Nigéria tenta se recuperar de pior massacre em 5 anos, com 140 mortos no campo

Pastores nômades assassinam agricultores a tiros e facadas em episódio de disputa por terras agravada pela crise do clima

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Hamza Ibrahim Camillus Eboh
Abuja | Reuters

A nigeriana Grace Godwin, mãe de três filhos, preparava comida na véspera de Natal quando seu marido irrompeu na cozinha e ordenou que ela e as crianças corressem e se abrigassem no mato depois que homens armados foram avistados em uma vila próxima.

Logo, eles ouviram tiros. Foi o início do ataque de várias horas cometido por supostos pastores nômades que saquearam 15 vilas no estado central de Plateau no último domingo (24), matando 140 pessoas com armas de fogo e facões, segundo autoridades.

Moradores carregam seus pertences em motos enquanto deixam a região de Mangu, no estado nigeriano de Plateau, o mesmo atacado no último dia 24, após outro caso de violência no local
Moradores carregam seus pertences em motos enquanto deixam a região de Mangu, no estado nigeriano de Plateau, o mesmo atacado no último dia 24, após outro caso de violência no local - 20.mai.23/AFP

Trata-se do episódio de violência mais sangrento na Nigéria desde ao menos 2018, quando mais de 200 pessoas foram mortas na região central do país mais populoso da África, onde os confrontos entre pastores e agricultores são cada vez mais comuns.

"Voltamos às 6 da manhã seguinte e descobrimos que casas haviam sido queimadas e pessoas mortas. Ainda há pessoas desaparecidas", disse Godwin por telefone à agência de notícias Reuters. "Não há ninguém em Mayanga [vila]. Mulheres e crianças, todos fugiram."

Ainda não está claro o que desencadeou os ataques de domingo, mas a violência na região, conhecida como "Cinturão Médio", é frequentemente caracterizada como étnico-religiosa —em especial pastores muçulmanos fulanis em conflito com agricultores cristãos.

Especialistas e políticos afirmam também que as mudanças climáticas, fruto do aquecimento global oriundo da atividade humana, e a expansão da agricultura estão criando competição por terras, levando agricultores e pastores a conflitos cada vez mais frequentes na Nigéria.

Os pastores nômades de gado são do norte do país, uma região que está ficando mais seca. A mudança força o deslocamento de moradores para o sul, onde os agricultores estão aumentando a produção à medida que a população se expande rapidamente. Isso significa menos terras para os nômades e seu gado, apoiando a visão de que o conflito é baseado na disponibilidade de recursos, não em diferenças étnicas ou religiosas.

"Esses ataques têm sido recorrentes. Eles querem nos expulsar de nossa terra ancestral, mas continuaremos a resistir", diz Magit Macham, que havia voltado da capital do estado, Jos, para celebrar o Natal com sua família.

Macham conversava com seu irmão do lado de fora de sua casa quando o som frequente de um gerador de gasolina foi interrompido por tiros. Seu irmão foi atingido por uma bala na perna, mas Macham o arrastou para o mato, onde se esconderam durante a noite. "Fomos pegos de surpresa, e aqueles que puderam correram para o mato. Um bom número dos que não puderam foram pegos e mortos com facões."

O governador de Plateau chamou a violência de "sem motivo", e a polícia disse que várias casas, carros e motocicletas foram queimados. O presidente Bola Tinubu, eleito em março em um governo de continuidade e que ainda não explicou como pretende lidar com a crise de segurança generalizada, descreveu os ataques como "primitivos e cruéis" e ordenou à polícia que identificasse os responsáveis.

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