Israel detém diretores do maior hospital da Faixa de Gaza

Autoridades israelenses dizem que complexo era usado por terroristas do Hamas; soldados vasculham local

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São Paulo

Diretores, médicos e enfermeiros do hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, foram detidos por militares de Israel que ocupam e vasculham o local em busca de indícios de atividades terroristas, disse nesta quinta-feira (23) Khaled Abu Samra, funcionário da unidade.

Segundo Samra, entre os detidos está Mohamed Abu Salmiya, diretor do complexo hospitalar. Outros diretores, um médico e dois enfermeiros também teriam sido levados pelos militares. Não há informações sobre o paradeiro deles.

Militar israelense em túnel que estaria localizado abaixo do hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza
Militar israelense em túnel que estaria localizado abaixo do hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza - Ronen Zvulun -22.nov.23/Reuters

Localizado na Cidade de Gaza, a maior da faixa homônima, o Shifa se tornou um dos principais focos da operação terrestre de Israel em Gaza nos últimos dias. O Exército israelense acusa o Hamas de esconder um centro de operações em túneis abaixo do complexo, e soldados inspecionam o local há vários dias.

Antes de ser detido, Abu Salmiya disse à agência de notícias AFP ter recebido uma ordem do Exército para que o hospital fosse esvaziado. O complexo chegou a abrigar milhares de pessoas durante a guerra, entre pacientes, profissionais da saúde e outros civis que se refugiaram no local por julgá-lo mais seguro.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) e o Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, confirmaram as detenções em comunicado. A nota diz que o diretor Abu Salmiya seria interrogado depois de "muitas evidências" terem indicado que, sob sua direção, o hospital era usado como centro de comando do Hamas. O texto não menciona os outros profissionais que também teriam sido levados.

Na terça (21), o ministro da Saúde israelense, Uriel Busso, acusou as autoridades da OMS (Organização Mundial da Saúde) de ignorarem o que chamou de atividades terroristas no Shifa. A entidade nega.

Em carta enviada à própria OMS e divulgada pelo jornal The Times of Israel, Busso afirma que o diretor do programa de emergências de saúde da organização, Michael Ryan, chegou a dizer que tinha ciência do que acontecia "acima do solo" no Shifa e que duvidava de atividades terroristas no local.

No domingo (19), porém, o Exército de Israel divulgou imagens que teriam sido gravadas por câmeras de vigilância do Shifa e que mostram supostos reféns levados ao complexo após serem capturados em 7 de outubro.

"Agora é claro que a OMS ignorou a utilização de instalações médicas como escudos humanos e a recusa do Hamas em permitir a retirada de civis. O fracasso da OMS em abordar estas questões equivale a sua contribuição para a continuidade de um conflito que provoca muito sofrimento", diz trecho da carta.

Tropas israelenses invadiram o Shifa no último dia 14, numa ação que motivou novas críticas à ofensiva em Gaza. Desde o início da guerra, vários líderes mundiais e representantes de organizações denunciam a morte de civis e questionam a proporcionalidade dos ataques de Israel —em um mês e meio, mais de 14,8 mil pessoas foram mortas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.

Sob pressão, as autoridades israelenses aumentaram esforços para mostrar à comunidade internacional que os terroristas do Hamas usam a infraestrutura civil em Gaza como escudo na guerra.

Um desses indícios apresentados por Tel Aviv seria de que uma soldado israelense sequestrada pelo Hamas, Noa Marciano, 19, foi morta por terroristas dentro do Shifa, não em decorrência de um bombardeio israelense como o grupo palestino havia insinuado em um vídeo. Segundo as IDF, uma perícia mostrou que os ferimentos no corpo da militar em decorrência de ataque aéreo não eram letais.

Outro indício teria sido a descoberta de um túnel de 55 metros de comprimento e 10 metros de altura localizado embaixo do Shifa. As IDF divulgaram um vídeo que mostra a suposta entrada para o canal e um corredor estreito com o teto em forma de arco que terminaria, segundo Israel, em uma porta à prova de fogo.

Ainda de acordo com os militares, a passagem subterrânea foi descoberta a partir de outra entrada, no chão de um galpão em que os combatentes armazenavam munições dentro do complexo de Shifa.

O diretor do Ministério da Saúde de Gaza, Mounir el-Barsh, alegou que as afirmações das IDF sobre o túnel eram "mentira pura". "Eles estão no hospital há dias e até agora não encontraram nada", afirmou ele em entrevista transmitida no domingo (19) pela rede qatari Al Jazeera.

O Hamas condenou com "veemência" a detenção de funcionários e diretores do Shifa. "Pedimos ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e aos organismos internacionais que atuem por suas libertações imediatas", disse a facção em nota.

Com AFP

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