Milei manda carta para Lula, convida para posse e fala em construir laços

'Sei que o senhor conhece e valoriza cabalmente o que significa este momento de transição', diz presidente eleito da Argentina

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Brasília

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste domingo (26) em que convida o petista para a posse e fala em "trabalho frutífero" e "construção de laços".

"Sei que o senhor conhece e valoriza cabalmente o que significa este momento de transição para o processo histórico da Argentina, seu povo, e naturalmente para mim e minha equipe de colaboradores que me acompanharão na próxima gestão do governo", diz Milei no documento.

"Em ambas as nações temos muitos desafios pela frente e estou convencido de que uma troca nos campos econômico, social e cultural, baseada nos princípios da liberdade, nos posicionará como países competitivos em que seus cidadãos podem desenvolver ao máximo suas capacidades e, assim, escolher o futuro que desejam."

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, durante discurso em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 19.nov.23/Reuters

Na carta, Milei também diz esperar que a atuação conjunta entre os dois países se traduza em "crescimento e prosperidade para argentinos e brasileiros". O presidente eleito encerra o documento com saudações de "estima e respeito" a Lula, esperando vê-lo na posse.

"Sabemos que nossos países estão estreitamente ligados pela geografia e pela história e, a partir disso, desejamos seguir compartilhando áreas complementares, a nível de integração física, comércio e presença internacional, que permitam que todo esta atuação conjunta se traduza, de ambos os lados, em crescimento e prosperidade para argentinos e brasileiros", afirma.

"Desejo que o tempo em comum como presidentes e chefes de governo seja uma etapa de trabalho frutífero e construção de laços que consolidem o papel que a Argentina e o Brasil podem e devem cumprir na Conferência das Nações."

A carta foi entregue pela futura chanceler da Argentina, Diana Mondino, ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Mondino se encontrou neste domingo com Vieira e os embaixadores dos dois países no Itamaraty.

"Foi uma grande ocasião e um [grande] gesto dela querer ser portadora pessoal dessa carta do presidente. Foi uma reunião produtiva em que discutimos vários temas, e ela já está de regresso", disse Vieira à imprensa após a agenda.

"O que foi dito durante a campanha é uma coisa, o que acontece durante o governo é outra. Não sei qual será [a decisão], se o presidente poderá ir ou não [à posse], ele estará chegando de uma grande visita ao exterior", disse o chanceler em referência a uma série de viagens de Lula nos próximos dias.

Auxiliares de Lula no Palácio do Planalto e no Itamaraty afirmam que os últimos gestos são positivos. Dizem ainda que veem na visita de Mondino ao Brasil uma forma de desarmar os espíritos e imprimir um tom de normalidade à relação.

O Itamaraty avalia que o ponto mais importante da reunião com a futura chanceler foi a sinalização de que o futuro governo apoia a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia, que o Brasil tem atuado para fechar.

A previsão é que Vieira entregue a carta enviada por Milei a Lula nesta segunda-feira (27) e que a decisão de comparecer à posse seja tomada exclusivamente pelo presidente. Assessores ponderam, inclusive, que a escolha pode ser feita em cima da hora, por se tratar de um país vizinho.

Nos bastidores, auxiliares de Lula no Planalto avaliam que o gesto do argentino ainda não seria suficiente para que o petista vá à cerimônia no dia 10. Aumentam, no entanto, as chances de pelo menos Vieira ser o representante do Brasil em Buenos Aires, em resposta ao gesto de Mondino.

Assessores presidenciais citam as ofensas proferidas por Milei a Lula durante a campanha presidencial como um entrave à eventual ida.

Além disso, uma ala do Planalto avalia que o convite feito por Milei a Jair Bolsonaro (PL) e a articulação do ex-presidente para levar aliados à Argentina também aumentou o receio de que Lula seja hostilizado ou coloque sua segurança em risco.

A mesma consideração é feita sobre a possibilidade de o vice-presidente, Geraldo Alckmin, comparecer à posse. Por isso, o governo argentino teria de assegurar as condições de segurança e garantir que o ato transcorra sem hostilidades.

Neste domingo, Vieira disse não haver eventual "constrangimento" com a presença de Bolsonaro na posse e afirmou que o governo argentino tem protocolos diferentes para chefes de Estado e outros convidados.

O atual embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, foi determinante para articular a visita de Mondino a Vieira. A viagem foi informada pessoalmente por ele ao assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, na sexta (24). Integrantes do governo avaliam que Milei dará um sinal positivo ao Brasil se Scioli for mantido no posto, ao menos no início do governo.

Foto mostra quatro pessoas, três homens e uma mulher, sentadas em gabinete
O embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli, Diana Mondino, Mauro Vieira e o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli - Divulgação MRE


O governo brasileiro ainda vê como incógnita a interação entre os dois países, mas acredita haver pressão do setor privado e mesmo de políticos próximos a Milei para que a relação com o Brasil não seja desprezada.

O Planalto também avalia o impacto da vitória de Milei nas tratativas para o acordo entre Mercosul e União Europeia. Durante a campanha, Milei defendeu o fim do Mercosul e disse que o bloco prejudica os argentinos. Segundo o chanceler brasileiro, no entanto, sua futura homóloga argentina disse que quer "um Mercosul maior e melhor" e também se referiu de forma positiva ao acordo com Bruxelas.

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Embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, Mauro Vieira, Diana Mondino, e o embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli - Divulgação Embaixada da Argentina
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