Tensão sobe na Argentina, e ato de Milei termina em confusão e ovos

Ultraliberal citou em discurso 'malditos brasileiros que vieram fazer campanha suja pagos por Lula'

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Ezeiza (Argentina)

Um punhado de ovos espatifados no chão foi o que sobrou de um dos últimos atos de campanha do ultraliberal Javier Milei antes das eleições à Presidência da Argentina, que acontece no próximo domingo (19). O candidato foi nesta quarta (15) buscar votos em Ezeiza, cidade a 30 km de Buenos Aires que é reduto do peronismo.

Ele havia previsto uma de suas habituais carreatas pelas ruas do município às 17h, a poucos metros do aeroporto internacional que serve de entrada para o país. Mas acabou fazendo apenas um discurso curto em cima de um trailer, depois das 18h, porque momentos antes houve uma confusão entre seus apoiadores e os de seu rival, o atual ministro da Economia, Sergio Massa.

Fantasiado de Zorro, apoiador de Javier Milei participa de comício em Ezeiza, na Argentina, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais - Luis Robayo - 15.nov.23/AFP

Na fala, Milei voltou a citar os publicitários ligados ao PT contratados pela campanha do adversário desde as primárias, os quais o ultraliberal tem culpado pela "campanha do medo" contra ele. "Que Massa tenha que guardar esse maldito dinheiro que foi gasto nesses malditos brasileiros que vieram fazer campanha suja, pagos por Lula", afirmou.

Antes de Milei chegar, defensores do candidato peronista apareceram no local do ato. A tensão subiu, e houve provocações e empurrões entre os grupos, que formaram uma cena de velho oeste.

Enquanto de um lado da avenida defensores de Milei cantavam "a casta tem medo" —em referência ao reiterado discurso do candidato, que se posiciona como um outsider contra a "casta política do país"—, do outro lado, uma turma menos numerosa gritava "Massa presidente".

"Basta de máfia", gritava um apoiador fantasiado de Zorro, ao lado de uma placa estampada com o rosto de Milei.

Em certo momento, houve uma chuva de ovos, levados pelo ajudante de pedreiro e militante peronista Alex Surdo, 22, que mostrava a embalagem com cerca de 20 unidades. "Eles não são bem-vindos aqui, não sei por que vieram. Aqui ninguém gosta do Milei", dizia ele, vestindo uma camiseta do Boca Juniors e carregando um pedaço de madeira, que não foi usado.

Pouco depois da confusão chegou o prefeito local, o peronista Gastón Granados, que negou à imprensa ter convocado os manifestantes e disse ter comparecido para evitar problemas. "Que venha Milei, que faça seu ato e que se vá. Não temos nenhum problema com isso, estamos tentando garantir a segurança", afirmou, pontuando que a situação "estava ficando muito tensa".

"Ele [Milei] quer causar um grande dano à Argentina e a Ezeiza, por isso os moradores vieram. Se eu não estivesse aqui, isso já teria explodido. Infelizmente, os militantes [peronistas] já estão aqui, e alguém tem que vir e enfrentar a situação para evitar que tudo se descontrole", disse.

Apesar dos ovos e dos empurrões, ninguém ficou ferido. A polícia chegou um tempo depois e se colocou entre os dois grupos. "O que o prefeito veio fazer aqui? Veio causar confusão. Estavam até distribuindo panfletos de Massa", criticava a personal trainer Loreley Bottcher, 25, com uma bandeira da Argentina nas costas.

Ela aventava a possibilidade de fraude, teoria sem fundamento em evidências que tem circulado entre os apoiadores de Milei. "Eles pagam pelo voto das pessoas que estão passando necessidade, roubam boletas [as cédulas de votação], dão um envelope a mais para que coloquem na urna." Na Argentina, a votação é feita com listas de papel.

Um amigo de Bottcher, o tatuador Jonatan Traut, 36, engrossou o coro. "A Liberdade Avança [coalizão política de Milei] se formou com base em toda a corrupção que há do outro lado. Aqui em Ezeiza a mesma família controla a política há 19 anos. Têm um hotel de luxo enquanto há ruas de terra, pessoas sem saneamento básico."

Em cima do caminhão, Milei convocou seus apoiadores a fiscalizar as urnas. "Temos os votos, precisamos protegê-los. Para isso, é necessário que fiscalizemos. Pelo bem da República e do nosso país", disse, encerrando seu discurso segundos antes de uma chuva torrencial, que não inibiu um grupo de fãs que pulavam molhados, gritando que "a casta tem medo".

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