Um tribunal na França condenou nesta sexta-feira (8) seis pessoas por envolvimento no assassinato do professor Samuel Paty, decapitado em 2020 após ter exibido a seus alunos charges do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.
O tribunal considerou cinco dos réus, na época do crime com 14 e 15 anos, culpados por vigiar o professor e apontá-lo ao criminoso. Outro réu, então com 13 anos, foi acusado de mentir sobre o debate em sala de aula e por fazer comentários que aumentaram a raiva de estudantes islâmicos contra o docente.
Paty, 47, teve a garganta cortada num subúrbio de classe média de Paris pelo refugiado de origem tchetchena Abdullakh Anzorov, 18, que foi morto a tiros pela polícia logo após o ataque. Segundo os investigadores, o criminoso queria vingança após o professor exibir em uma aula de educação cívica imagens que satirizavam Maomé. O islamismo considera blasfêmia a representação da imagem do profeta.
O caso revoltou alunos muçulmanos e seus pais. Na semana anterior ao crime, familiares de uma aluna de Paty compartilharam um vídeo em que chamavam o professor de bandido e apelavam a outros para "unir forças e dizer 'pare, não toque em nossos filhos'".
A França chegou a abrir 80 processos de investigação de militantes islâmicos depois do episódio, e uma mesquita em Pantin, região noroeste de Paris, foi fechada temporariamente por ter divulgado vídeos nas redes sociais criticando o professor, dias antes do ataque.
A sentença mais dura nesta sexta foi proferida a um dos ex-alunos que vigiou o professor antes do crime. Ele foi condenado a dois anos de prisão, sendo que seis meses poderão ser cumpridos em regime domiciliar e sob vigilância eletrônica. A ex-aluna considerada culpada de acusações falsas foi sentenciada a dois anos de liberdade condicional.
Os outros quatro ex-alunos foram condenados a passar de catorze a dezoito meses em suspensão condicional, ou seja, cumprindo algumas exigências judiciais que incluem frequentar cursos de educação e clínicas de atendimento psicológico. As identidades não foram reveladas porque, à época do crime, todos eram menores de idade.
O assassinato de Paty comoveu o país. Dezenas de milhares de pessoas fizeram protestos no dia seguinte ao crime em defesa de professores e da liberdade de expressão. O Parlamento Europeu também prestou homenagens ao docente.
A França lida com ataques terroristas pelo menos desde 2015, quando dois homens invadiram o jornal satírico Charlie Hebdo e deixaram 12 mortos, incluindo alguns dos chargistas mais célebres do país.
As tensões aumentaram na França, um país com grandes populações judaica e muçulmana, após o ataque do movimento islamista palestino Hamas contra Israel em 7 de outubro e o subsequente bombardeio israelense à Faixa de Gaza.
Em outubro, um professor foi esfaqueado e morto na cidade de Arras e, desde então, a França está em estado de alerta. O criminoso teria gritado "Allahu Akbar" (Alá é grande, em árabe), segundo testemunhas. A polícia disse que o homem é de origem tchetchena e conhecido por órgãos de segurança pelo envolvimento com o islamismo radical.
Desde o começo da guerra, os alertas de bomba multiplicaram-se em escolas, aeroportos e locais turísticos, incluindo o Palácio de Versalhes, que tiveram de ser esvaziados nos últimos dias.
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