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Cuba registra maior índice de emigração para os EUA desde os anos 1960

Outros dos principais destinos daqueles que deixam a ilha são México, Uruguai e Nicarágua

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São Paulo | AFP

Dados divulgados no último sábado (27) pela Agência de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos indicam que o país registrou nos últimos dois anos o maior influxo de cubanos desde a revolução que terminou com a instituição do regime de Fidel Castro, em 1959.

Só em 2022 e 2023, entraram sem documentos nos EUA, respectivamente, 313 mil e 153 mil cubanos.

Cubanos em fila para entrar na embaixada dos EUA em Havana - Yamil Lage - 9.jan.24/AFP

Já outros 67 mil cidadãos da ilha voaram diretamente para o território americano graças ao "Parole Program", implementado há um ano pelo governo de Joe Biden.

De acordo com o Conselho Americano de Imigração, o programa "permite que aqueles que têm um fiador nos EUA e foram aprovadas em uma checagem de antecedentes [criminais se dirijam] para o país por um período de dois anos para viver e trabalhar legalmente, sob um mecanismo legal conhecido como ‘liberdade condicional humanitária’".

Dessa forma, a soma de migrantes cubanos que entraram nos EUA em dois anos só por essas duas vias totaliza 533 mil.

A cifra, que equivale a cerca de 4,8% dos 11,1 milhões de habitantes de Cuba, "representa o maior número de migrantes cubanos já registrado em dois anos consecutivos desde o [cenário] pós-revolucionário em 1959", diz Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisas Cubanas da Universidade Internacional da Flórida.

Segundo ele, cerca de 300 mil cubanos saíram de Cuba por razões políticas entre 1960 e 1963.

Depois desse período, houve ainda outros êxodos em massa, sobretudo para os EUA. Foi o caso da crise de Mariel, em, quando 130 mil cubanos partiram da ilha em direção ao país à época comandado por Jimmy Carter; e da chamada crise dos balseiros, em 1994, que motivou a saída de 35 mil cubanos para o território norte-americano por meio de embarcações improvisadas.

A principal razão que motivou a migração dos cubanos naqueles tempos é a mesma por trás da crise atual: a instabilidade econômica.

Além dos EUA, outros países que costumam receber muitos cubanos são o México e o Uruguai, que contabilizaram respectivamente 36 mil e 22 mil solicitações de refúgio de cubanos entre 2022 e 2023. Outro destino frequente dos migrantes é a Nicarágua, ditadura aliada do regime caribenho que em 2021 retirou o requisito de visto para os cidadãos de lá.

O marceneiro Radibel Peña, 28, voou em abril do ano passado de Havana para Georgetown, capital da Guiana, que também não exige visto para cubanos. Depois, percorreu o Brasil e passou pela Bolívia, de onde entrou ilegalmente no Chile em maio.

Agora residente de Valparaíso, cidade portuária na costa chilena, Penã trabalha com construções e não possui documentos de migração. "Aqui tem de tudo. Trabalhando dignamente, vive-se bem", diz ele.

No caso da Europa, a Espanha é um dos destinos favoritos dos cubanos, especialmente após a aprovação em 2022 da Lei da Memória Democrática, apelidada de "Lei dos Netos", que permite que descendentes de espanhóis obtenham a nacionalidade.

Depois de obter seu passaporte espanhol, Marco Antonio Nápoles Álvarez, 24, planeja sair de Holguín, uma cidade cubana ao noroeste da ilha, e viajar para Madri em março de 2024, acompanhado de sua irmã. "Temos planos de nos estabelecer lá e ver se as coisas dão certo", afirma Álvarez ao sair da embaixada com o passaporte espanhol na mão.

Outros cubanos já estão na capital espanhola há alguns meses. O dramaturgo Raúl Bonachea, 35, fez uso do visto de residência artística para ir para a capital espanhola em setembro de 2023.

"Foi a oportunidade que encontrei para sair", afirma. Bonachea apontou que precisava de cerca de seis empregos em Cuba para dar conta dos gastos básicos. Também afirmou estar desapontado com a intolerância no governo do Partido Comunista de Cuba (PCC). Ele diz que sua peça "Ifigênia", que tinha a migração como temática, foi censurada.

Com AFP

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