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Oposição vence prefeitura da capital Bogotá, em derrota simbólica para Petro

Capital da Colômbia votou majoritariamente pelo esquerdista em 2022; agora, elegeu o opositor Carlos Fernando Galán

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São Paulo

Ainda que as eleições regionais na Colômbia, realizadas no decorrer deste domingo (29) para eleger prefeitos, governadores, deputados e vereadores, não fossem vistas como um real termômetro do governo de Gustavo Petro, uma região fugia à regra: Bogotá.

E, na capital, o petrismo assistiu a uma derrota simbólica. O candidato opositor Carlos Fernando Galán, do partido Novo Liberalismo, ganhou a prefeitura em primeiro turno, ao obter mais de 40% dos votos. É com o centro-direitista de 46 anos que a Casa de Nariño, sede da Presidência, terá de dialogar ao longo dos próximos quatro anos.

Carlos Fernando Galán, do Novo Liberalismo, distribui panfletos durante campanha política em Bogotá - Juan Barreto - 19.out.23/AFP

Petro, ele próprio, foi prefeito de Bogotá, eleito em 2011. E a capital votou majoritariamente pelo ex-guerrilheiro nas eleições presidenciais de 2022, concedendo-lhe mais de 58% dos votos na cidade, o que a desenhou como possível bastião do petrismo —agora, nem tanto.

Com mais de 99% das mesas de votação escrutinadas, Galán, filho de Luis Carlos Galán, proeminente político assassinado em agosto de 1989 pelo cartel de Pablo Escobar durante um comício perto de Bogotá, somava 49% dos votos. Com mais de 1,4 milhão de votos, ele também se tornou o candidato mais votado da história da capital colombiana.

Em segundo lugar, o também opositor Juan Daniel Oviedo (20%). E, finalmente em terceiro, o candidato do petrismo, o ex-senador Gustavo Bolívar, amigo pessoal de Gustavo Petro, com 18,7%.

Analistas ponderam que a insegurança, um problema crônico do país, que compartilha com o Brasil a Amazônia, dominou o pleito regional, em especial diante da consolidação de novos grupos armados, as chamadas "pandillas", e do alargamento do crime transnacional.

Na capital Bogotá, porém, outro contexto regional de peso era a mobilidade urbana, em especial o aguardado metrô. Petro esteve há poucos dias na China, onde reuniu-se com membros do regime de Xi Jinping e empresários —empresas chinesas venceram em 2019 uma ampla licitação para construir a malha no país sul-americano.

Galán e Bolívar, o candidato apoiado pelo presidente, defenderam diferenças técnicas na construção da rede. Petro tem barganhado alterações que permitam construir a rede de forma subterrânea, enquanto a oposição pleiteia que as obras sigam como estão.

Também foi esse um dos principais temas que desgastaram a relação de Petro com a atual prefeita de Bogotá, a progressista Claudia López. Ela apoiou Petro à Presidência, mas paulatinamente se distanciou do líder e passou a criticá-lo publicamente.

A tradução do movimento veio neste domingo, quando López celebrou a vitória de Galán assim que os resultados foram cravados.

No X, ex-Twitter, ela o parabenizou e disse: "Se eles queriam um plebiscito, este é um em alto e bom tom", em referência à uma suposta resposta das urnas em resposta ao governo nacional.

Para a analista Zulma González, da consultoria Prospectiva, Galán acumula uma trajetória de bom diálogo com os caciques políticos que lhe permitirá dialogar com Petro. "Ainda que, no que se refere a Bogotá, Petro não se mostre tão aberto a negociações, já que conta com a opinião pública local como algo muito importante."

Jornalista, Galán cursou sua trajetória acadêmica nos Estados Unidos e trabalhou como correspondente para a Revista Semana. Em 2019, ele também concorreu à liderança de Bogotá, mas ficou em segundo lugar, perdendo para Claudia López.

Outra questão que sai das urnas neste domingo, diz ela, é a dúvida sobre quem será o próximo líder do projeto político de Petro. "Gustavo Bolívar, de fato, não vai ser candidato do Pacto Histórico à Presidência nas próximas eleições. A interrogação é quem será o líder da esquerda."

Diferentemente do Brasil, a Colômbia proíbe reeleição de presidentes.

Após os resultados, e ao reconhecer a vitória de Galán, o candidato do petrismo, Gustavo Bolívar, disse que sentia que os resultados expressaram um "voto de castigo" para o Pacto Histórico, sua coalizão.

Ainda de acordo com a analista González, essas eleições regionais refletiram uma crise no sistema de partidos políticos colombianos. Levantamento da Prospectiva mostra que, de 2019 até este 2023, o número de siglas cresceu 87%. Hoje, a Colômbia tem 35 partidos políticos.

"Quase todos os novos partidos que nasceram são progressistas, estão à esquerda. Há, assim, uma fragmentação, que se deve sobretudo a uma falta de identidade ideológica dos grupos políticos."

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