Finlândia acusa Rússia de usar refugiados como arma e limita fronteiras

Crise é a maior entre os países desde que Helsinque aderiu à Otan; Estônia também se queixa

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São Paulo

A Finlândia fechou 3 dos 4 postos de fronteira que ainda mantinha abertos com a Rússia, alegando que Moscou promove uma operação para inundar seu território com refugiados de países em guerra para causar desestabilização social.

O Kremlin nega a acusação e diz que ela faz parte de campanha contra o país de Vladimir Putin, em crise aguda com o Ocidente desde que invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, a Rússia irá retaliar o fechamento dos postos, previsto para a sexta (24). Ele não disse como.

Imigrantes são observados por guardas de fronteira da Finlândia no posto de Salla, junto à Rússia
Imigrantes são observados por guardas de fronteira da Finlândia no posto de Salla, junto à Rússia - Jussi Nukari/AFP

O conflito ucraniano levou a Finlândia a abandonar sete décadas de delicada neutralidade e aderir à Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, em abril. O pedido havia sido feito em conjunto com sua vizinha Suécia em 2022, mas Turquia e Hungria ainda barram a pretensão de Estocolmo.

O premiê finlandês, Petteri Orpo, disse nesta quarta (22) ter provas de que os serviços de segurança russa estão direcionando imigrantes de países como Síria, Iêmen e Somália para suas fronteiras. Somente neste mês, 600 pessoas sem documentos válidos da União Europeia, bloco integrado pela Finlândia, tentaram entrar no país via Rússia.

Antes, Helsinque havia fechado quatro postos mais ao sul do país, que margeia a Rússia por 1.340 km. O tempo está inclemente na região norte: a Lapônia, onde fica o posto de Salla, registrou temperatura de -12°C nesta quarta, com neve.

O governo da Estônia fez acusação semelhante também nesta quarta, dizendo que 75 pessoas foram devolvidas à Rússia no posto fronteiriço de Narva desde a quinta-feira da semana passada. Os russos também negaram.

Narva é um ponto tenso entre os países desde que os estonianos, juntamente com lituanos e letões, buscaram se livrar do jugo soviético entre 1990 e 1991, após 47 anos de domínio por Moscou. A entrada dos Estados Bálticos na Otan e na União Europeia, em 2004, é vista como um seguro contra eventuais invasões da Rússia devido ao compromisso de defesa mútua da aliança militar.

O uso de imigrantes em situação irregular como arma já foi apontado como prática do principal aliado da Rússia na Europa, a Belarus. Desde 2020, em diversas ocasiões os governos de países vizinhos, como Polônia e Lituânia, fecharam acessos e tiveram de lidar com choques fronteiriços, militarizando as regiões contíguas ao território governado pela ditadura de Aleksandr Lukachenko.

No fim de 2021, a crise escalou, e tanto Rússia quanto Reino Unido enviaram reforços militares para apoiar seus respectivos aliados. O caso acabou perdendo destaque com a invasão da Ucrânia, poucos meses depois, mas a troca de acusações segue —e o drama de refugiados perdidos em limbos fronteiriços, também.

A tensão entre a ditadura belarussa e os vizinhos segue em alta. Apesar de Minsk não participar diretamente da Guerra da Ucrânia, permite o uso de seu território por Moscou e, desde que protestos em 2020 ameaçaram o regime de Lukachenko, na prática virou um protetorado militar russo.

Putin até instalou armas nucleares táticas, para uso no teatro europeu, no país. Além de protestos, a Polônia pediu que os EUA, que mantêm cem dessas armas em seis bases de aliados da Otan na Europa, fizesse o mesmo em seu território. Ainda não houve decisão de Washington, que tenta não passar recibo à provocação russa.

O caso atual ganha dramaticidade adicional pela nova condição da Finlândia, 31º membro da Otan. A entrada do país nórdico foi contestada pela Rússia, que tinha usado a intenção de Kiev de fazer o mesmo como justificativa central de sua invasão. Putin acabou ganhando o dobro de fronteiras com a aliança após a adesão de Helsinque.

Os países já haviam se estranhado no mês passado, quando foi constatado danos a um gasoduto que ligava a Finlândia à Estônia, nações bastante próximos inclusive na língua. Helsinque insinuou sabotagem russa, mas teve de voltar atrás ao constatar que a culpada foi uma âncora de um navio chinês, restando saber se houve dolo.

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