Ataques indiscriminados de Israel em Gaza dificultam apoio ao país, diz Biden

Declaração rompe com abordagem que Casa Branca vinha adotando em relação ao seu aliado desde a eclosão da guerra

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Washington

O presidente americano, Joe Biden, criticou duramente o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, em um gesto de ruptura com a abordagem que a Casa Branca vinha adotando em relação ao seu principal aliado no Oriente Médio desde a eclosão da guerra, após os ataques de 7 de outubro pelo grupo terrorista Hamas.

O americano disse que Israel está perdendo apoio da comunidade internacional em razão do bombardeio indiscriminado de Gaza. Biden afirmou ainda que Netanyahu tem uma decisão ser difícil a ser tomada e precisa mudar.

O presidente americano, Joe Biden, durante uma cerimônia em celebração do Hanukkah na Casa Branca nesta segunda (11) - Chip Somodevilla/AFP

"Esse é o governo mais conservador da história de Israel", disse o presidente, complementando que o governo do país não quer uma solução de dois Estados —proposta apoiada por Washington.

As declarações ocorreram nesta terça (12) na capital americana durante um evento de arrecadação de fundos para a campanha presidencial do próximo ano.

Questionado sobre as divergências entre EUA e Israel, especialmente sobre o que acontecerá com Gaza depois da guerra —Washington se opõe a qualquer controle da área por Tel Aviv—, o conselheiro sênior de Netanyahu, Mark Regev, disse à CNN que "a posição do meu primeiro-ministro é que os palestinos devem ter todo o poder para se governar e nenhum para atacar Israel".

"Os princípios são claros: uma Gaza pós-guerra é desmilitarizada e desradicalizada", disse, afirmando que os dois países compartilham essa visão, embora reconheça que "há diferenças em como alcançar isso".

Ele também defendeu o governo de Israel das críticas, dizendo que a coalizão foi ampliada desde os ataques de outubro com a entrada de mais partidos no bloco.

"Nós não queremos reocupar Gaza, governar sua população. Claro que no início podemos ter controle de segurança, porque não podemos ver terroristas se apropriarem dos benefícios que a guerra trouxer", afirmou Regev.

Diante das crescentes críticas às operações militares em Gaza, que já provocaram a morte de mais de 18 mil civis palestinos, segundo autoridades locais, os EUA vêm recalibrando seu discurso. Logo após o início da guerra, Biden declarou apoio total a Israel, que se traduziu em repasse de recursos militares e financeiros, apoio às Forças Armadas israelenses, e veto a pedidos de um cessar-fogo pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Desde 7 de outubro, Biden e Netanyahu têm conversado com frequência por telefone, e o americano chegou a fazer uma visita a Israel para demonstrar o apoio de Washington ao país. Nas últimas semanas, porém, o teor dessas conversas têm mudado, com a Casa Branca pressionando o aliado a levar em conta em sua ofensiva em Gaza preocupações humanitárias com seu impacto sobre a população civil.

O ajuste de rota decorre não só das críticas da comunidade internacional, mas também das críticas internas. A opinião pública americana, que inicialmente se colocou fortemente ao lado de Israel, também passou a ver o conflito de modo mais crítico, mostram pesquisas de opinião.

Democratas, sobretudo, preocupam-se com as consequências da política americana sobre o eleitorado de origem árabe. Embora seja minoritário, a falta desses votos pode fazer diferença em uma disputa que promete ser apertada contra o republicano Donald Trump.

Esse cálculo é especialmente importante para alguns deputados do partido cujos distritos possuem uma população árabe relevante. Segundo o Censo de 2020, a maior parte está concentrada na região metropolitana de Chicago, seguida condados em Michigan, Califórnia e Ohio.

Assim, a postura de Biden provocou divergências públicas com colegas de partido no Congresso. A ala mais à esquerda dos democratas, liderada pela deputada de origem palestina Rashida Tlaib, já chegou a acusar o presidente de apoiar o genocídio da população em Gaza.

Na votação de uma resolução na Câmara condenando o Hamas e manifestando apoio a Israel, nove democratas foram contrários –além de Tlaib, integram o grupo Cori Bush, Jamaal Bowman, André Carson, Al Green, Alexandria Ocasio-Cortez, Summer Lee, Delia Ramirez e Ilham Omar. Outros seis se abstiveram.

O grupo também tem cobrado que a Casa Branca condicione o repasse de mais recursos a Tel Aviv ao cumprimento de certas exigências —a mais importante, um cessar-fogo. Na semana passada, o senador independente Bernie Sanders, que em geral vota junto com os democratas, juntou-se aos republicanos na rejeição do pacote pedido por Biden de ajuda a Ucrânia e Israel, alegando justamente a ausência dessas condicionalidades.

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