Nasce 1 bebê a cada 10 minutos em meio à guerra em Gaza, diz ONU

Porta-voz de fundo do órgão para a infância diz que território palestino é inferno para recém-nascidos e suas mães

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Genebra | AFP

Cerca de 20 mil bebês nasceram na Faixa de Gaza desde 7 de outubro do ano passado, data que marcou o início da Guerra Israel-Hamas. A cifra, divulgada nesta sexta-feira (19) pelo Unicef, fundo da ONU dedicado à infância, significa que, em média, nasce um bebê a cada dez minutos em meio ao conflito.

Por meio de uma videoconferência entre a agência da ONU e jornalistas, Tess Ingram, porta-voz do Unicef, ressaltou as precárias condições do lugar para receber novas vidas. "Virar mãe deveria ser um momento de celebração. Em Gaza, é uma nova criança nascendo no inferno."

Mervat Salha, avó da menina palestina Mariam, segura-a do lado de fora de uma tenda onde se abriga com a família, em Rafah - Saleh Salem - 17.jan.24/Reuters

Representantes do Unicef que estiveram recentemente em Gaza relataram ter encontrado mulheres que vivem entre a maternidade e o caos da guerra. "As mães enfrentam desafios inimagináveis para ter acesso a atendimento médico, nutrição e proteção adequados antes, durante e após o parto", afirmou Ingram.

Segundo a agência da ONU, os recursos são tão limitados que médicos e funcionários da saúde se veem obrigados a dar alta às mães cerca de três horas depois de cesarianas. As condições para o nascimento de um bebê na Faixa de Gaza expõem grávidas aos seguintes riscos: aborto, parto de bebês natimortos ou prematuros, mortalidade materna e trauma emocional.

Grávidas, lactantes, crianças e bebês vivem em condições descritas pelo Unicef como desumanas. Ainda de acordo com a agência, a água é insalubre e a nutrição, deficitária, colocando por volta de 135 mil crianças menores de dois anos sob o risco de desnutrição grave.

O hospital de Rafah, na fronteira com o Egito, hoje atende a maioria das grávidas de Gaza, mas isso parece não ser o suficiente, prosseguiu a porta-voz do Unicef.

Na videoconferência, Ingram relatou a história de algumas mulheres. Ela falou, por exemplo, de Mashael, que estava grávida quando sua casa foi atingida por um bombardeio. O marido ficou soterrado nos escombros por dias e seu bebê parou de se mexer.

Mashael teria dito à porta-voz do Unicef que seria melhor "um bebê não nascer neste pesadelo". "Ela diz que agora, um mês depois, tem certeza de que o bebê está morto, [mas] continua aguardando atendimento médico", afirmou Ingram.

Não são só mulheres grávidas que vivem o pesadelo da maternidade em meio à guerra. A enfermeira Webda contou aos agentes do Unicef que estiveram em campo que fez cesarianas de emergência em seis mulheres mortas nas últimas oito semanas.

"A humanidade não pode permitir que esta versão distorcida da normalidade persista por mais tempo. Mães e recém-nascidos precisam de um cessar-fogo humanitário", afirmou Ingram.

Após o ataque do Hamas que matou cerca de 1.200 israelenses, Tel Aviv prometeu aniquilar a organização terrorista e respondeu com bombardeios recorrentes sobre Gaza. Durante os três meses de guerra, cerca de 24,7 mil palestinos morreram no território, e mais de 62,1 mil ficaram feridos. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, dos mais de 24 mil mortos, 70% são mulheres e crianças.

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