Planalto vê ambiente hostil, e Lula vai enviar Mauro Vieira à posse de Milei

Governo avalia que tensão diminuiu com gestos do argentino, mas não o suficiente para justificar a presença presidencial

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai enviar o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para a posse de seu futuro homólogo na Argentina, o ultraliberal Javier Milei. A informação foi confirmada pela Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) na manhã desta terça-feira (5).

Apesar do recente apaziguamento entre os dois políticos, a equipe de Lula avalia que o presidente brasileiro poderia se expor comparecendo ao evento, considerando o clima hostil dos apoiadores e a presença de bolsonaristas, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante entrevista coletiva - Evariso Sa - 10.nov.2023/AFP

Por outro lado, o Planalto também busca fazer um gesto de aproximação e cordialidade com o envio do chefe da diplomacia brasileira.

A posse de Milei será no próximo domingo (10). Bolsonaro embarca na quinta-feira (7) para Buenos Aires, com parlamentares, assessores e governadores, e deve permanecer na capital argentina até segunda (11).

Seus advogados mandaram uma petição para o ministro do STF Alexandre de Moraes para informar que o ex-presidente deixará o país pelo período, "a fim de evitar eventuais equívocos quanto à sua intimação" dos dias 7 a 11. Bolsonaro é investigado em diferentes frentes na corte, e sua defesa preferiu avisar a Justiça para evitar constrangimento como pedidos de diligências nessas datas.

Diplomatas de ambos os países vinham negociando e tratando nos últimos dias sobre a possibilidade do comparecimento de Lula, em particular após a série de sinais do lado argentino.

Depois de ataques duros durante a campanha eleitoral, Milei reduziu o tom nos últimos dias e chegou a falar que Lula "seria bem-vindo". No entanto, o gesto mais contundente foi o envio de sua futura chanceler, Diana Mondino, para um encontro com Mauro Vieira no Palácio do Itamaraty.

Mondino entregou a Vieira uma carta de Milei ao presidente brasileiro no qual convida o petista para a posse e menciona "trabalho frutífero" e "construção de laços". Lula chegou a cogitar enviar o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). No entanto, a opção por Mauro Vieira ganhou força, justamente pelo contato já mantido entre os dois chanceleres.

Além disso, enviar o vice-presidente para a posse de um adversário na Argentina significaria repetir o que Jair Bolsonaro fez quando o atual presidente do país vizinho, Alberto Fernández, ganhou. Na ocasião, o então presidente enviou seu vice, Hamilton Mourão.

Nos momentos de maior tensão, o governo brasileiro chegou a cogitar como representante na posse o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Julio Bitelli. Diplomaticamente, o gesto seria considerado hostil, dada a relação histórica entre os dois países.

Durante a campanha, o ultraliberal chegou a dizer que, se fosse eleito, não se reuniria com o presidente brasileiro, descrito por ele como corrupto e comunista. Sem apresentar provas, Milei também acusou o petista de tentar interferir no resultado das eleições na Argentina.

Apesar de não ter se posicionado publicamente contra Milei durante a corrida, nos bastidores, o governo brasileiro torcia pelo peronista Sergio Massa, ministro e aliado de Fernández —parceiro de Lula que não buscou a reeleição.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.