Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Pacientes são amputados só com analgésico em hospitais de Gaza, dizem médicos

Bloqueio de Israel ao território palestino afetou suprimentos de saúde, e profissionais relatam cesarianas sem anestesia

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Nidal al-Mughrabi
Gaza | Reuters

A menina chorava de dor e gritava pela sua mãe enquanto o enfermeiro costurava, sem usar anestesia, uma ferida em sua cabeça.

Esse foi um dos piores momentos do enfermeiro Abu Emad Hassanein durante a guerra. O conflito gerou um fluxo sem precedentes de pessoas feridas no centro de saúde, enquanto Gaza sofre com a falta de medicamentos para aliviar a dor como consequência das restrições que Israel impôs ao território palestino.

Desde então, a falta de suprimentos médicos fez com que mulheres dessem à luz sem anestesia e pacientes fossem operados só com analgésicos, segundo médicos que atuam no território. Nesta sexta-feira (10), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que o sistema de saúde da Faixa de Gaza atingiu um "ponto sem retorno" e exigiu o fim dos ataques a hospitais no território palestino.

Médicos transportam uma mulher ferida para o hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza - Bashar Taleb - 6.nov.23/AFP

"Às vezes, damos a eles gaze para morder", diz Hassanein. "Sabemos que a dor que sentem é maior do que se possa imaginar e maior do que alguém da idade deles suportaria", continuou, referindo-se a crianças como a menina com a ferida na cabeça.

Nemer Abu Thair, um homem de meia-idade, também estava no hospital al-Shifa para trocar o curativo e aplicar desinfetante em uma machucado nas costas causado por um ataque aéreo. Ele conta que não recebeu anestesia quando a ferida foi costurada pela primeira vez. "Eu recitei o Corão até eles terminarem."

A guerra começou em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas romperam a cerca da Faixa de Gaza e invadiram o sul de Israel. Segundo Tel Aviv, o grupo terrorista matou 1.200 pessoas e sequestrou mais de 200, no pior dia de carnificina da história do país.

Israel respondeu com um ataque aéreo, marítimo e terrestre no território habitado por mais de 2 milhões de pessoas, além de um bloqueio total de alimentos, água e suprimentos. Autoridades de saúde em Gaza dizem que as mortes já passam de 11 mil, dos quais 40% são crianças.

Mohammad Abu Selmeyah, diretor do Shifa, diz que quando um número muito grande de pessoas feridas chega ao mesmo tempo, não há escolha a não ser atendê-las no chão, sem alívio adequado da dor.

Ele deu como exemplo a explosão no Hospital al-Ahli Arab, em 17 de outubro. Após o bombardeio, cerca de 250 pessoas feridas chegaram ao Shifa, que possui apenas 12 salas de cirurgia.

"Se tivéssemos esperado para operá-los um por um, teríamos perdido muitos dos feridos", diz Selmeyah. "Fomos obrigados a operar no chão, sem anestesia ou usando analgésicos fracos, para salvar vidas."

Entre os procedimentos que foram realizados pela equipe do Shifa nessas circunstâncias estão amputação de membros e dedos, sutura de feridas graves e tratamento de queimaduras, diz Selmeyah. "É doloroso para a equipe médica. Não é simples. Ou o paciente sofre ou perde a vida", afirma o diretor.

No sul da Faixa de Gaza, para onde Israel pediu que os palestinos se refugiassem dos ataques, a situação não é tão diferente. No Hospital Nasser, em Khan Yunis, o diretor Mohammad Zaqout diz que houve um período no início da guerra em que os suprimentos de anestesia acabaram completamente, até que caminhões de ajuda fossem liberados.

"Alguns procedimentos foram realizados sem anestesia, incluindo cesarianas em mulheres. Também fomos obrigados a operar algumas queimaduras dessa maneira", afirma Zaqout. A equipe fez o possível para aliviar a dor dos pacientes com outros medicamentos mais fracos, afirma ele, mas a situação era inadequada. "Essa não é a solução ideal para um paciente dentro de um centro cirúrgico. Queremos operar com anestesia completa."

Durante os primeiros 12 dias da guerra, nenhuma ajuda foi permitida em Gaza. Em 21 de outubro, um primeiro comboio de caminhões de ajuda entrou pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito. Desde então, vários veículos entraram, mas as Nações Unidas e outras organizações dizem que a ajuda fornecida está longe de ser suficiente para mitigar a catástrofe humanitária.

Zaqout acrescentou que, embora a falta de anestesia tenha sido amenizada no hospital que dirige, ainda há escassez grave no Shifa e no Hospital Indonésio, ambos localizados no norte de Gaza —região que é o alvo principal de Israel.

Com AFP

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