Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Caminhões de ajuda humanitária entram na Faixa de Gaza pela fronteira com Egito

Entrada por Rafah, único ponto do território palestino não controlado por Israel, ocorre após dias de disputas diplomáticas

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São Paulo

Após dias de impasses e disputas diplomáticas sobre as condições da entrega de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, caminhões com toneladas de suprimentos entraram no território palestino neste sábado (21) pela primeira vez desde o começo da guerra, iniciada há duas semanas.

Imagens divulgadas pela TV estatal egípcia mostram os caminhões cruzando a passagem de Rafah, o único ponto de acesso ao território palestino fora do controle direto de Israel. Logo após a entrada de 20 veículos, número por ora autorizado por Tel Aviv, o corredor voltou a ser fechado.

Caminhões transportando ajuda chegam ao lado palestino da fronteira com o Egito - Ibraheem Abu Mustafa/Reuters

O subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários, Martin Griffiths, afirmou que o comboio "não deve ser o último". Cerca de 200 caminhões aguardavam do lado egípcio o sinal verde para entrar em Gaza —a maior parte continua parada, enquanto líderes pressionam por mais ajuda.

"O comboio de 20 caminhões inclui suprimentos vitais fornecidos pelo Crescente Vermelho egípcio e pela ONU, que foram aprovados para cruzar e serem recebidos pelo Crescente Vermelho palestino", disse Griffiths em comunicado. "A entrega aconteceu após dias de negociações intensas com todas as partes para garantir que a operação de ajuda a Gaza seja retomada o mais rapidamente possível e nas condições certas."

Mas Griffiths também alertou que a situação humanitária em Gaza atingiu "níveis catastróficos" após "décadas de sofrimento", e que a comunidade internacional não pode "continuar a falhar" com a população palestina.

A entrega de itens básicos neste sábado representa um alívio, ainda que mínimo, aos palestinos, mas a quantidade é insuficiente. Segundo a ONU, antes da guerra, em média cem caminhões entravam por dia em Gaza, território que já registrava condições precárias e alto índice de desemprego.

Israel impôs um bloqueio total e faz bombardeios diários contra Gaza em resposta aos atentados terroristas feitos pelo grupo Hamas em solo israelense, no último dia 7. O cerco impacta os mais de 2 milhões de moradores na região que sofrem com escassez de água, de comida e de medicamentos.

A ONU já havia alertado para uma catástrofe humanitária em Gaza, onde os estoques de alimentos estão no fim e há pouco combustível, necessário para o funcionamento dos geradores de eletricidade que mantêm os hospitais e outros lugares públicos em funcionamento —Israel também cortou a energia elétrica que fornece ao território.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, foi à fronteira de Rafah para pressionar pela entrega de mais ajuda. Ele voltou a dizer que os ataques terroristas do Hamas contra Israel não podem justificar uma "punição coletiva do povo palestino".

Muitos dos moradores de Gaza estão aglomerados no sul do território após um ultimato feito por Israel para que deixassem o norte, num indicativo de uma invasão terrestre pelas forças israelenses —cuja preparação ainda está em curso, segundo autoridades de Tel Aviv.

Nos últimos dias, ONGs direcionaram caminhões para Rafah. Somente na quarta (18), porém, após visita do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o governo de Binyamin Netanyahu concordou com a entrada de ajuda humanitária.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, saudou em nota a entrega de ajuda. Ele agradeceu aos esforços de Egito, Israel e Nações Unidas e afirmou que a abertura da passagem de Rafah se deu após dias de compromissos diplomáticos "exaustivos" de Washington.

A entrada do primeiro lote de ajuda humanitária aconteceu um dia após o Hamas libertar duas reféns americanas —Judith Raanan e sua filha, Natalie— que haviam sido sequestradas no último dia 7. Neste sábado, entretanto, a facção radical afirmou que não vai discutir o destino de mais reféns, especificamente os militares capturados pelo grupo, até que Israel pare com os ataques em Gaza.

Segundo o jornal The Times of Israel, uma autoridade de segurança israelense disse em condição de anonimato que Tel Aviv autorizou a entrada de ajuda humanitária em Gaza há vários dias. Ao mesmo veículo, outro oficial do país negou que exista uma crise humanitária na região. Ele reconheceu dificuldades no deslocamento dos palestinos para a faixa sul do território, mas disse que a população está bem.

Os números, no entanto, apontam o contrário. Desde o início da guerra, aproximadamente 1 milhão de pessoas já se deslocara, em Gaza, de acordo com a ONU. Desse total, ao menos 527 mil estão nas 147 estruturas emergenciais de abrigo montadas pelas Nações Unidas, a maioria delas na região central ou no sul do território palestino.

Nos abrigos há racionamento de água potável, com fornecimento de no máximo um litro diário por pessoa —o padrão internacional mínimo é de 15 litros diários por pessoa. Ao menos três estações de abastecimento, um reservatório e uma usina de dessalinização de água foram atingidos total ou parcialmente pelos ataques, prejudicando a distribuição para mais de 1,1 milhão de pessoas, o que representa metade da população total de Gaza.

Em condições precárias, palestinos começaram nos últimos dias a retornar para a região norte mesmo sob risco de ataques. Desde o último dia 7, 4.358 pessoas já morreram em Gaza, e outras 13.651 ficaram feridas. Do lado israelense, mais de 1.400 pessoas foram mortas nos ataques do Hamas.

Milhares de pessoas, incluindo estrangeiros e palestinos com dupla cidadania, correram para a passagem de Rafah após a permissão para a entrada de caminhões com ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Não há registros, porém, de pessoas que tenham conseguido sair do território, segundo o The Times of Israel.

As embaixadas pediram aos seus cidadãos em Gaza que estivessem preparados para uma eventual abertura na fronteira, mas multidões esperaram horas em vão. Mais de 20 brasileiros estão na lista do Itamaraty para ser retirados de Gaza. Eles aguardam a formalização de um acordo para a saída de estrangeiros nas cidades de Rafah e de Khan Yunis, ambas no sul do território.

Israel não tem presença militar ou aduaneira em Rafah desde que desocupou a Faixa de Gaza, em 2005, mas controla, na prática, quem entra e quem sai pela passagem. Um acordo, costurado por Estados Unidos e União Europeia, entre Tel Aviv, o Cairo e a Autoridade Palestina em novembro daquele ano lançou as bases para o funcionamento da fronteira.

Com Reuters

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