EUA acusam agente do governo da Índia de tramar assassinato de sikh

Governo Modi é suspeito de envolvimento em segundo caso contra ativista de minoria religiosa

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Boa Vista

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirmou nesta quarta-feira (29) que um funcionário do governo indiano foi responsável por orquestrar um plano malsucedido para assassinar um separatista sikh (uma minoria religiosa da Índia), cidadão dos EUA, em solo americano.

Promotores federais em Manhattan acusam Nikhil Gupta, 52, de ser a pessoa designada para matar o alvo. Gupta enfrenta duas acusações: assassinato por encomenda e conspiração para cometer assassinato por encomenda, com pena máxima de 20 anos, se condenado.

Ele teria trabalhado em conjunto com o funcionário do governo indiano, que não teve o nome revelado e seria responsável pela segurança e inteligência da trama para matar o ativista. Segundo autoridades americanas, o alvo seria Gurpatwant Singh Pannun, que também tem cidadania canadense.

Manifestantes da minoria religiosa sikh protestam em frente ao consulado indiano em Vancouver após acusações de que Nova Déli estaria envolvida em morte de ativista
Manifestantes da minoria religiosa sikh protestam em frente ao consulado indiano em Vancouver após acusações de que Nova Déli estaria envolvida em morte de ativista - Jennifer Gauthier - 25.set.23/Reuters

Gupta foi preso pelas autoridades tchecas em junho e aguarda extradição. Ele não pôde ser contatado para comentar. "O réu conspirou, da Índia, para assassinar, bem aqui na cidade de Nova York, um cidadão dos EUA de origem indiana que publicamente defendeu o estabelecimento de um Estado soberano para os sikhs", afirmou Damian Williams, promotor federal em Manhattan, em comunicado.

A acusação emerge uma semana depois de um alto funcionário de Washington dizer que as autoridades americanas haviam frustrado uma trama para matar um separatista sikh nos Estados Unidos. A Índia teria sido alertada sobre preocupações de que o governo de Narendra Modi estivesse envolvido.

De acordo com um funcionário do governo americano, o presidente dos EUA, Joe Biden, instruiu o diretor da CIA (agência de inteligência americana), Bill Burns, a entrar em contato com seu homólogo indiano e depois viajar para a Índia para informar Nova Déli de que Washington não tolerará atividades do tipo e espera que os envolvidos sejam "totalmente responsabilizados".

A embaixada da Índia na capital americana e o Ministério das Relações Exteriores do país não responderam a pedidos de comentário. Mais cedo nesta quarta, Nova Déli disse que abriria investigações sobre as preocupações levantadas pelos Estados Unidos.

"A Índia leva essas informações a sério, pois elas afetam nossos interesses de segurança nacional", afirmou a chancelaria indiana, prometendo "tomar as medidas necessárias de acompanhamento".

Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse que, depois que o réu "indicou de forma crível" que foi orientado por um funcionário de Nova Déli, "levamos essas informações muito a sério e iniciamos conversas diretas com o governo indiano nos mais altos níveis para expressar nossa preocupação".

"O governo da Índia foi claro conosco de que estava levando isso a sério e investigaria", afirmou Watson. "Continuaremos a esperar responsabilidade do governo da Índia com base nos resultados de suas investigações."

Os EUA começaram a expressar suas preocupações ao governo Modi já em abril, disse à Reuters um funcionário indiano que tem conhecimento do assunto, mas não está autorizado a falar com a imprensa.

Segundo ele, a questão também foi discutida no dia 10 de novembro, quando o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, encontraram-se com seus colegas indianos em Nova Déli.

O caso incomoda a aproximação recente entre os dois países. Em meio à Guerra Fria 2.0 com a China, Washington tem cortejado o governo indiano com parcerias e vendas de produtos militares para fazer frente à expansão de Pequim na Ásia. Em junho, Biden recebeu Modi para um jantar na Casa Branca, deferência poucas vezes recebidas por líderes indianos em visitas aos EUA.

A notícia do incidente vem à tona poucos meses depois que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou ter "acusações verossímeis" ligando agentes indianos ao assassinato, em junho, de Hardeep Singh Nijjar, um líder separatista sikh, cidadão canadense, em um subúrbio de Vancouver.

O governo da Índia rejeitou acusações de que estaria envolvido na morte de Nijjar, e o caso empurrou os dois países para uma crise diplomática que incluiu expulsão de diplomata de Nova Déli do Canadá e a retirada de funcionários consulares canadenses da Índia.

Segundo os promotores dos EUA, o funcionário indiano recrutou Gupta em maio de 2023 para orquestrar o assassinato. Gupta havia dito anteriormente a esse funcionário que ele tinha se envolvido com tráfico de drogas e armas, de acordo com a Promotoria.

Gupta, então, entrou em contato com alguém que ele acreditava ser um criminoso para obter ajuda na contratação de um matador de aluguel, mas essa pessoa era, na realidade, um agente disfarçado da DEA, o órgão de combate às drogas dos EUA.

No dia seguinte à morte de Nijjar no Canadá, Gupta escreveu para o agente disfarçado dizendo que o ativista sikh canadense "também era alvo" e "temos tantos alvos", ainda segundo os promotores.

Os sikhs são uma minoria religiosa da região do Punjab, no noroeste da Índia, e parte pequena deles, principalmente integrantes da diáspora, defende a criação de um Estado independente sikh chamado de Calistão.

O movimento é considerado uma ameaça à segurança nacional pela Índia, que o trata como terrorista, embora a causa tenha sido reprimida na década de 1990 e tenha hoje pouco apoio dentro do país.

Com Reuters e The New York Times

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