Mapas mostram queda da popularidade do peronismo nas províncias argentinas

Para especialista, queda do movimento é multifatorial e engloba crise econômica e oposição que passa a ganhar força em 2015

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São Paulo

O peronismo vem desafiando as previsões mais pessimistas em relação a seu futuro ao longo deste ano de eleições na Argentina. A ameaça de uma derrota colossal nas votações para governador não se concretizou. Mais recentemente, o candidato kirchnerista, Sergio Massa, surpreendeu ao terminar o primeiro turno com quase sete pontos percentuais à frente de Javier Milei, até então o favorito.

O ultraliberal Javier Milei e peronista Sergio Massa discursam após eleições primárias na Argentina, em agosto
O ultraliberal Javier Milei e peronista Sergio Massa discursam após eleições primárias na Argentina, em agosto - Luis Robayo 29.set.2023/AFP

Apesar das vitórias pontuais, os resultados da votação não são de todo positivas para a maior força política argentina. Desde 2003, ano em que Néstor Kirchner se elegeu, este foi o pleito presidencial em que o peronismo conquistou menos províncias: 13.

Em 2015, quando a vitória do centro-direitista Mauricio Macri encerrou mais de uma década de governos kirchneristas, 15 províncias haviam votado no candidato da situação, Daniel Scioli, no segundo turno.

Vale notar que os resultados por província podem ser especialmente enganosos no caso argentino. Afinal, só a província de Buenos Aires, vencida por Massa, abriga quase 40% do total da população do país, segundo dados do Censo de 2010.

É significativo, porém, que o ultraliberal Javier Milei tenha vencido nas três outras províncias mais populosas do país sul-americano, Córdoba, Santa Fe e Mendoza —juntas, elas abrigam um quinto dos argentinos. Também a capital, que tem um governo autônomo, optou pelo antiperonismo de Patricia Bullrich, representante do macrismo na corrida que ficou fora do segundo turno.

Os números refletem o desgaste do peronismo no país nos últimos anos. Roberto Nolazco, analista-chefe para a Argentina na consultoria Prospectiva, diz que um dos motivos para esse desgaste foi a própria ascensão de Macri e sua coalizão de centro-direita, o que permitiu que a oposição enfim se organizasse e obtivesse recursos para concorrer.

Outra razão é a crise econômica. "A economia da Argentina vem enfrentando altos e baixos há muitos anos, não apenas durante esta gestão. Portanto, províncias historicamente governadas pelo peronismo estão testemunhando os líderes em exercício enfraquecidos", diz Nolazco.

O especialista dá como exemplo várias províncias que há 20 anos são comandadas por nomes associados ao movimento, como San Luis, San Juan e Chaco, que nestas eleições registraram mais votos para Milei. Em Neuquén, onde fica uma importante área de exploração de petróleo conhecida como Vaca Muerta, um candidato antiperonista venceu pela primeira vez desde 1983.

Por fim, Nolazco aponta que Milei, um ultraliberal que se diz contra a "casta política", tirou mais votos do peronismo do que do antiperonismo, fortalecendo a tendência de votos de protesto.

Colaborou Mayara Paixão

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