Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Primeiros reféns devem ser libertados na sexta-feira, diz Israel

Países árabes têm esperança de extensão de trégua; Netanyahu mantém promessa de exterminar terroristas

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São Paulo

A libertação de reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo Hamas acordada entre o grupo terrorista e Israel nesta quarta-feira (22) pode demorar pelo menos dois dias para ser efetivada.

A expectativa inicial era de que o tratado entrasse em vigor na manhã desta quinta-feira (23) —mais especificamente, às 10h do horário local (5h em Brasília), segundo informaram à imprensa líderes da facção e autoridades de Israel.

O presidente do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, anunciou, porém, um adiamento na vigência do acordo: o cessar-fogo temporário e a liberação dos reféns só devem começar na próxima sexta-feira (24). Os detalhes de como se darão esses processos não estão claros.

O combinado inclui ainda uma trégua de quatro dias para permitir que os sequestrados possam voltar para o território israelense sem serem atingidos. A depender de avanços nas negociações, a pausa no conflito pode ser prorrogada.

Familiares de reféns mantidos pelo Hamas em Gaza protestam em Tel Aviv pela liberdade das vítimas
Familiares de reféns mantidos pelo Hamas em Gaza protestam em Tel Aviv pela liberdade das vítimas - Ahmad Gharabli - 21.nov.23/AFP

Primeiro acordo firmado pelas partes em guerra desde o seu início, ele prevê a liberação de cerca de 50 das 240 pessoas sequestradas pelo Hamas durante a sua sangrenta incursão de 7 de outubro. Dessas, 30 seriam crianças e 20, mulheres, sendo 8 delas mães.

A cada dia da trégua, um grupo de 12 a 13 reféns será solto. Eles serão entregues pelo grupo terrorista ao Crescente Vermelho —versão da Cruz Vermelha para o mundo islâmico—, que, por sua vez, os levará para agentes das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).

Em troca, Tel Aviv se comprometeu a soltar 150 palestinos detidos em seus presídios, todos mulheres ou menores de idade. Nesta quarta, porém, Israel divulgou uma lista com 300 nomes que estariam elegíveis para a troca por reféns. De acordo com a imprensa israelense, o fato de o número ser o dobro do que havia sido acertado com o grupo terrorista em um primeiro momento pode significar que mais sequestrados serão libertados nos próximos dias.

A lista é formada principalmente por palestinos menores de 18 anos acusados de provocar tumultos ou de lançar pedras contra forças de segurança israelenses na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental. Durante as negociações do acordo, o governo havia recusado a possibilidade de soltar pessoas condenadas por crimes mais graves. O jornal The Times of Israel observou, no entanto, que também aparecem na relação alguns criminosos que tentaram esfaquear agentes de Tel Aviv.

A contrapartida pedida pelo Hamas é um dos fatores que explica a demora até o tratado começar a valer. A legislação israelense prevê 24 horas para que medidas como o acordo de reféns, aprovado por ampla maioria entre os membros do gabinete de guerra israelense, sejam contestadas na Justiça.

Nesta quarta, por exemplo, a Suprema Corte rejeitou uma ação que pedia o adiamento do acordo. A Almagor, que se identifica como uma associação de vítimas de terrorismo, argumentou, entre outros pontos, que a liberação de apenas parte dos reféns viola princípios de igualdade e que o governo de Israel precisaria comprovar que o trato com o Hamas não ameaça a segurança dos israelenses. A petição incluía relatos de vítimas do terror.

A Suprema Corte, no entanto, disse que um possível adiamento do acordo seria uma decisão política, não judicial. "O sofrimento diário dos reféns e a dor sentida pelas suas famílias, pelos seus amigos e por cidadãos israelenses que temem pelo destino dos reféns também é profundo, sincero e verdadeiro", disse o juiz Alex Stein. "No entanto, a insuportável responsabilidade de medir dor contra dor, sofrimento contra sofrimento, em situações como a que temos diante de nós, é entregue ao governo de Israel –a ele, não a nós."

