Mauro Vieira diz não ver risco de conflito entre Venezuela e Guiana

Para chanceler, manutenção da paz na América do Sul é condição fundamental para desenvolvimento econômico da região

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Rio de Janeiro

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que não vê risco de conflito entre a Venezuela e a Guiana. A declaração, que mantém a posição adotada pelo governo brasileiro até o momento, foi dada à agência Reuters, na chegada do chanceler à Cúpula do Mercosul, no Rio.

Mais tarde, ao abrir a reunião entre chanceleres dos países-membros, Vieira voltou ao assunto e disse que a manutenção da paz na América do Sul é uma condição fundamental para o desenvolvimento econômico da região.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em entrevista coletiva após reunião do Conselho de Segurança da ONU - Brendan McDermid - 13.out.2023/Reuters

A reivindicação de Caracas sobre Essequibo, território rico em petróleo e minérios, ganhou peso com o plebiscito realizado pela ditadura de Nicolás Maduro no domingo (3). Na terça-feira (5), Maduro ordenou que a petroleira estatal PDVSA conceda licenças para a "extração imediata" de recursos naturais na região. Ele também divulgou um mapa político da Venezuela que inclui Essequibo e disse que as escolas passarão a adotá-lo.

Em seu discurso, Vieira afirmou que a América do Sul é hoje a zona de paz mais extensa no mundo e que o Mercosul tem um papel fundamental para manutenção das relações pacíficas entre os países da região. "É essencial que continuemos dialogando e trabalhando para que nossa região siga nessa trilha."

A reunião da tarde desta quarta foi fechada com os demais ministros das Relações Exteriores do Mercosul e outros representantes dos países. A Venezuela faz parte do bloco econômico, mas desde 2017 está com direitos políticos suspensos por "ruptura da ordem democrática". Por isso, representantes venezuelanos não estiveram no encontro.

A situação entre Venezuela e Guiana fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marcasse uma reunião com o chanceler brasileiro e o ex-ministro Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais, mas nenhum deles fez novos comentários até a publicação deste texto.

A ideia é que os três discutissem o aumento de tensão na região, uma vez que um eventual confronto entre os dois países se desenrolaria também em território brasileiro. Diante desse cenário, o Brasil decidiu antecipar o envio de 16 blindados para Boa Vista (RR), na fronteira com a Venezuela. O Itamaraty, no entanto, diz acreditar que o risco de um potencial conflito entre os dois países seja baixo. A movimentação militar é vista apenas como uma estratégia de dissuasão diante das iniciativas de Maduro.

Em entrevista à Reuters, Amorim disse que o Brasil rejeita o uso da força por parte da Venezuela e que tem pedido ao regime de Maduro que não ameace o país vizinho. "Agora há novos fatos que são ainda mais preocupantes. Não deixaremos de transmitir nossas preocupações, especialmente em relação à política de não uso da força", disse o ex-chanceler.

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, por sua vez, manifestou preocupação em entrevista à GloboNews ao dizer que o regime venezuelano é "muito imprevisível". "Consideramos muito preocupante [...] agir de maneira tão imprudente e aventureira ao delinear uma série de ações para desestabilizar a região", disse.

Ali ainda descreveu a resposta do Brasil à crise como muito "solidária" e "madura". "O Brasil tem sido um defensor da paz e da estabilidade nessa região e esperamos que desempenhe um papel de liderança", disse ele. "O presidente Lula me disse pessoalmente que o Brasil sempre estará do lado dos princípios. E o princípio aqui é o caminho diante da CIJ [Corte Internacional de Justiça]."

Nesta quarta, o chanceler da Venezuela, Yvan Gil, divulgou um comunicado condenando as declarações em que Irfaan Ali ameaçou recorrer ao Conselho de Segurança da ONU caso haja alguma ofensiva pela disputa da região com a Venezuela.

Ao compartilhar o comunicado, Gil afirmou que Ali "de forma temerária, deu luz verde à presença do Comando Sul dos Estados Unidos no território da região da Guayana Esequiba [nome usado pelos venezuelanos para se referir ao local]".

"A Venezuela denuncia, perante a comunidade internacional, e especialmente perante a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a atitude imprudente da Guiana. Agindo sob o mandato da transnacional americana Exxon Mobil, a Guiana abre a possibilidade de estabelecer bases militares para uma potência imperial, ameaçando assim a Zona de Paz delineada nesta região", diz o comunicado venezuelano.

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