Lula e Zelenski vão se reunir às margens de Assembleia-Geral da ONU

Conversa será nesta quarta (20), em Nova York, após atrito por desencontro na cúpula do G7 e por falas controversas do petista

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Nova York e Brasília

O presidente Lula (PT) se encontrará com seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelenski, nesta quarta-feira (20). A reunião ocorrerá por volta das 17h (horário de Brasília) no hotel em que o petista está hospedado.

Lula está em Nova York, nos Estados Unidos, por ocasião da abertura da Assembleia-Geral da ONU. O governo brasileiro havia oferecido duas opções de data para o ucraniano, que, nesta segunda-feira (18), confirmou sua participação.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, em reunião por videoconferência com seu homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelenski - @LulaOficial - 2.mar.23/Twitter/via Reuters

Pelo lado brasileiro, devem participar o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o assessor especial Celso Amorim e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

A confirmação se dá após um rumoroso desencontro entre os líderes durante a cúpula do G7 em Hiroshima, em maio, evento de que ambos participavam na condição de convidados. O governo brasileiro afirmou que havia oferecido três horários a Zelenski na ocasião, e que este "simplesmente não apareceu". Fontes do Planalto minimizaram a importância de Lula não ter se reunido com Zelenski à época.

Depois, em uma entrevista em Kiev à Folha e a outros veículos de imprensa da América Latina, o presidente ucraniano deu versão distinta, dizendo que a culpa pelo episódio não tinha sido de sua equipe. Durante a conversa, ele também alfinetou o petista pela falta de apoio para a criação de um tribunal especial internacional que julgue crimes de agressão na guerra e disse, de forma irônica, que o líder brasileiro quer ser "original" em suas propostas.

Desta vez, segundo membros do governo brasileiro, a ideia é ouvir o que o ucraniano tem a falar. O posicionamento parece reiterar o que Lula disse em julho. "Não quero me meter na questão da guerra da Ucrânia e da Rússia. A minha guerra é aqui, é contra a fome, contra a pobreza, contra o desemprego."

Em geral, as falas de Lula sobre a Guerra da Ucrânia colocaram em xeque a posição do Brasil em relação ao conflito. Embora o governo petista defenda uma posição de neutralidade —nesse sentido, reiterando o princípio defendido também pela gestão de Jair Bolsonaro (PL)—, algumas declarações do presidente foram vistas por Kiev e por seus aliados ocidentais, em especial os EUA, como um discurso mais alinhado a Vladimir Putin.

Lula já disse, por exemplo, que tanto Putin quanto Zelenski têm a mesma responsabilidade pelo conflito iniciado em 24 de fevereiro de 2022. Disse ainda que os EUA e a União Europeia estariam prolongando a guerra, em referência ao fornecimento de armas a Kiev.

Além do encontro com Zelenski, no mesmo dia, mais cedo, Lula terá uma reunião bilateral com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e com o presidente americano, Joe Biden.

Após a reunião, marcada para as 14h (horário de Brasília), Lula e Biden lançam um manifesto em prol do trabalho decente no século 21. Líderes sindicais brasileiros e americanos e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também vão participar do evento.

Os dois países têm negociado uma cooperação na área de trabalho há meses. Um memorando sobre o tema foi assinado em julho, de acordo com Marinho.

A ideia é que o texto que será apresentado pelos dois líderes na quarta defenda a representação trabalhista, reconhecendo que sindicatos há anos vêm perdendo força, e a proteção de direitos na nova dinâmica econômica. Um dos focos, por exemplo, deve ser os trabalhadores de aplicativo.

O lançamento do manifesto acontece em um momento em que os EUA testemunham uma onda de greves. Na última sexta, metalúrgicos americanos pela primeira vez cruzaram os braços contra as três grandes montadoras do país –Ford, GM e Stellantis– ao mesmo tempo.

Na manhã desta segunda, o petista se encontrou com o presidente da Suíça, Alain Berset. Foi a primeira agenda bilateral com um chefe de Estado às margens do evento da ONU. Segundo o Planalto, os dois discutiram o avanço de um acordo comercial com o Mercosul. O país não faz parte da União Europeia, mas integra a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.

Os dois também falaram sobre a agenda ambiental, uma prioridade da diplomacia brasileira. O governo Lula relatou que Berset elogiou a mudança da política nacional sobre o tema. O suíço disse que já morou em Olinda (Pernambuco) e que tem "grande simpatia" pelo Brasil.

Em seguida, Lula recebeu o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Atualmente, ele é enviado especial da ONU para educação. O tema da desigualdade é um dos principais que o brasileiro vem tratando, segundo o líder do governo no Senado, Jaques Wagner.

O presidente Lula durante encontro com o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown - Ricardo Stuckert/Presidência da República

Nesta terça, Lula tem quatro encontros bilaterais. Às 16h (horário de Brasília), ele tem uma reunião com o presidente da Áustria, Alexander van der Bellen. Em seguida, ele se encontra com o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, depois com o da Noruega, Jonas Gahr Store, e por fim com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.

Na quarta, além de Zelenski, ele se encontra no final da tarde com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, e com o presidente do Paraguai, Santiago Peña.

Exceto pelas agendas com Guterres e Biden, Lula realiza todos os encontros em seu hotel, o Lotte New York Palace. O presidente tem evitado se deslocar por estar sentindo dores. O Planalto marcou para o dia 29 de setembro uma cirurgia para o presidente colocar uma prótese no quadril.

Não há mais reuniões previstas nesta segunda em Nova York. Segundo a assessoria da Presidência, Lula deve passar o resto do dia concentrado nos ajustes finais do discurso que fará na abertura do debate de alto nível da ONU —o Brasil é tradicionalmente o primeiro país a falar, seguido dos Estados Unidos.

Nesta segunda, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, representou Lula na cúpula sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) —um conjunto de 17 metas globais que a Assembleia-Geral adotou em 2015 para serem cumpridas até 2030. Na semana passada, Lula publicou um decreto com a recriação da Comissão Nacional de ODS.

No discurso desta segunda, Macêdo anunciou que o Brasil voltou a integrar o grupo de países comprometidos com as 17 metas ambientais, sociais e econômicas. "Sabemos que na maioria dos países as metas dificilmente serão cumpridas se persistirem os atuais modelos de financiamento e os limitados fluxos de ajuda. Precisamos de financiamento adequado e de transferência de tecnologia", disse Macêdo.

Angariar recursos para bancar as iniciativas é uma das metas de Guterres no encontro da ONU neste ano. Para isso, debate-se uma reforma das instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, que financiam projetos em países em desenvolvimento.

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