Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Israel e Hamas estendem cessar-fogo por mais 2 dias, anuncia Qatar

Quarta leva de reféns israelenses mantidos em Gaza, a última prevista no acordo de trégua, foi libertada nesta segunda

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São Paulo

Principal mediador entre Israel e o Hamas, o Qatar afirmou que o cessar-fogo iniciado na última semana, previsto para acabar nesta segunda-feira (27), foi prorrogado por mais dois dias. O anúncio foi feito pela chancelaria do país no X, o antigo Twitter.

Tel Aviv por ora não se manifestou sobre a extensão do acordo. Já a facção terrorista o fez por meio de nota na qual atribui o êxito aos esforços do Qatar e do Egito, segundo o qual a extensão do trato deve envolver a libertação de 20 reféns israelenses e a soltura de 60 palestinos detidos em prisões de Israel.

Khalil al-Hayya, membro da cúpula do Hamas, afirmou em entrevista à rede de TV qatari Al Jazeera que a próxima etapa deve incluir a libertação de outros reféns além dos grupos inicialmente contemplados no acordo, mulheres e menores de 19 anos.

Uma mulher palestina caminha entre os escombros em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Mohammed Salem - 27.nov.2023/Reuters

Enquanto isso, o Crescente Vermelho —o equivalente à Cruz Vermelha em países islâmicos— confirmou a libertação de mais 11 reféns nesta segunda, última leva prevista pelo texto original. De acordo com o Exército israelense, eles já estavam no país e se juntariam às suas famílias após passarem por exames médicos em hospital de Tel Aviv.

Segundo um porta-voz do Qatar, o grupo é inteiramente composto por moradores do kibutz Nir Oz, um dos atacados por integrantes da facção extremista no dia 7 de outubro, e inclui nove crianças e adolescentes, duas delas de três anos de idade, e duas mulheres. Ainda de acordo com Doha, todos têm dupla cidadania, em alguns casos francesa, em outros alemã e em outros, argentina.

Além deles, mais seis tailandeses sequestrados pelo Hamas, todos trabalhadores agrícolas, também tiveram sua saída negociada em um acordo paralelo. Nos dias anteriores da trégua, outros 17 nacionais do país asiático, além de um filipino, foram soltos devido a tratativas independentes daquelas entre Israel e o Hamas.

A libertação dos reféns nesta segunda não se deu sem contratempos. Horas antes do anúncio de que eles tinham sido entregues pelo grupo terrorista, três pessoas próximas à discussão disseram à emissora americana CNN que a lista de nomes a serem soltos originalmente entregue ao gabinete de Binyamin Netanyahu não previa que crianças fossem devolvidas ao lado de suas mães e avós também em cativeiro, embora o acordo determinasse que familiares seriam libertados juntos.

Os mesmos indivíduos relataram à rede que havia ainda outro problema: nem todos os reféns estão sob o domínio do Hamas. Segundo eles, entre 40 e 50 sequestrados estariam sendo mantidos pelo Jihad Islâmico e outras facções. De acordo com um porta-voz do governo de Israel, o total de capturados ainda em Gaza nesta segunda é de 184, incluindo 14 estrangeiros e 80 israelenses com dupla nacionalidade.

O cessar-fogo, negociado pelo Qatar com o apoio dos Estados Unidos e do Egito, entrou em vigor na sexta-feira (24). A negociação previa quatro dias de trégua e entrada de ajuda humanitária em Gaza, além da soltura de 50 reféns por parte do Hamas —a facção palestina acabou por soltar ao menos 69 sequestrados— e de 150 palestinos mantidos em prisões, muitos deles sem ter passado por julgamento, por parte de Israel, o que também foi cumprido.

Omar Abdullah al-Hajj, 17, foi um dos palestinos soltos no domingo (26). Ele disse à Reuters que não tinha ideia do que estava acontecendo no mundo exterior durante o período em que esteve encarcerado."Éramos 11 pessoas amontoadas em um quarto onde normalmente cabem seis. Nunca havia comida suficiente e nunca me disseram quanto tempo eu ficaria [preso]", disse ele. "Não consigo acreditar que estou livre agora, mas minha alegria é incompleta porque nossos irmãos permanecem na prisão."

O Ministério da Justiça de Israel acusou Hajj de pertencer ao Jihad Islâmico e representar um risco à segurança.

Já entre os reféns liberados no mesmo dia estava Abigail, 4, cujo último aniversário ocorreu enquanto ela estava em cativeiro. Ela, que também tem nacionalidade americana, ficou órfã durante ataque dos Hamas contra Israel em 7 de outubro —segundo um funcionário do governo dos EUA, sua mãe morreu diante dela, e o pai foi assassinado enquanto tentava protegê-la. A menina, então, buscou refúgio na casa dos vizinhos, onde acabou sendo sequestrada.

"Ela sofreu um trauma terrível", disse o presidente americano, Joe Biden, que defendeu a prorrogação da trégua. "Meu objetivo é garantir que esta pausa continue além de amanhã [segunda] para que possamos ver mais reféns liberados e mais ajuda humanitária."

Tanto o secretário-geral da Otan, aliança militar ocidental, Jens Stoltenberg, quanto o chanceler da União Europeia, Josep Borrell, deram declarações nesse mesmo sentido. Enquanto isso, António Guterres, secretário-geral da ONU, foi além e pediu, em comunicado, que a atual pausa nos enfrentamentos seja substituída por um "cessar-fogo humanitário completo", já que a "catástrofe humanitária em Gaza está piorando a cada dia".

Israel não parece, contudo, disposto a estender a trégua. Ao comentar uma conversa recente com Biden, Netanyahu chamou os dispositivos do acordo que preveem a libertação de mais dez reféns a cada dia de "uma bênção". Mas afirmou ter reiterado ao líder americano que seu governo pretende retomar seu objetivo inicial ao invadir Gaza após o fim do trato: eliminar o Hamas. O premiê pretendia solicitar nesta segunda um "orçamento de guerra" de 30 bilhões de shekels (R$ 39 bilhões).

Israel iniciou a operação na Faixa de Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro, quando o Estado judeu viveu um dia de violência e dimensão sem precedentes desde a sua fundação do país, em 1948. As autoridades israelenses afirmam que 1.200 pessoas morreram nos atentados e quase 240 foram sequestradas e levadas para a Faixa de Gaza.

A violenta resposta israelense no território palestino, alvo de bombardeios incessantes e de uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro, deixou 14.854 mortos, incluindo 6.150 menores de idade, segundo o Hamas. Além disso, a Defesa Civil de Gaza calcula que 7.000 pessoas estão desaparecidas.

A trégua ofereceu um alívio aos moradores de Gaza, mas a situação humanitária continua "perigosa" e as necessidades, "sem precedentes", afirmou a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA).

A ONU informou que, desde o início do cessar-fogo, na sexta-feira (24), 248 caminhões de ajuda chegaram à Faixa de Gaza, onde Israel aplica desde 9 de outubro um "cerco total" que impede a entrada de água, comida, energia elétrica e remédios.

"Deveríamos enviar 200 caminhões por dia durante pelo menos dois meses para responder às necessidades", declarou à AFP Adnan Abu Hasna, porta-voz da UNRWA, antes de informar que em algumas áreas não há "água potável, nem comida".

Com Reuters e AFP

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