Carta de Colombo sobre viagem ao 'Novo Mundo' é leiloada por quase R$ 20 milhões

Documento impresso em Roma, em 1493, percorreu toda a Europa, tornando-se verdadeiro fenômeno midiático da época

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A carta em que Colombo relata viagem ao "Novo Mundo" foi leiloada por € 3,71 milhões (cerca de R$ 19,8 milhões). O documento foi, à época, um fenômeno midiático, viajando Europa fora para dar conta dos feitos e descobertas extraordinários de um navegador e, ao mesmo tempo, para servir efeitos de propaganda imperial.

"De insulis nuper inventus" (das ilhas recém descobertas) é o título do documento impresso em Roma, em 1493. A tradução para latim da carta em que Cristovão Colombo prestava contas aos reis católicos da viagem que o levara até às "ilhas das Índias", a La Hispaniola e outras ilhas menores —onde hoje estão Haiti e República Dominicana.

Funcionários fazem guarda da cerimônia do Dia Nacional de Colombo, no Memorial de Cristóvão Colombo, na Union Station, em Washington - 9.out.23/AFP

Uma das raras cópias sobreviventes foi leiloada na última quinta-feira (19) pela Christie’s, em Nova York, e arrematada por € 3,71 milhões, a partir de uma base de licitação de € 1,5 milhões (R$ 8,4 milhões). Formado por quatro folhas impressas em frente e verso, o texto escrito em latim, tradução do original em castelhano, foi supostamente escrito por Cristovão Colombo no regresso da expedição de 1492, financiada pela coroa espanhola, e descreve a topografia das ilhas e os povos que as habitavam.

Endereçado a Gabriel Sánchez, tesoureiro de Fernando e Isabel, os reis católicos, o texto foi divulgado por todo o continente europeu como forma de legitimar a sua inclusão nos domínios do império espanhol e de afirmar o seu alcance e poder num período de concorrência expansionista com Portugal.


A difusão por todo o continente das páginas traduzidas do castelhano para o latim, por Leandro di Cosco, e impressas em Roma, por Stephen Planck, "no terceiro dia antes das calendas de maio de 1493", quatro décadas após o início do uso comercial da prensa móvel inventada por Gutenberg, "desencadeou um dos primeiros frenesis midiáticos da história, espalhando-se rapidamente por toda a Europa e mudando para sempre a percepção das pessoas sobre a dimensão, a forma e as possibilidades do seu mundo", diz o comunicado emitido pela Christie’s.

Na introdução da carta atribuída a Colombo, mas que especialistas acreditam ter sido, na verdade, elaborada por editores da corte real espanhola a partir de relatórios do navegador, ele é descrito como "um homem para com quem a nossa época tem uma grande dívida".

Dando conta de ter tomado posse de todas as ilhas "para suas altezas" –estas eram habitadas pelos Taíno, um povo agrícola que se distribuía por todas as ilhas caribenhas—, Colombo termina com o pedido de financiamento de uma futura expedição, prometendo, em troca de "uma pequena ajuda", quantidades imensas de ouro, especiarias ou algodão, bem como "tantos escravos para servirem de marinheiros quantos Suas Majestades quiserem exigir".

A população da ilha foi escravizada por Colombo em larga escala, quer enviada para Espanha naqueles tempos iniciais da máquina industrial escravagista, quer submetida a trabalhos forçados nas minas e nas plantações das suas terras colonizadas.

Estima-se que, dos cerca de 250 mil habitantes da ilha quando da chegada de Colombo, restassem, 60 anos depois, meras centenas.

O documento leiloado na quinta-feira encontrava-se há cerca de um século numa biblioteca privada na Suíça, um dos 16 exemplares que se sabe terem sobrevivido até hoje.

Antes do leilão, a Christie’s tomou precauções redobradas para assegurar a legitimidade da sua propriedade. Isto porque, dada a importância histórica, mas reduzida a dimensão física dos exemplares impressos, estes foram alvo de roubos ao longo dos anos. "Houve toda uma panóplia de pistas e linhas de investigação que seguimos, e nenhuma delas revelou nada de suspeito", assegurou ao New York Times Margaret Ford, diretora internacional de livros e manuscritos da Christie's.

Desde o início dos anos 1990, nota o diário americano, cinco destes documentos levados a leilão foram posteriormente identificados como alvos de furto e devolvidos a bibliotecas espanholas, italianas e do Vaticano, onde haviam sido deixadas cópias pelos assaltantes, como forma de ocultar os furtos.

Esse texto foi originalmente publicado aqui.

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