Descrição de chapéu China

China pressiona aliados na ONU para se livrar de acusações por oprimir uigures

Newsletter China, terra do meio explica como missão chinesa atua para se defender de alegações de abusos contra os uigures

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington (Estados Unidos)

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo.

A China promove uma ostensiva campanha de lobby na ONU (Organização das Nações Unidas) para se livrar das acusações de violação aos direitos humanos dos uigures, revelou a agência de notícias Reuters na segunda (22).

Os uigures são muçulmanos e estão concentrados sobretudo na província de Xinjiang, um território autônomo no noroeste chinês. Ao longo de décadas, a região teve ataques terroristas promovidos por movimentos de independência, até que Pequim deteve e internou membros dessa etnia.

  • Países ocidentais e órgãos de proteção e defesa dos direitos humanos acusam os chineses de abrirem "campos de concentração", onde os uigures são forçadas a abandonar idioma e hábitos culturais;
  • Pequim afirma que os campos são apenas escolas vocacionais, destinadas a ensinar mandarim e profissionalizar os alunos, preparando-os para o mercado de trabalho.
Protesto contra a China e em apoio dos uigures em Istambul, na Turquia - Umit Bektas - 9.dez.2022/Reuters

Segundo a Reuters, que citou quatro diplomatas atuantes no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, a missão chinesa enviou memorandos para membros do grupo que avaliarão o histórico do país nesta seara.

Uma reunião para isso está marcada para esta terça, a primeira desde que a ONU divulgou um relatório em 2022 sobre o tema. Nele, afirmou que a detenção de uigures e outros muçulmanos na região de Xinjiang pode constituir crimes contra a humanidade.

A agência de notícias diz ter tido acesso a uma nota diplomática em que a missão chinesa pede apoio a países aliados "levando em conta nossas relações amistosas e de cooperação". Alguns membros chegaram a receber tópicos específicos de discussão a serem levantados durante o encontro, todos apresentando potenciais falhas nas acusações do Ocidente e destacando o trabalho de Pequim em áreas como o direito das mulheres e das pessoas com deficiência.

A missão da China não respondeu diretamente às acusações, mas disse em nota que "se opõe firmemente à politização dos direitos humanos" e "promove uma governação global de direitos humanos mais justa, equitativa e inclusiva".

Por que importa: a despeito da quantidade substancial de evidência de possíveis violações em Xinjiang, a China mostra com esse movimento que ainda tem considerável apoio diplomático para tentar evitar sanções.

Em outubro, mesmo com significativa pressão da sociedade civil, ONGs e do bloco ocidental, o país asiático foi eleito para uma das 15 cadeiras do Conselho de Direitos Humanos. Antes disso, conseguiu uma moção apoiada pelos Estados Unidos e outros membros ocidentais que apelava a um debate sobre os alegados abusos contra os uigures.

Pare para ver

“Forças extremas vão para o inferno [极端势力下地狱]”, produzida e premiada em um “concurso de desradicalização” promovido pelo Partido Comunista em Xinjiang. O trabalho retrata homens carregando armas e bombas marchando em direção ao inferno e é parte do treinamento “anti-terrorismo” promovido pela legenda com uigures da região.
'Forças extremas vão para o inferno [极端势力下地狱]', produzida e premiada em um 'concurso de desradicalização' promovido pelo Partido Comunista em Xinjiang - Reprodução

Sobre a tela: O trabalho retrata homens carregando armas e bombas marchando em direção ao inferno e é parte do treinamento "anti-terrorismo" promovido pela legenda com uigures da região.

O que também importa

Treze alunos de nove e dez anos morreram após incêndio em um dormitório escolar na China. O fogo atingiu a Escola Yingcai, na província de Henan, nesta sexta, segundo a agência de notícias estatal Xinhua. Cerca de 30 alunos estavam no dormitório quando o acidente começou. A instituição privada, funciona há dez anos e atende alunos que vivem em áreas rurais. O diretor da escola foi detido e uma investigação está em andamento.

Washington não espera negociações formais de controle de armas nucleares com a China tão cedo, mas quer iniciar discussões sobre o tema. A afirmação foi dada por um oficial sênior da Casa Branca na quinta. Responsável americano por coordenar esforços de não proliferação nuclear, Pranay Vaddi defendeu a necessidade de envolver os principais tomadores de decisão chineses nas negociações. Os dois países realizaram em novembro suas primeiras conversas sobre controle de armas nucleares desde 2018, mas a reunião terminou sem acordos. Segundo o Pentágono, a Pequim tem hoje mais de 500 ogivas nucleares operacionais, contra 3700 dos EUA.

A Nokia vai vender sua participação na TD Tech, uma empresa especializada em tecnologia sem fio que a finlandesa controlava com a Huawei. A TD Tech continuará com a Huawei, enquanto a parte da Nokia passa para as mãos de um grupo que inclui a estatal Chengdu High-Tech Investment Group e a Chengdu Gaoxin Jicui Technology Co, bem como a empresa de capital de risco Huagai. A TD Tech atua em mais de 100 países e conta com 8 milhões de clientes industriais.

Fique de olho

A deputada republicana do Oregon Lori Chavez-DeRemer pediu ao governo Biden que investigue a compra de terras em Oregon por um membro do Partido Comunista Chinês.

  • Chen Tianqiao, que é membro do PC Chinês, comprou quase 81 mil hectares de terras florestais no Oregon por US$ 85 milhões (cerca de R$ 418 milhões) em 2015;

Em documento, enviado ao Departamento do Tesouro americano na quarta (17), a parlamentar expressa "profunda preocupação" com o fato de o segundo maior proprietário estrangeiro de terras agrícolas nos EUA ser um "bilionário chinês e membro do Partido Comunista Chinês".

Por que importa: a proibição à compra de terras nos EUA por cidadãos chineses promete ser um dos grandes imbróglios políticos nos próximos anos. O tema pautou discussões em estados Texas e Flórida.

Neste ano, o deputado Mile Gallagher, que preside o Comitê Especial da Câmara sobre o PC Chinês, disse à Fox News que o grupo prepara um projeto de lei bipartidário para coibir a venda de terras a membros do partido nos EUA.

Para ir a fundo

  • Com o aumento das incertezas profissionais e os riscos geopolíticos, milhões de jovens chineses têm recorrido ao exoterismo em busca de paz. O Sixth Tone publicou uma reportagem internacional em que detalha como funciona o mercado de curas especiais, cartas de tarô e meditação. Você pode ler aqui. (gratuito, em inglês)
  • Lançado nesta semana, o podcast "Dissident At The Doorstep" conta como Chen Guangcheng, um dissidente chinês conhecido por seu ativismo pelos direitos humanos, se tornou um apoiador do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Ouça aqui. (gratuito, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.