As negociações relativas ao documento levaram semanas e ocorreram em Doha, no Qatar —país que fez a mediação entre o grupo terrorista e Israel ao lado dos Estados Unidos e do Egito. O Ministério das Relações Exteriores do país do Golfo disse após a formalização do tratado que a expectativa é de que ele seja prorrogado e que, em suas fases posteriores, o número de libertados aumente.

Em condição de anonimato, uma autoridade palestina confirmou a informação à agência de notícias Reuters, afirmando que há negociações para que outras 50 pessoas capturadas sejam soltas em uma nova trégua.

Mesmo que um segundo acordo não saia do papel, só o atual já promete aliviar parte da pressão sobre o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, desde o início do conflito acusado de colocar a situação dos reféns em segundo plano em relação ao êxito militar na Faixa de Gaza.

À frente de diversos protestos contra Bibi, como o líder é conhecido, a principal associação de familiares dos reféns mantidos em Gaza divulgou nota na qual informa que todos ficaram "muito felizes" com o avanço dos diálogos, por exemplo.

Também no plano internacional o tratado foi recebido com entusiasmo —ainda que Netanyahu tenha declarado horas antes da aprovação do acordo de reféns que ele não substitui o objetivo final de Israel em Gaza, que é eliminar o Hamas. Desde que seu Exército iniciou sua ofensiva na Faixa de Gaza, a princípio por via aérea e, depois, por via terrestre, mais de 14,5 mil palestinos morreram segundo as contas do Ministério de Saúde local. Em Israel, os óbitos decorrentes da guerra são cerca de 1.200.

Saudaram a resolução potências globais como os EUA, cujo presidente, Joe Biden, afirmou que "mais reféns americanos devem voltar para casa". "Não vou parar até que todos sejam libertados", disse ele. Em entrevista coletiva nesta quarta, Netanyahu disse ter agradecido Biden por pressionar o Qatar a melhorar os termos do acordo. Segundo o premiê, um termo do trato permite que a Cruz Vermelha visite os reféns que não forem libertados.

Líderes árabes também festejaram o acordo: a Jordânia, aliado crucial para Israel no Oriente Médio, disse por exemplo esperar que os diálogos representem um passo para o fim da guerra.

Em cúpula virtual do G20 desta quarta, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi outro a enaltecer o tratado. "Espero que esse acordo possa pavimentar o caminho para uma saída política e duradoura para este conflito e para a retomada do processo de paz entre Israel e Palestina", disse ele.

Além da libertação dos reféns, o acordo permitirá também a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza. Ainda pode servir para diminuir a tensão regional —segundo veículos como rede qatari Al Jazeera e jornais libaneses, o Hezbollah, grupo fundamentalista que domina o sul do Líbano, deverá se unir ao Hamas na trégua de quatro dias.

A facção entrou de forma comedida no conflito iniciado por seus aliados no Hamas, iniciando uma campanha de atrito com forças israelenses na faixa fronteiriça entre os dois países. Bombardeios de lado a lado são diários, e já morreram 70 combatentes do Hezbollah, 13 civis libaneses, 7 soldados e 3 civis israelenses.

Nesta quarta, houve novos ataques aéreos de Israel contra posições do grupo. Sua efetiva entrada no conflito era um dos maiores temores estratégicos de Tel Aviv, já que o Hezbollah é muito mais capaz em termos militares do que o Hamas.

Isso não ocorreu por uma série de fatores, a começar pela ameaça dos EUA de intervir contra os libaneses a partir de seu grupo de porta-aviões no Mediterrâneo. O Líbano está em dificuldades econômicas, e o Hezbollah é um ator político importante no país.

Na entrevista coletiva, Netanyahu afirmou que o acordo com o Hamas pela libertação dos reféns não diz respeito à fronteira norte, com o Líbano, e que Israel reagirá a eventuais ações do grupo libanês.

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