Colômbia elege mais de 20 mil cargos com agenda tomada pela insegurança

Oposição tenta emplacar eleições regionais como termômetro para o governo de esquerda de Petro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

A Colômbia vai às urnas neste domingo (29) para eleger mais de 20 mil cargos, entre governadores, prefeitos, deputados e vereadores, sob a sombra de um aumento da insegurança que tem dominado as agendas de campanha, principalmente em grandes cidades como Bogotá, Cali e Medellín.

A oposição também tem emplacado as eleições regionais como um termômetro para o governo de Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda do país, que enfrenta uma série de crises em menos de um ano e meio de mandato. Especialistas ponderam, porém, que as disputas locais podem ter dinâmicas próprias.

Mulheres ao lado de propagandas eleitorais no município Istmina, no departamento de Chocó, para as eleições regionais deste domingo (29) na Colômbia - Daniel Munoz - 24.out.2023/AFP

Na capital, por exemplo, o metrô é um dos pontos de discórdia: o favorito é o liberal Carlos Fernando Galán, que quer seguir com a construção de um transporte elevado, diferente do planejado por Petro quando ele ainda era prefeito. O candidato governista, Gustavo Bolívar, por sua vez, quer manter o plano antigo e subterrâneo.

Os dois concorrem ainda com o independente Juan Daniel Oviedo, que se apresenta como acadêmico e técnico apesar de já ter atuado como assessor de uma senadora uribista, ou seja, conservadora. Bogotá é a única cidade onde pode haver segundo turno, caso o candidato não atinja 40% dos votos e mais dez pontos de diferença.

A Medellín do pintor Fernando Botero, morto no mês passado, é outra que pode tomar ares de contenda nacional. A volta do ex-prefeito direitista Federico Gutiérrez, que disputou a Presidência com Petro em 2022, é dada praticamente como certa pelas pesquisas. Ele enfrenta o governista Juan Carlos Upegui, que amarga grande distância.

"Mas são eleições com lógicas diferentes, mesmo que em alguns casos possa haver tensões relacionadas ao governo nacional. A coalizão de Petro, o Pacto Histórico, por exemplo, não tem uma presença forte em muitos municípios", diz o cientista político Andrés Lodoño Niño, professor da Escola Superior de Administração Pública e da Universidade Nacional da Colômbia.

A insegurança, porém, é um tema que une muitas delas. A parcela dos colombianos que dizem se sentir inseguros saltou de 44% para 53% entre 2021 e 2022, segundo a última pesquisa do Departamento Administrativo Nacional de Estadística (Dane).

Os furtos cresceram 23% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado, apontam dados da Polícia Nacional, apesar de a taxa de homicídios se manter mais ou menos estável nos últimos anos —por volta de 26 casos por 100 mil habitantes, mais alta que a do Brasil (19,5).

Isso fez os candidatos locais focarem grande parte de suas campanhas no tema, propondo câmeras nas ruas, aumentar o efetivo policial e, em alguns locais, até prometer "megaprisões" ao estilo do presidente salvadorenho Nayib Bukele. Foi o caso de Diego Molano em Bogotá e Jaime Arizabaleta em Cali, que depois desistiu de competir.

O aumento de ameaças e episódios de violência contra políticos e jornalistas também preocupa. A Missão de Observação Eleitoral contabilizou 179 casos contra candidatos no ano eleitoral até setembro, uma alta de 38% em relação a 2019. Já a Flip (Fundação para a Liberdade de Imprensa) registrou 41 ataques só na reta final, num período de um mês e meio.

Petro é criticado pela piora do panorama, apesar de seus esforços para negociar a paz com grupos como os dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Também vê sua popularidade cair ao ver as grandes reformas que prometeu nos sistemas de saúde, trabalho, Previdência e Justiça travadas sem apoio no Congresso.

Além disso, testemunhou seu filho mais velho, Nicolás Petro, ser preso e confessar que recebeu dinheiro de um traficante de drogas para sua campanha à Presidência. Enfrentou ainda um escândalo envolvendo sua ex-chefe de gabinete e seu ex-chefe de campanha, com áudios vazados e novas acusações de financiamento ilegal de campanha.

Outra questão que rodeia as eleições regionais deste domingo são os conhecidos clãs familiares. "Nas eleições regionais, em geral, os partidos tradicionais como o Conservador, o Liberal e o Cambio Radical têm muita força nos territórios. Isso faz com que famílias políticas continuem tendo um poder importante", diz o pesquisador Lodoño.

Um exemplo é Baranquilla, cidade de origem da cantora Shakira, onde reina a família Char. Apesar de responder a processos de corrupção, com um irmão preso e vários outros parentes acusados, o prefeito Alex Char tem mais de 80% das intenções de voto segundo pesquisas e deve se reeleger.

No total, os 39 milhões de eleitores colombianos escolherão 32 governadores, 418 deputados estaduais, 1.102 prefeitos, 12.072 vereadores e mais 6.513 membros das Juntas Administrativas Locais, de participação cidadã, que governarão de 2024 a 2027. As urnas abrem das 8h às 16h do horário local (10h às 18h em Brasília) e a contagem dos votos pode durar até a meia-noite.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.