Parlamento turco aprova ingresso da Suécia na Otan e aproxima país da aliança

Entrada da nação nórdica no grupo militar ocidental ainda depende de chancela do governo de Viktor Orbán na Hungria

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São Paulo

O Parlamento da Turquia aprovou nesta terça-feira (23) a entrada da Suécia na Otan, a aliança militar ocidental, após meses de debates. Com a decisão de Ancara, agora falta apenas a Hungria, entre os membros do bloco militar, chancelar a entrada sueca.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa durante conferência da Otan em Madri, na Espanha
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa durante conferência da Otan em Madri, na Espanha - Yves Herman - 30.jun.22/Reuters

A Suécia caminha, assim, para se tornar o 32º membro da aliança capitaneada pelos Estados Unidos. O pleito para entrar no grupo foi motivado pela Guerra da Ucrânia, que forçou Estocolmo a romper a neutralidade militar e pedir o ingresso na aliança fundada em 1949.

Cenário similar ocorreu na Finlândia, mas esta contou com aprovação muito mais célere: em abril passado, tornou-se o 31º membro da Otan, dobrando a fronteira da aliança militar com a Rússia.

"Hoje estamos um passo mais perto de nos tornarmos membros de pleno direito da Otan", escreveu o premiê sueco, Ulf Kristersson, no X, minutos após o sinal verde dado pela Turquia.

A aprovação se deu por 287 votos a favor e 55 contra, além de quatro abstenções no Legislativo. Em breve, o apoio ao ingresso sueco na Otan deve ser publicado no Diário Oficial turco, formalizando o processo.

Ainda que a publicação seja considerada mera formalidade, Ancara precisa comunicar a aprovação oficialmente à cúpula da aliança militar, e analistas consideram que o governo de Recep Tayyip Erdogan pode postergar a fazê-lo para seguir pressionando a nação nórdica.

Era grande a expectativa em torno da decisão turca. Isso porque o país reiteradamente acusava a Suécia de ser conivente com agentes terroristas e grupos que atuariam em território sueco. O país chegou a aprovar uma dura lei antiterrorismo em março passado, no que foi visto como um evidente aceno aos turcos.

Ancara pressiona Estocolmo a extraditar opositores exilados, como membros do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou seguidores do Fethullah Gulen, clérigo que mora nos EUA e é acusado de inspirar um golpe contra Erdogan em 2016.

Nesse sentido, protestos em solo sueco em que manifestantes queimaram cópias do Alcorão após obterem autorização para realizar os atos, mesmo que depois tenham sido detidos, dificultaram as negociações e muniram autoridades turcas do argumento de que sua contraparte sueca não fazia o suficiente para combater a islamofobia.

De todo modo, ainda estão colocadas na mesa as rusgas suecas com a Hungria de Viktor Orbán. O único Estado-membro que ainda não deu aval a Estocolmo é considerado muito próximo ao presidente russo, Vladimir Putin, e tem perdido apoio internacional —como o da própria Suécia— à medida que fragiliza as instituições democráticas e passa a ser considerado uma autocracia pelos principais institutos de pesquisa.

Orbán disse mais cedo nesta terça-feira que havia convidado seu homólogo sueco para visitar o país e "negociar" a adesão ao bloco. O parlamento da Hungria está em recesso até meados de fevereiro.

Falando à agência sueca TT o chanceler sueco, Tobias Billstrom, afirmou que não havia motivo "para negociar na situação atual" com a Hungria, "embora possamos ter um diálogo e continuar a debater".

Autoridades húngaras disseram que não bloqueariam a candidatura sueca se a Turquia a aprovasse, mas o cenário parece nebuloso.

No último ano, Budapeste deu diversas explicações para o atraso na chancela. Inicialmente, citou razões técnicas relacionadas ao cronograma do Parlamento, mas depois reclamou de um vídeo exibido em escolas suecas que retratava o governo de Orbán de forma negativa e acusou a Suécia de mostrar falta de respeito com a democracia húngara (que, no mais, está erodida).

Orbán, considerado um dos únicos aliados do Kremlin na União Europeia, vetou no mês passado um plano europeu de lançar uma linha de crédito de US$ 52 bilhões (R$ 257 bi) para a Ucrânia, por exemplo.

O secretário-geral da Otan, o ex-premiê norueguês Jens Stoltenberg, celebrou a decisão dos parlamentares turcos. Na mesma fala, deixou o ultimato a Budapeste: "Contamos com a Hungria para completar a ratificação [da entrada sueca na Otan] o mais rápido possível".

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