Lula diz que vai propor reforma das instituições internacionais na Presidência do G20

Presidente também pretende usar mandato brasileiro para rediscutir dívida de países pobres

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (23) que a presidência brasileira do G20 vai focar três discussões principais, sendo uma delas a possibilidade de reforma do sistema de governança global.

Lula também afirmou que outro tema que receberá atenção durante o mandato é a questão da desigualdade, em particular da dívida dos países mais pobres do mundo, além de transição energética.

"Não é possível que as instituições de Bretton Woods, Banco Mundial, FMI [Fundo Monetário Internacional], e tantas outras instituições financeiras continuem funcionando como se nada tivesse acontecendo no mundo, como se tivesse tudo resolvido", afirmou.

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Lula durante cerimônia de sanção da lei que atualiza sistema de cotas, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 13 nov. 2023/Folhapress

"Muitas vezes instituições que emprestam dinheiro, não com o objetivo de salvar o país que está tomando o dinheiro emprestado, mas para pagar dívida, e não para produzir um ativo produtivo, em uma demonstração que não há contribuição para salvar a vida dos países", acrescentou o presidente.

"Estamos vendo o que aconteceu na Argentina, estamos vendo o continente africano com US$ 800 bi [R$ 3,9 trilhões] de dívida e que, se não houver uma rediscussão de como fazer financiamento para países pobres, a gente não vai ter solução. Os ricos vão continuar ricos e os pobres vão continuar pobres", completou.

O presidente disse ainda que o combate à desigualdade, à fome e à pobreza será uma das prioridades da presidência brasileira do G20. "Não é mais humanamente explicável [em] um mundo tão rico, com tanto dinheiro atravessando o Atlântico, ter gente passando fome", afirmou.

Lula participou da reunião de instalação da Comissão Nacional do G20, no Palácio do Planalto. O Brasil vai assumir no dia 1º de dezembro a presidência do bloco, que reúne as 19 maiores economias do mundo e mais a União Europeia e a União Africana. O mandato brasileiro vai até o dia 30 de novembro do próximo ano.

Também participaram do encontro o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ministros do governo Lula.

A participação de Campos Neto acontece após meses de uma retórica agressiva de Lula contra o BC e o próprio chefe da autoridade monetária, devido ao patamar da taxa básica de juros, a Selic. O presidente brincou com a presença do convidado.

"A novidade, para quem achava que o Banco Central não participava de reunião, o Roberto Campos [Neto], presidente do Banco Central, que está cumprindo aqui uma tarefa tanto como a nossa de participar dos compromissos do G20."

Durante a sua presidência, o Brasil deverá sediar mais de cem reuniões oficiais em diferentes cidades do país. A principal delas será a 19ª Cúpula de chefes de Estado, em novembro de 2024, no Rio.

Os primeiros eventos do G20 durante a presidência do Brasil vão acontecer já em dezembro deste ano, em Brasília, no Palácio do Itamaraty. Nos dias 11 e 12, vão se reunir os integrantes do grupo Sherpa, que são os representantes pessoais dos próprios chefes de Estado ou de governo dos países membros.

No caso do Brasil, por exemplo, o representante será o embaixador Maurício Lyrio, que é secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores.

No dia 13, acontecerá um encontro do presidente Lula com os representantes das duas trilhas (tanto a Sherpa como do núcleo financeiro).

Os dois dias subsequentes serão destinados para o encontro dos núcleos financeiros do G20. A representante brasileira é a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.

Na véspera da instalação da Comissão Nacional do G20, em conversa com jornalistas no Planalto, Rosito ressaltou que alguns países têm incorporado cláusulas em contratos de dívidas que sejam compatíveis com a questão ambiental. Segundo ela, essa é uma "bandeira" que vem sendo levantada e que o Brasil gostaria de seguir discutindo.

Para Lyrio, o tema do endividamento é central em algumas regiões do mundo para que seja possível concretizar ações de redução da pobreza e de combate à fome. "É difícil superar a fome em determinados países africanos se não tem uma solução satisfatória para a questão da dívida", disse.

Na Presidência do G20, o Brasil vai propor um esforço conjunto para alavancar uma aliança global contra a fome e promete usar suas "credenciais" para oferecer propostas concretas em busca de uma solução para o mundo.

A principal proposta é que as economias avançadas perdoem os débitos dos países mais pobres em troca de investimentos e de alocação de recursos para lidar com questões climáticas e de insegurança alimentar, por exemplo.

Em evento da Aberj (Associação de Bancos do Estado do Rio de Janeiro) nesta quinta (23), o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, comentou a declaração do presidente Lula sobre as intenções do Brasil na liderança do G20. Para ele, este talvez seja o momento ideal para "garantir que todos os países possam participar dessa comunidade financeira internacional, que ninguém seja marginalizado e excluído por questões climáticas ou às vezes questões que os países não são diretamente responsáveis por aquilo."

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