Descrição de chapéu BBC News Brasil

O bairro em Gaza que foi reduzido a escombros em uma única noite

Ao menos vinte e cinco edifícios residenciais foram demolidos em ataques aéreos de Israel

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Adnan Elbursh
Gaza | BBC News Mundo

Em um piscar de olhos, as construções de Al Zahra, no coração da Faixa de Gaza, passaram de um bairro residencial a uma pilha de escombros. Pelo menos vinte e cinco edifícios residenciais naquela cidade foram demolidos em ataques aéreos de Israel, visando um bairro que era bastante tranquilo e rico.

A ofensiva israelense ocorre em retaliação aos ataques do Hamas em 7 de outubro, quando 1,4 mil pessoas foram mortas por membros do grupo islâmico. Cerca de 6,4 mil pessoas foram mortas nos ataques em Israel.

Homem encima de bicicleta. Ele está no meio de escombros. Ao fundo, há um edifício todo destruído
Um homem é visto em frente a edifícios destruídos em ataques aéreos israelenses na cidade de al-Zahra, no centro da Faixa de Gaza - Yasser Qudih-20.out.23/Xinhua

Umm Salim al Saafin perdeu sua casa. Ela chorou muito ao contar que o exército israelense havia ordenado que os moradores do bairro esvaziassem suas casas às 20h30 do dia 19 de outubro.

Ela conta que, depois, a área foi bombardeada continuamente, das 21h às 7h de sexta-feira (20). Em seu prédio havia vinte apartamentos, cada um ocupado por uma família e nenhuma delas tinha para onde ir.

"Somos civis que vivem pacificamente em nossas casas. Por que estão nos bombardeando? O que fizemos?", disse Umm Mohammed, outra mulher que também perdeu sua casa.

O ataque a Al Zahra deixou cerca de 5 mil pessoas desabrigadas. Esse número se soma às centenas de milhares de residentes de Gaza que foram forçadas a deixar suas casas.

Ele diz que algumas famílias não saíram e ficaram soterradas sob os escombros, mas é dificílimo recuperar os corpos ou mesmo procurar sobreviventes porque as ambulâncias e outras equipes de emergência não conseguem acessar o local e carecem dos equipamentos necessários.

"Tudo o que tínhamos desapareceu", disseram à rede BBC moradores que retornaram para inspecionar a destruição de procurar pertences em meio aos escombros. Eles recolheram algumas roupas embrulhadas em lençóis e saíram com travesseiros, colchões e cobertores.

Mas a busca por pertences teve que ser interrompida. Enquanto a equipe da BBC ainda estava no bairro, um morador disse ter recebido um telefonema do Exército israelense ordenando que as pessoas saíssem: os militares iriam destruir uma das torres restantes.

Isso levou a que as pessoas saíssem de forma imediata da área.

A BBC pediu às Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) comentários sobre o que especificamente foi atacado em Al Zahra. A entidade afirmou que Israel está "respondendo com força para desmantelar as capacidades militares e administrativas do Hamas" em retaliação aos seus "ataques bárbaros".

"Em total contraste com os ataques intencionais do Hamas contra homens, mulheres e crianças israelenses, as IDF seguem o direito internacional e tomam as precauções viáveis para mitigar os danos civis."

Um 'refúgio' feito nos anos 90

A cidade de Al Zahra foi construída no final da década de 1990 em terrenos baldios. O ex-presidente palestino Yasser Arafat ordenou a sua construção para evitar a expansão do assentamento Nitzarim, que fazia fronteira com a cidade ao norte.

Os edifícios e ruas da cidade eram relativamente modernos, com cerca de sessenta torres residenciais que abrigavam até 10 mil pessoas. O local foi sede de instituições públicas, universidades e escolas.

Hamza, um morador de Al Zahra, conta que a cidade estava longe das recentes operações militares e não tinha sido alvo em guerras anteriores. Essa sensação de segurança tornou o local um refúgio para pessoas deslocadas de outras áreas.

Quando a guerra começou, os residentes de Al Zahra abriram as suas casas aos seus familiares, sendo comum que cada apartamento passasse a abrigar duas ou mais famílias.

Quando as torres foram destruídas, os moradores e seus parentes ficaram sem abrigo. Mesmo aqueles cujas casas não foram atacadas não podem regressar com medo de serem bombardeados a qualquer momento.

Hamza, que está hospedado com seus parentes, descreve a situação como uma "catástrofe humanitária".

"O aviso para sairmos veio 5 minutos antes do ataque", disse.


Este texto foi originalmente publicado aqui.

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