O que Putin quer na China

Edição da Newsletter China, terra do meio explica os planos russos em Pequim

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Igor Patrick
Washington

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Putin na China

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou a Pequim nesta terça-feira para participar do fórum da Iniciativa de Cinturão e Rota, que completa 10 anos em 2023.

  • É a segunda viagem de Putin desde o início da Guerra da Ucrânia e da emissão de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional contra ele;
  • A China não é signatária do Estatuto de Roma, que fundou o tribunal, portanto está desobrigada de cumprir a ordem.

Ele deve ratificar a entrada da Rússia em uma nova iniciativa de cooperação marítima a ser anunciada por Pequim na próxima quinta (19).

Vladimir Putin e Xi Jinping juntos na China. Ambos os homens usam um terno preto.
Vladimir Putin e Xi Jinping juntos na China - Sergei Savostyanov/Pool/AFP

Segundo o South China Morning Post, a diplomacia chinesa disse que o projeto vai "cobrir áreas que vão desde o uso sustentável dos recursos marinhos e conservação da biodiversidade até às alterações climáticas e colaboração tecnológica".

O líder russo afirmou que Moscou deseja vincular a Iniciativa de Cinturão e Rota aos seus próprios esforços de uma aliança econômica de nações da ex-União Soviética localizadas na Ásia Central para "alcançar objetivos comuns de desenvolvimento".

Putin também deve se encontrar com Xi Jinping para discutir o conflito na Ucrânia e a guerra em Israel. A Rússia tem relutado em apoiar o revide armado de Tel Aviv, já que o Hamas é apoiado pelo Irã, que também fornece armamento essencial a Moscou no conflito contra Kiev.

Além de Putin, o evento terá a participação de outros líderes como o premiê húngaro, Viktor Orban, e o presidente chileno, Gabriel Boric.

Por que importa: O encontro entre Xi e Putin deve ajudar Rússia e China a encontrarem um posicionamento comum acerca do conflito em Israel, sedimentando a "dobradinha" dos dois países no Conselho de Segurança da ONU, onde ambos têm cadeira permanente.


O que também importa

O Banco Popular da China renovou empréstimos de médio prazo para aumentar a liquidez do sistema bancário, mas manteve inalterada a taxa de juros. Com a decisão, o governo tenta apoiar uma economia debilitada e estabilizar o yuan, especialmente com o cenário de possíveis taxas de juros mais altas nos EUA. Governos locais como Liaoning e Chongqing estão emitindo bonds de refinanciamento para quitar dívidas, parte de um esforço maior de Pequim para mitigar riscos de dívida. Segundo a Reuters, estas emissões devem atingir 1 trilhão de yuans (cerca de R$ 690 bi) este ano.

As autoridades da Costa Rica disseram que vão "reavaliar" suas relações econômicas com a China. Eles citaram preocupações com a segurança cibernética de redes 5G. A ministra da Ciência, Tecnologia e Telecomunicações do país, Paula Bogantes Zamora, alertou que os chineses representam uma ameaça à segurança digital do território. Em resposta, a embaixada da China em San José publicou um comunicado em que classifica os comentários como "irresponsáveis e infundados".

Fique de olho

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou no sábado que Israel excedeu os limites da autodefesa em sua resposta ao ataque terrorista do Hamas. As declarações foram durante uma conversa telefônica com o chanceler saudita, Faisal bin Farhan Al Saud.

De acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, Wang destacou que a China está em "intensa comunicação" com todas as partes para alcançar um cessar-fogo e pôr fim aos combates. O ministro sublinhou que a prioridade imediata deve ser a segurança dos civis e a abertura de corredores humanitários para auxiliar a população de Gaza.

Por que importa: Como contei na minha coluna na Folha, a China tem um histórico longevo de relações com a Palestina desde a era Mao Tsé-tung. Porém, conforme se abria para o comércio e as relações com o mundo capitalista, Pequim se aproximou também de Israel.

  • O posicionamento neutro desde o início da guerra deu esperanças a oficiais palestinos de que a diplomacia chinesa talvez consiga atuar na mediação e desescalada das hostilidades;
  • O embaixador palestino em Pequim, Fariz Mehdawi, fez um apelo para que a China ajude a "pôr um fim" no conflito.

Para ir a fundo

  • A Aigo Livros, livraria localizada no Bom Retiro em São Paulo, realiza no próximo sábado (21) um evento com Verena Veludo e Rodrigo Bravo, que traduziram o livro "A torre erigida abaixo", do poeta suíço-chinês Yang Lian. Os dois vão falar do processo de tradução e de poesia chinesa. Mais informações aqui (gratuito, em português).
  • A Universidade Federal do ABC sedia na próxima semana o encontro anual da RBChina, a rede de sinólogos brasileiros. Entre os dias 24 e 26 de outubro, o evento vai oferecer dezenas de palestras, painéis e apresentações sobre a China. Inscrições e programação aqui (gratuito, em português).
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