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Israel ganha tempo com trégua, mas pressão vai continuar

Hamas cede para tentar respirar, e Tel Aviv, para reduzir críticas e avaliar próximo passo

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São Paulo

Na segunda-feira retrasada (13), o chanceler israelense, Eli Cohen, havia estimado um prazo de duas a três semanas para que a pressão internacional para que Tel Aviv suspendesse suas operações militares na Faixa de Gaza se tornasse notável.

Se não jogava para a plateia, Cohen errou ao menos por uma semana. No 46º dia da guerra em retaliação pelo brutal ataque do Hamas de 7 de outubro, Israel e o grupo terrorista palestino cederam e chegaram a um acordo para uma trégua de quatro dias.

Foto tirada de Sderot, em Israel, mostra fumaça subindo após bombardeio aéreo da Faixa de Gaza
Foto tirada de Sderot, em Israel, mostra fumaça subindo após bombardeio aéreo da Faixa de Gaza - Fadel Senna/AFP

No pacote aprovado por Tel Aviv na madrugada do 47º dia, foi acertada a libertação de 50 dos 236 reféns registrados por Israel. Para cada solto, segundo informações iniciais, três prisioneiros palestinos deixarão cadeias de Israel —o número foi de 1 israelense para 1.027 árabes quando o soldado Gilat Shalit foi solto pelo Hamas em 2011, após cinco anos de cativeiro.

Há muita coisa que pode dar errado, por óbvio, não menos a instável segurança na fronteira norte —aliado do Hamas, o Hezbollah libanês não é partícipe ativo do acordo, mas também não está buscando uma guerra aberta contra Israel.

Ambos os lados cederam por motivos diferentes. O Hamas está sendo obliterado. Mas precisa respirar para poder sobreviver politicamente, até porque o mediador Qatar protege sua liderança, que tem passe livre em locais como a Turquia, que é um membro da aliança militar liderada pelos Estados Unidos, para complicar tudo.

Em solo, contudo, a destruição da infraestrutura do grupo é enorme, ainda que ele mantenha capacidade de lançar foguetes de forma limitada e possa liderar uma campanha terrorista a partir da Cisjordânia, onde tem células ora sob ataque do governo de Binyamin Netanyahu.

Até por sua posição de força, contudo, é Israel quem cede mais. O faz porque a pressão internacional foi subestimada por Cohen em público. Se o rompimento de laços com a África do Sul nesta terça não é uma crise para Tel Aviv, a fala do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, insinua problemas.

Ele afirmou nesta terça que os EUA só apoiarão a operação terrestre que Israel planeja para a metade sul de Gaza "se houver um plano articulado e claro sobre o que eles irão fazer para proteger as centenas de milhares de pessoas que foram adicionados àquela população, porque elas foram pedidas para deixar [suas casas] por Israel".

Tel Aviv havia dado um ultimato em 13 de outubro para que os moradores do norte de Gaza, capital homônima inclusa, fossem para o sul. Não parou de bombardear a área, tanto que o Hamas contou dez mortos em Khan Yunis nesta terça, mas sua ação terrestre ocorreu só ao norte.

Na semana passada, o Exército de Israel indicou estar pronto para ir ao sul. A fala de Kirby é um alerta, mas não significa retirada do apoio resoluto que Joe Biden está dando a Israel por motivos maiores, de posicionamento geopolítico.

As ações contra hospitais, que Tel Aviv mostrou com imagens que acobertavam estruturas do Hamas mas agravaram a crise humanitária, apenas pioraram o cerco sobre o Estado judeu. Nesta terça, um ataque próximo da unidade Al-Awda matou 3 profissionais de saúde, 2 deles da ONG Médicos sem Fronteiras. A guerra matou até aqui 1.200 nas mãos do Hamas e 14,1 mil, pela retaliação.

O sul de Gaza virou um campo de refugiados ampliado. A ONU estimou que 1,7 milhão dos 2,3 milhões de moradores da faixa fugiram de suas casas —é presumível que a maioria tentou ir para o sul. As 86 pessoas da nova lista que o Itamaraty enviou para Egito e Israel aprovarem a saída, a maioria palestina, estão todas por lá.

Com a trégua, Israel ganha tempo. Com alguns de seus reféns libertados e outros visitados pela Cruz Vermelha, segundo o acordo, reduz um pouco a pressão da opinião pública doméstica sobre Netanyahu, já amplamente visto como responsável pelas falhas que levaram à tragédia do 7 de outubro.

O premiê disse no início do debate do governo sobre a trégua que a guerra recomeça assim que ela acabar. O ponto de interrogação que fica é sobre qual o rumo que ela tomará.

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