Rússia volta a atacar Kiev com mísseis e fere mais de 50

Ação ocorre durante viagem de Zelenski para tentar evitar perda de apoio à Ucrânia

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São Paulo

Enquanto o presidente Volodimir Zelenski ampliou seu giro para pedir ajuda contra a invasão russa da Ucrânia, as forças de Vladimir Putin promoveram nesta quarta-feira (13) o segundo ataque da semana usando mísseis balísticos contra Kiev.

Ao menos 53 pessoas ficaram feridas, maior número em semanas na capital do país em guerra desde fevereiro de 2022. Conjuntos residenciais e um hospital infantil foram atingidos pelos destroços dos armamentos abatidos pela Força Aérea local.

Área residencial de Kiev atingida nesta madrugada de quarta (13) por destroços de mísseis russos
Área residencial de Kiev atingida nesta madrugada de quarta (13) por destroços de mísseis russos - Serguei Tchuzavkov/AFP

Segundo os militares, todos os dez mísseis foram derrubados na ação, que ocorreu no meio da madrugada, às 3h (21h em Brasília), mas ainda assim fizeram estragos. Como ocorrera na segunda (11), não foram usados drones de origem iraniana contra a capital.

Movidos a hélice, são armas lentas e de fácil abate, que voam a menos de 200 km/h. Já os mísseis empregados, que a Ucrânia sugeriu serem modelos Iskander-M, chegam na fase final de seu ataque a mais de 7.500 km/h. Podem ter sido empregados também armas de defesa aérea do sistema S-400 adaptadas para ataque a solo, menos precisas mas até duas vezes mais velozes.

Pelo alcance máximo desses sistemas, entre 400 km e 500 km, e o fato de serem armas lançadas do solo, é provável que os mísseis tenham sido disparados da Belarus ou de algum ponto avançado das áreas ocupadas pelos russos ao sul do país.

Em outras regiões ao sul, ao menos dez drones Shahed-136 foram empregados e, diz a Ucrânia, derrubados sem deixar vítimas. "Haverá resposta. Certamente", afirmou Zelenski em postagem no X, criticando o ataque a Kiev no meio da noite.

Seja como for, 35 casas foram atingidas na capital, segundo a prefeitura local, em uma renovada onda de ataques que prenuncia uma campanha de inverno por parte dos russos. A estação começa no Hemisfério Norte no fim do mês, mas o tempo já está congelante em boa parte dos campos de batalha, dificultando ações.

Elas ocorrem ainda principalmente na região de Donetsk, onde os russos tomaram a iniciativa numa lenta tentativa iniciada em outubro de tomar Avdiivka, cidade estratégica naquela região no leste ucraniano que Putin anexou no ano passado de forma ilegal —mas onde não tem controle sobre cerca de 40% ou 45% do território.

Tudo isso ocorre enquanto Zelenski faz uma tentativa algo desesperada de evitar a perda de apoio ocidental a seu país. Na véspera, ele esteve com o americano Joe Biden, com quem discutiu o envio de mais defesas aéreas para o inverno e de quem ouviu que o veto republicano a mais dinheiro para Kiev seria "um presente de Natal" para Putin.

De fato, seria. Não há ainda sinais de que o Congresso vá aprovar os US$ 61 bilhões (R$ 302 bilhões) adicionais de auxílio para os ucranianos no ano que vem, e a janela está fechando. Segundo o Instituto para a Economia Mundial de Kiel (Alemanha), até 31 de outubro os americanos enviaram R$ 380 bilhões aos ucranianos, 61% do valor em armas.

Zelenski não persuadiu Mike Johnson, o republicano que comanda a Câmara dos Representantes. A ajuda à Ucrânia está dentro de um pacote maior que inclui auxílio a Israel e à política contra a imigração ilegal, que a oposição diz estar subestimada. O pano de fundo é a eleição de 2024, que deverá opor Biden ao antecessor, Donald Trump.

O fracasso da contraofensiva lançada por Zelenski diminuiu seu cacife na busca de apoio, assim como o cansaço generalizado no Ocidente com a guerra e a resiliência dos russos ante as sanções aplicadas contra sua economia. O cenário é o mais sombrio desde a invasão.

Nesta quarta, o ucraniano fez uma parada surpresa na sua volta dos EUA em Oslo, onde os líderes dos países nórdicos se reunirão para uma cúpula. Voltou a pedir ajuda militar, mas seu foco era mais político: ele quer que a União Europeia dê o aval ao início de negociações para a entrada da Ucrânia no bloco.

A mera discussão vem sendo vetada pela Hungria, próxima da Rússia e crítica da reação ocidental à guerra. Zelenski afirmou que disse ao premiê do país vizinho, Viktor Orbán, que não via motivo para o veto. Novamente, há fatores outros em jogo: Budapeste quer liberar fundos da UE que estão congelados para os húngaros devido à degradação do ambiente democrático no país.

A negociação, contudo, pode ser aberta —as características da Ucrânia, país com território ocupado, baixo padrão democrático e economia destroçada, sugerem anos até que um ingresso possa ocorrer. O próprio Putin se adiantou a isso, dizendo recentemente que não se oporia a essa admissão, deixando a linha vermelha para uma entrada do vizinho na Otan, a aliança militar ocidental que se expandiu rumo às fronteiras russas desde o fim da União Soviética, em 1991.

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