Lula diz que guerra Israel-Hamas é consequência da falta de lar seguro para povo palestino

Com Xi, Putin e outros líderes do Brics, petista participou de cúpula extraordinária para tratar do conflito no Oriente Médio

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (21) que o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas é consequência da falta de "um lar seguro para o povo palestino" —de um território soberano próprio, em outras palavras.

"O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível. Precisamos retomar com a maior brevidade possível o processo de paz entre Israel e Palestina", afirmou.

O presidente Lula (PT) durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Lula (PT) durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira - 16.nov.23/Folhapress

O petista acrescentou que é fundamental acompanhar também a situação na Cisjordânia, onde, segundo ele, colonos israelenses impõem ainda mais obstáculos à autonomia palestina ao continuar a expandir seus assentamentos. E manifestou preocupação com a possibilidade de que a guerra se espalhe pelo Oriente Médio.

As declarações foram feitas durante reunião extraordinária da cúpula do Brics para tratar da situação na Faixa de Gaza. O grupo, que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, será expandido com a entrada de seis novos membros a partir do ano que vem: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Representantes dos países recém-chegados também participaram do encontro, aliás, realizado por videoconferência.

O Brics não redigiu uma declaração formal acerca de seu posicionamento, o que normalmente indica falta de consenso. Cyril Ramaphosa, presidente sul-africano e anfitrião da cúpula, afirmou que faltou tempo para isso. Mas relatos sobre o encontro na imprensa indicam que, assim como em outras áreas, também quando se trata da guerra Israel-Hamas, o bloco tem dificuldade de obter posicionamentos comuns, com cada um de seus líderes utilizando a plataforma para avançar agendas próprias.

Ainda assim, algumas opiniões se repetiram. Assim como Lula, os líderes da China e da África do Sul defenderam a chamada solução de dois Estados, segundo a qual tanto Israel quanto a Palestina têm direito a territórios próprios. "A causa do conflito israelo-palestino é o fato de que o direito do povo palestino a um Estado, à existência e ao direito de retorno tem sido há muito ignorado", afirmou o dirigente chinês, Xi Jinping.

Os três também afirmaram que a retaliação de Israel contra o Hamas tem sido desproporcional, chamando a atenção para o alto número de civis mortos em Gaza —segundo o Ministério da Saúde local, houve ao menos 14 mil mortes no território palestino desde o início da guerra, sendo quase 6.000 de menores, enquanto as autoridades israelenses contabilizaram cerca de 1.200 mortes no mesmo período.

O sul-africano Ramaphosa foi o que demonstrou a postura mais dura nesse sentido, qualificando de crime de guerra "o castigo coletivo de Israel aos civis palestinos mediante o uso ilegal da força". "A negativa deliberada de prover medicamentos, combustível, comida e água aos habitantes de Gaza equivale a um genocídio", completou.

A África do Sul é uma defensora histórica da causa palestina. No final da semana passada, a nação pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) a abertura de uma investigação sobre o conflito junto a quatro outros países. Antes, no início do mês, havia convocado seus diplomatas em Israel para consultas —Tel Aviv fez o mesmo com seu embaixador no país africano nesta segunda (20).

O Parlamento da África do Sul inclusive aprovou uma resolução nesta terça pedindo o fechamento da embaixada de Israel em Pretória e a suspensão dos laços diplomáticos com Tel Aviv até um cessar-fogo.

Por fim, vários dos líderes do Brics pediram que seus respectivos Estados se engajem para encontrar uma solução pacífica para o conflito, além de uma desescalada imediata. Um desses foi o presidente da Rússia, Vladimir Putin —que ainda aproveitou a ocasião para criticar os Estados Unidos ao creditar a crise ao fracasso diplomático americano no Oriente Médio.

A voz mais dissonante talvez tenha sido a do enviado da Argentina. Seu chanceler, Santiago Cafiero, foi um dos que defenderam Israel de forma mais enfática ao dizer que Buenos Aires reconhece o direito de Tel Aviv "à legítima autodefesa, respeitando estritamente o direito internacional".

A expectativa, porém, é de que a nação sul-americana nem chegue a entrar no Brics oficialmente. Principal cotada pelo presidente eleito, Javier Milei, para comandar a pasta de Relações Exteriores, a economista Diana Mondino afirmou à agência de notícias russa RIA Novosti na segunda (20) que a Argentina não pretende se juntar ao grupo.

"Não sei por que existe tanto interesse no Brics", disse ela. "Não entendemos qual é o benefício para a Argentina neste momento. Se mais tarde descobrirmos que ele existe, vamos analisá-lo."

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