirar 18 deles parece bastante, segundo observadores militares. Isso tudo dificulta a viabilidade da ideia.

Em favor do arranjo para Kiev há o fato de que as Forças Aéreas dos quatro países nórdicos (Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca) estão em processo de unificação operacional, o que garante teoricamente uma força de quase 250 caças na região do mar Báltico —que, se a adesão sueca ocorrer, virará um "lago da Otan" após séculos de neutralidade devido ao poderio russo em sua margem direita.

O governo em Estocolmo havia oferecido em junho seu centro de treinamento para que pilotos de caça da Ucrânia, habituados a modelos soviéticos como o Su-27 e o MiG-29, conhecessem o Gripen. Mas não falou nada sobre fornecer os aviões.

Há aqui a questão do treinamento, visto como mais rápido e dinâmico do que nos modelos americanos como o F-16, objeto de desejo de Kiev. No programa com o Brasil, os pilotos da Força Aérea são capacitados a operar o Gripen C/D em 20 semanas (11 de treino básico de equipamento, 9 de sistemas de armas), pulando daí para as especificidades do E/F em simuladores de voo.

Esses quase cinco meses são algo a menos que os seis estimados para habilitar um piloto de F-16, embora a premência da guerra e a experiência prévia em combate dos militares ucranianos tendam a acelerar o processo.

Até aqui, Dinamarca e Holanda se prontificaram a fornecer até 61 F-16 de seu inventário para os ucranianos, e tiveram a autorização para tal do governo de Joe Biden, que passou o primeiro ano da guerra evitando isso para não provocar os russos. Os modelos, afinal, podem levar a guerra para território de Moscou, o que Kiev promete não fazer.

O cronograma para tal parceria, contudo, está atrasado, e os aviões dificilmente estarão operacionais antes de 2024, e certamente não participarão dos esforços até aqui sem resultado da contraofensiva de Kiev.

A questão dos caças é uma das mais delicadas da guerra, pelo tema da escalada e das necessidades ucranianas: segundo o site de monitoramento Oryx, Kiev, que tinha 124 aviões de combate antes da guerra, perdeu 71 até aqui. A Polônia e a Eslováquia foram as únicas nações da Otan a fornecer esse tipo de armamento à Ucrânia, em quantidades não conhecidas, porque tinham à disposição modelos MiG-29 soviéticos que rumavam à aposentadoria.

No começo da guerra, até esse envio específico havia sido vetado pelos EUA. Caminho semelhante foi trilhado por outras categorias de armas, como mísseis de longa distância, defesas antiaéreas e tanques de guerra pesados. Segundo a mídia americana, o próximo passo de Biden será autorizar mísseis com alcance de até 300 km, mas há temores justamente de melindrar excessivamente Moscou.

Depois do anúncio dos F-16, no primeiro semestre deste ano, outros países estudaram a ideia de ajudar Kiev com seus caças. A Austrália analisou o envio de até 41 americanos F-18 aposentados, mas isso esbarrou na complexidade do avião, que é um caça biturbina mais pesado, e a dificuldade no treinamento.

Na Otan, além da Suécia, a Hungria e a República Tcheca operam o Gripen C/D, a segunda geração do avião monomotor leve. Cada país tem apenas 14 aeronaves, mas um acerto de patrulhamento e defesa conjunta com outros países poderia deixá-las à disposição, se houvesse vontade política —os húngaros são especialmente refratários, dada a proximidade com Moscou.

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