Marqueteiros de Lula usam experiência com 'estética fálica' de Bolsonaro para barrar Milei

Publicitários ligados ao PT ajudam peronismo em meio à popularização de símbolos como motosserras entre argentinos

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Brasília e Buenos Aires

Um grupo de publicitários ligados ao PT tem usado sua experiência com a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2022 —e também com a derrota de Fernando Haddad em 2018— para reforçar a equipe de campanha de Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, e tentar conter o avanço do ultraliberal Javier Milei no país vizinho.

O ministro da Economia e presidenciável da Argentina Sergio Massa e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante reunião em Brasília - Ministério da Economia da Argentina - 28.ago.23/via AFP

Entre os aprendizados, estão como lidar com o que chamam de "estética fálica" da ultradireita em geral, o que inclui o gesto de fazer "arminhas" com as mãos popularizado por Jair Bolsonaro (PL) e as motosserras do candidato argentino. A ferramenta utilizada na construção civil passou a ser levada por apoiadores às carreatas depois que ele apelidou de "plano motosserra" sua proposta de reduzir abruptamente os gastos públicos.

A ideia é aproveitar os acertos e erros que esses marqueteiros adquiriram no Brasil e também em outros países onde atuaram contra a ultradireita, como na eleição de Gustavo Petro na Colômbia no ano passado. Além deles, há estrategistas de várias outras partes do mundo, como a Espanha —onde os conservadores acabam de perder a chance de eleger um premiê.

O reforço chegou depois das eleições primárias, em 13 de agosto, quando Milei superou as duas principais forças políticas do país, o peronismo e o macrismo, contrariando as previsões das pesquisas. Individualmente, ele teve 30% dos votos válidos, contra 21% de Massa e 17% de Patricia Bullrich —ambos disputaram votações internas nas suas coalizões.

Os brasileiros têm atuado principalmente na análise de pesquisas e métricas dos perfis de Massa nas redes sociais, além de produzirem conteúdos para as plataformas. O ministro do presidente Alberto Fernández tem em seu desfavor o fato de comandar uma economia em crise que, com uma inflação anual de 124%, empurra cada vez mais argentinos para a pobreza.

A campanha de Massa também convidou Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp, para dar uma palestra sobre o bolsonarismo, fenômeno que ela estudou a fundo. "Me chamaram para conversar porque há muitas similaridades entre Milei e Bolsonaro. Essa coisa disruptiva, da antipolítica, da mobilização da juventude, do discurso da liberdade, mas ao mesmo tempo [a difusão de] valores conservadores", diz a cientista social espanhola.

Do outro lado, eles lidam com um grupo de jovens da geração Z que, de suas casas ou do oitavo andar de um arranha-céu em Porto Madero, em Buenos Aires, pensam todos os dias em como fazer Milei viralizar. O perfil El Peluca Milei, por exemplo, administrado pelo jornalista Tomas Redrado, 23, dispara memes diários aos seus 4,4 milhões de seguidores no YouTube, no TikTok e em outras redes sociais.

Para ajudar na contraofensiva, a equipe de Massa chegou a chamar o publicitário baiano Sidônio Palmeira, responsável pelo marketing da campanha vitoriosa de Lula no ano passado. Antes, ele já tinha ajudado a eleger e a reeleger na Bahia os petistas Jaques Wagner (2006 e 2010) e Rui Costa (2014 e 2018), hoje ministro da Casa Civil.

Palmeira preferiu, no entanto, não entrar numa campanha que já estava em curso desde junho. Quem voou a Buenos Aires, então, foi seu sócio na agência de publicidade Leiaute Propaganda e conterrâneo Raul Rabelo, filho de militantes do PC do B que também ajudou a eleger Lula e já havia atuado na campanha derrotada de Haddad à Presidência em 2018.

Foi nessa época que ele conheceu Otávio Antunes, outro integrante da atual "brigada antifascismo" na Argentina, como o grupo se nomeia internamente. Filiado ao PT, Antunes então se definia como "jornalista operário" e era chefe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, ligada à legenda. Cobria a caravana que Lula fez pelo Nordeste antes de ser preso, em abril daquele ano.

Ambos trabalharam juntos na corrida eleitoral em que Bolsonaro saiu vitorioso. Foram chamados num momento em que o PT estava com verba curta, insuficiente para contratar megamarqueteiros como João Santana e Duda Mendonça, que comandaram as campanhas do partido de 2002 a 2014.

Depois, a dupla trabalhou de forma alinhada nas eleições de 2022, Rabelo com Lula, e Antunes com Haddad pelo Governo de São Paulo —ocasião em que o ex-prefeito novamente saiu derrotado por um bolsonarista, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Antunes atuou ainda ao lado do esquerdista Gustavo Petro, na Colômbia, e do liberal Efraín Alegre, no Paraguai. O primeiro saiu vitorioso e o segundo, derrotado. Na campanha paraguaia, estava também Halley Arrais, um terceiro nome ligado ao PT escalado pelo argentino Massa.

No ano passado, o publicitário Arrais coordenou o marketing do petista Edegar Pretto ao Governo do Rio Grande do Sul. Antes, foi diretor de arte da campanha vitoriosa de Haddad pela Prefeitura de São Paulo, em 2012, e da reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.

Os três nomes já haviam sido adiantados pela Globonews. Procurados, eles não responderam aos pedidos de entrevista.

O clima no governo Lula é de preocupação com o avanço de Milei, que já prometeu inclusive sair do Mercosul. O presidente tem uma relação próxima com o atual líder argentino, Fernández, que já o visitou três vezes desde que ele assumiu o cargo. No fim de agosto, o próprio Massa se reuniu com o brasileiro.

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