Descrição de chapéu China

Como China e Austrália se aproximam após rusgas e ameaças

Edição da newsletter China, terra do meio mostra evolução da aliança após eleição do premiê australiano, Anthony Albanese

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo.

China e Austrália concordaram em fortalecer seus laços comerciais após a ida do premiê Anthony Albanese a Pequim. Depois de vários anos marcados por tensões, os dois países emitiram uma declaração conjunta comprometendo-se a resolver suas diferenças e a aprimorar a cooperação em áreas de interesse mútuo, como mudanças climáticas, saúde e segurança regional.

Foi a primeira visita de um premiê da Austrália à China em sete anos.

O premiê da Austrália, Anthony Albanese, é recebido pelo premiê chinês, Li Qiang, em uma cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo, em Pequim - Liu Bin/Xinhua

Eleito no ano passado, Albanese se distanciou da retórica confrontativa do seu antecessor, Scott Morrison, que irritou Pequim ao denunciar supostas interferências chinesas na política australiana. Ele chegou a pedir investigações independentes sobre as origens da Covid e se aproximou militarmente dos EUA e do Reino Unido.

  • A China respondeu às ações de Morrison impondo tarifas e barreiras comerciais aos exportadores australianos de produtos como vinho, carne bovina, cevada, lagosta e carvão;
  • Especialistas estimaram que, no auge, as restrições causaram prejuízos na casa dos US$ 13 bilhões (cerca de US$63 bi) anualmente.

O tom do encontro entre Albanese e Xi Jinping dessa vez foi bem mais ameno. O líder chinês disse ao australiano que os dois países não tinham "rancores ou disputas históricas e nenhum conflito fundamental de interesses" e fez votos de um novo capítulo nas relações pautado em "confiança e sucesso mútuo". Ele chegou a brincar com Albanese, chamando os demônios da Tasmânia, animal endêmico da Austrália, de "fofos".

A China também expressou interesse em aderir ao Parceria Transpacífico, um acordo de livre comércio que engloba a Austrália e outros países do Pacífico. Ele foi inicialmente promovido pelo governo Barack Obama para isolar Pequim. Donald Trump, porém, deixou a aliança tão logo chegou à Casa Branca em 2017.

Por que importa: no sistema chinês, decisões da liderança são rapidamente adotados por todo o aparato estatal. Dessa forma, a sinalização de Xi em prol da normalização das relações sino-australianas representa um passo significativo para atenuar tensões entre os dois países.

A aproximação evoluiu após a eleição de Albanese. Desde então, houve encontro dos ministros das Relações Rxteriores dos dois países, a China libertou uma jornalista sino-australiana presa desde 2020 sob acusações de espionagem e a Austrália concordou em retirar queixas contra Pequim à Organização Mundial do Comércio.

Pare para ver

Ilustração da artista australiana Gwendoline Krumins, que em 2017 lançou uma coleção de  telas retratando a imigração e a vida de chineses no país da Oceania
Divulgação

A autora: Ilustração da artista australiana Gwendoline Krumins, que em 2017 lançou uma coleção de telas retratando a imigração e a vida de chineses no país da Oceania. Você pode ler mais sobre ela aqui (em inglês).


O que também importa

Autoridades da província de Guangdong, no sul da China, reprimiram clubes de simulação da ONU nas escolas locais. Esses grupos simulam debates diplomáticos e são populares entre os estudantes que pensam em estudar no exterior. Segundo a Radio Free Asia, autoridades da cidade de Foshan acusaram um clube de disseminar ideias "separatistas" e "subversivas", após organizadores proporem discussões sobre "autonomia e constituições provinciais". Ao menos um membro foi preso.

Um ex-coronel da Força Aérea de Taiwan foi condenado a 20 anos de prisão por administrar uma rede de espionagem militar para a China. A Justiça taiwanesa entendeu que Liu Sheng-shu recrutou oficiais da ativa para transmitir segredos militares a Pequim. Segundo a investigação, Li foi recrutado pela inteligência chinesa durante uma viagem de negócios em 2013 e recebeu milhares de dólares pelo serviço, que foram pagos a empresas de fachada. A Justiça condenou outros cinco oficiais a penas de 6 meses a 20 anos por envolvimento no caso.

Um comitê disciplinar do Partido Comunista anunciou uma investigação contra Zhang Hongli, ex-vice-diretor do Banco Industrial e Comercial da China (ICBC). Segundo o órgão, Zhang é suspeito de cometer "sérias violações disciplinares e legais", uma expressão oficial para suposta corrupção. Antes de trabalhar no ICBC, o executivo esteve no Deutsche Bank, onde foi acusado de ter transferido cerca de US$ 3,9 milhões (R$ 19 milhões) para uma empresa offshore.


Fique de olho

Delegações dos EUA e da China realizaram na segunda-feira (6) a primeira negociação para o controle de armas nucleares desde o governo de Barack Obama.

O porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, disse que o diálogo entre os dois lados sobre a questão se somam a "esforços para gerir o relacionamento [sino-americano] de forma responsável e garantir que a concorrência entre os dois países não se transforme em conflito."

Outros detalhes sobre a pauta do encontro não foram divulgados.

Mísseis DF-5B da China durante parada militar em Pequim, realizada em 2019 - Liu Bin/Xinhua

Por que importa: embora um avanço real em direção a um acordo de não proliferação nuclear sino-americano não seja esperado, só a participação chinesa em tratativas do tema já é uma surpresa. Pequim se recusa há anos a conversar com Washington sobre o assunto, usualmente destacando que o armamento dos Estados Unidos é dezenas de vezes maior que o chinês.

O encontro pode ser visto como um sinal de boa-vontade da China às vésperas da potencial visita de Xi Jinping à conferência da Assembléia de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em San Francisco, na semana que vem.


Para ir a fundo

  • A UFRJ realiza no dia 21 de novembro um minicurso virtual sobre a estratégia energética dos países do Brics. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas aqui. (gratuito, em português).
  • A editora Zouk colocou em pré-venda o livro "Diplomacia cultural chinesa" de Paulo Menechelli. A obra é uma adaptação da pesquisa de doutorado do pesquisador, considerado uma das principais referências brasileiras sobre as estratégias chinesas de soft power no cinema. (pago, em português).
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.