Macri tenta conter crise na oposição e diz que Milei é o 'único caminho' na Argentina

Ex-presidente defendeu união entre Patricia Bullrich e ultraliberal: 'É preciso mudar, e hoje quem lidera a mudança é ele'

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Buenos Aires

O ex-presidente Mauricio Macri, que comandou a Argentina de 2015 a 2019, quebrou o silêncio e tentou conter a crise que se instalou na sua coalizão de oposição Juntos pela Mudança, de direita e centro-direita, desde que o peronista Sergio Massa triunfou no primeiro turno sobre o ultraliberal Javier Milei.

"É preciso mudar, e hoje quem lidera a mudança é Milei. Temos que ter a humildade de reconhecer que as pessoas optaram por ele. Temos que apoiar sem [pedir] nada em troca", afirmou ele à rádio local Mitre nesta sexta (27). "O eixo da mudança é o mais importante. As diferenças já foram dadas, e se seguirá discutindo no Congresso", continuou.

Ex-presidente Mauricio Macri abraça a candidata Patricia Bullrich após derrota na Argentina no primeiro turno do último domingo (22) - Martin Cossarini/Reuters

Menos de 72 horas depois das eleições do último domingo (22), sua candidata Patricia Bullrich, que ficou em terceiro com 23,8% dos votos, disse que perdoava todas as ofensas feitas pelo libertário durante a campanha e afirmou que o apoiaria no segundo turno para derrotar o kirchnerismo. Uma avalanche de desenhos de um leão abraçando um pato então tomaram as redes sociais, em referência aos apelidos dos dois.

Mas ela selou o acordo após ter uma reunião em particular com Macri e Milei na noite anterior, sem combinar com os demais figurões da aliança, o que gerou um racha. Os radicais, tradicional força de centro-esquerda e esquerda ainda forte no país, convocaram uma entrevista coletiva, chamaram a decisão de "vergonhosa" e decidiram não endossar nenhum candidato, assim como outras lideranças.

Nas declarações desta sexta, então, Macri acusou o radicalismo de negociar às escondidas com Massa. "Eles tiveram reuniões constantes com Massa ao longo destes anos. Apoiaram todas as leis que Massa pediu, contrariando a decisão da maioria: aumento de impostos, novas aposentadorias sem contribuições", disse.

O ex-presidente justificou seu apoio a Milei, a quem já indicava aproximações mesmo antes das eleições primárias de agosto, dizendo que ele "é o único caminho que a Argentina tem hoje. Continuar com os mesmos é nos resignar à pobreza, ao que temos vivido". E continuou apontando contra o peronismo, que, tirando seu governo, lidera o país há 20 anos, apesar de estar em queda.

"Bullrich, com sua visão e realidade, confirmou algo que eu concordo: somos a mudança ou não somos nada. Acreditamos que continuar com essa cultura de poder obscura na Argentina nos levará a mais pobreza, exclusão e continuará fazendo com que nossos jovens vão embora", afirmou.

Diante das críticas, Macri também saiu em defesa da coalizão que ele ajudou a criar em 2015 como líder do seu partido PRO (Proposta Republicana). "[A aliança] Juntos pela Mudança não se desfez, pelo menos não a que eu fundei. É a mesma, com seus problemas, com seus conflitos internos. Segue estando aí e está diante de uma nova encruzilhada".

Massa aproveitou a discórdia e buscou tirar uma foto com governadores de 19 províncias nesta quinta (26). "Ele manifestou a vontade política de encerrar a divisão que nos separa, promovendo um governo federal de unidade nacional, convocando todos os argentinos", diz o texto divulgado pelo grupo.

Já Milei deu um forte giro em seu discurso desde que ficou atrás do ministro da Economia no primeiro turno. Ofereceu a Bullrich o Ministério da Segurança em um eventual governo e fez acenos até à esquerda, afirmando que incorporaria esse grupo caso vença no segundo turno, marcado para o dia 19 de novembro.

"Nós teremos o Ministério de Recursos Humanos. Em alguns aspectos das áreas que entram nesta pasta, as pessoas que mais sabem são de esquerda", disse o candidato em entrevista à rádio El Observador na segunda (23). "Se a pessoa que mais sabe sobre o assunto vai te oferecer uma solução, o que me importa o que ela pensa sobre a teoria do valor-trabalho?"

No mesmo dia, ele disse que "ficaria encantado" se Bullrich assumisse a pasta da Segurança. "Se ela quisesse se juntar, como eu não a incorporaria? Ela foi bem-sucedida na luta contra a insegurança", disse, referindo-se à gestão da ex-rival como ministra durante o mandato de Macri.

Analistas, no entanto, não veem como automática a transferência de votos da terceira colocada para um lado ou para outro e divergem quanto a quem sairá na frente nesta nova disputa —embora indiquem que o pêndulo está a favor de Massa.

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