Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Pedir cessar-fogo é demandar a rendição de Israel, diz Netanyahu

EUA e Reino Unido falam de 'pausas humanitárias', mas defendem ações de Tel Aviv e evitam mencionar fim de hostilidades

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Boa Vista

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse nesta segunda-feira (30) que pedir um cessar-fogo entre Israel e Hamas é o mesmo que demandar que o país se renda ao grupo terrorista.

"Israel não concordará com a cessação das hostilidades após os horríveis ataques de 7 de outubro", afirmou Netanyahu. "Os apelos por um cessar-fogo são um apelo a Israel para que se renda ao Hamas, que se renda ao terror, que se renda à barbárie. Isso não vai acontecer."

Premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante entrevista coletiva em base militar em Tel Aviv
Premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, durante entrevista coletiva em base militar em Tel Aviv - Abir Sultan - 28.out.23/AFP

O premiê fez ainda uma comparação entre dois momentos históricos e disse que ninguém faria um pedido semelhante aos Estados Unidos depois do ataque japonês a Pearl Harbor, durante a Segunda Guerra Mundial, que deixou cerca de 2.400 mortos —a maioria militares— e impulsionou a entrada efetiva de Washington no conflito.

Segundo Netanyahu, é preciso fazer uma "distinção moral entre o assassinato deliberado de inocentes e o tipo de vítimas não intencionais que acompanham todas as guerras legítimas".

Israel tem sido criticado por punir de maneira coletiva e indiscriminada os civis de Gaza. Desde o início da guerra, mais de 8.300 palestinos morreram no território palestino; do lado israelense, foram 1.400 óbitos.

Nesta segunda, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do país, John Kirby, de certa forma endossou o posicionamento de Netanyahu ao afirmar que os Estados Unidos não avaliam que um cessar-fogo "seja a resposta correta neste momento". "Nós acreditamos que um cessar-fogo agora beneficia o Hamas, e apenas o Hamas ganharia com isso agora", disse.

Maior aliada de Israel, Washington vem ressaltando o direito de Tel Aviv de se defender e de reagir aos atentados de que foi alvo em 7 de outubro. A ausência de menção à autodefesa, por exemplo, foi a justificativa para o veto americano à proposta de resolução do Brasil no Conselho de Segurança da ONU.

Na última sexta-feira (27), a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução com pedido de trégua humanitária imediata. Capitaneado pela Jordânia, em conjunto com países árabes e islâmicos, o documento tem caráter apenas recomendatório. O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, chamou a resolução de "ridícula" e o pedido de trégua imediata, de "audácia".

Apesar de contrário ao fim das hostilidades, Kirby afirmou que o governo americano é a favor do que chamou de "pausas humanitárias temporárias e localizadas", cujos objetivos seriam permitir a chegada de ajuda humanitária e auxiliar a retirada de pessoas que "desejam sair e se deslocar mais para o sul".

Os mesmos termos são usados pelo governo do Reino Unido, que, também nesta segunda, demitiu o parlamentar conservador Paul Bristow do cargo de assessor do Departamento de Ciências, Inovação e Tecnologia do país após ele enviar carta ao premiê, Rishi Sunak, pedindo que o líder apoiasse um cessar-fogo permanente entre Israel e Hamas.

Na semana passada, Sunak falou da necessidade de pausas no confronto na Faixa de Gaza para que a entrada de ajuda humanitária fosse possível, mas evitou falar em cessar-fogo.

Em comentário nas redes sociais, Bristow expôs sua posição. "Palestinos comuns não são o Hamas. Não consigo ver como Israel fica mais seguro após a morte de milhares de palestinos inocentes. Eles não devem sofrer punição coletiva pelos crimes do Hamas", escreveu.

De acordo com o governo, Bristow foi demitido porque os comentários feitos por ele "não eram consistentes com os princípios de responsabilidade coletiva".

A continuação do conflito, além do cerco e da iminente invasão em larga escala da Faixa de Gaza por Israel e do aumento da violência na Cisjordânia ocupada, elevam a fervura na região e ameaçam transbordar as hostilidades para outros países.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou nesta segunda, que faz o possível para evitar que seu país entre na guerra entre Israel e Hamas e impedir que o conflito se espalhe na região.

"Estou cumprindo com meu dever para evitar que o Líbano entre na guerra", disse o premiê, sem, no entanto, "descartar uma escalada". "O Líbano está no olho do furacão", acrescentou.

O país é vizinho de Israel ao norte e, desde o início da guerra, a zona de fronteira tem visto escaramuças e ataques regulares entre o Exército de Israel e o grupo islâmico radical Hezbollah, que é apoiado pelo Irã e, poderoso politicamente, controla parte do país.

Mikati disse que não estava em condições de afirmar se o Hezbollah pretende se envolver de fato no conflito. "Tudo está relacionado à evolução [da guerra] na região", disse, avaliando que, na falta de um cessar-fogo entre Israel e Hamas, os riscos de uma "escalada regional" são grandes.

"Até o momento, vejo que o Hezbollah age com sensatez e lucidez", disse Mikati, ressaltando, contudo, não poder "tranquilizar os libaneses".

Com AFP

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