União Europeia desiste de suspender ajuda à Palestina após ataques do Hamas

Comissão Europeia contradiz autoridade que havia informado fim dos pagamentos para o desenvolvimento do território

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Bruxelas | AFP e Reuters

A União Europeia voltou atrás e afirma agora que não vai mais suspender ajuda financeira à Palestina, poucas horas após o comissário para Vizinhança e Expansão do bloco, Oliver Varhelyi, dizer que a UE decidiu parar imediatamente os auxílios em decorrência dos ataques do Hamas a Israel, iniciados no sábado (7).

"Não haverá suspensões de pagamentos porque não há pagamentos previstos", afirmou a Comissão Europeia, que funciona como o Executivo do bloco, ressaltando, por outro lado, que faria uma revisão dos projetos de assistência à Palestina —algo informado por Varhelyi mais cedo.

O comissário havia dito mais cedo que as propostas orçamentárias seriam adiadas. "Todos os projetos foram colocados em revisão. Todas as propostas orçamentárias, inclusive para 2023, estão adiadas até novo aviso. Avaliação integral de todo o portfólio", escreveu Varhelyi na plataforma X (ex-Twitter).

Bombeiro apaga incêndios na cidade de Ashkelon, em Israel
Bombeiro apaga incêndios na cidade de Ashkelon, em Israel - Amir Cohen - 7.out.23/Reuters

Segundo Varhelyi afirmou mais cedo, os atentados contra civis representariam um "ponto de virada". Ele disse que a União Europeia é a maior doadora dos palestinos, e que a soma dos valores congelados é de € 691 milhões (R$ 3,8 bilhões). "Não pode haver negócios como de costume", afirmou.

Os programas de ajuda da UE aos palestinos se concentram em projetos de educação e saúde. Estima-se que, de 2021 a 2024, o bloco tenha enviado cerca de € 1,2 bilhão (R$ 6,6 bilhões) para o desenvolvimento da Palestina.

A fala do comissário foi recebida com surpresa. Autoridades haviam dito mais cedo que a ajuda aos palestinos seria discutida em uma reunião de emergência dos ministros das Relações Exteriores da União Europeia na terça-feira (10).

Espanha, Portugal, Luxemburgo e Irlanda manifestaram publicamente preocupação com a afirmação de Varhelyi, enquanto outros países o fizeram nos bastidores, disseram diplomatas.

"Nossa compreensão é de que não há base legal para uma decisão unilateral desse tipo por somente um comissário e não apoiamos a suspensão da ajuda", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Irlanda.

O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, adicionou mais confusão à situação ao dizer que o bloco não suspenderia "pagamentos devidos" —logo após a Comissão ter dito que nenhum pagamento estava previsto.

O braço Executivo da União Europeia não explicou as divergências de comunicados, mas esclareceu que a ajuda humanitária, que é separada dos fundos para o desenvolvimento, continuaria. A revisão dos auxílios para o desenvolvimento estavam sendo revisados, segundo a comissão, para "garantir que nenhum financiamento da UE permita indiretamente que qualquer organização terrorista realize ataques contra Israel".

No terceiro dia de conflitos intensos, Israel anunciou nesta segunda um cerco total à Faixa de Gaza e disse ter retomado o controle de comunidades no sul do país que haviam sido invadidas por militantes do Hamas, grupo extremista islâmico, no último sábado.

As Forças Armadas israelenses realizaram mais de 500 ataques aéreos e de artilharia durante a noite, em uma mostra do violento conflito que deve se estender pelos próximos dias. Desde sábado, mais de 1.500 pessoas morreram —800 em solo israelita e mais de 687 na Faixa de Gaza. Havia ainda cerca de 130 pessoas capturadas por combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, entre militares e civis.

Os atentados começaram no sábado, quando o Hamas disparou milhares de foguetes contra Israel. Em ação conjunta e sem precedentes, extremistas se infiltraram no território israelense por terra, mar e ar. O premiê Binyamin Netanyahu declarou guerra e disse que a facção radical pagará "um preço sem precedentes". Logo depois, Tel Aviv iniciou bombardeios aéreos contra o território palestino.

Israel convocou um número recorde de 300 mil reservistas, disse um porta-voz militar nesta segunda. O número sugere preparativos para uma possível invasão, embora tais planos não tenham sido oficialmente confirmados. "Nunca recrutamos tantos reservistas em tal escala", disse o contra-almirante Daniel Hagari. "Vamos para a ofensiva."

A UE convocou os ministros das Relações Exteriores do bloco para uma reunião de emergência nesta terça (10), na qual discutirão os conflitos em Israel e na Faixa Gaza. No sábado, o bloco condenou "inequivocamente" os ataques do Hamas contra o território israelense.

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