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Por que Canadá vai limitar entrada de estudantes estrangeiros

Medida deve reduzir em 35% o número de permissões para estudo em programas de bacharelado internacional e graduação

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Nadine Yousif Brandon Drenon
BBC NEWS

O Canadá decidiu limitar, durante dois anos, o número de estudantes estrangeiros que poderão entrar no país —em uma tentativa de conter a pressão nos preços de moradia e saúde em seu território.

O limite deve reduzir em 35% o número de permissões para estudo aprovadas.

O ministro da Imigração, Marc Miller, anunciou a medida nesta segunda-feira (22), acrescentando que o Canadá pretende aprovar neste ano cerca de 360 mil permissões para estrangeiros na graduação.

O Canadá abrigava mais de 800 mil estudantes estrangeiros em 2022, enquanto uma década antes esse número era de 214 mil.

Estudante no campus da Universidade de Toronto, no Canadá
Estudante no campus da Universidade de Toronto, no Canadá - Carlos Osorio - 9.set.2020/Reuters

O limite se aplicará a estudantes de programas de bacharelado internacional e de graduação, mas não afetará estudantes que solicitarem a renovação de permissões já concedidas.

No novo modelo, cada província e território receberá uma parcela determinada de permissões que poderão ser concedidas —a distribuição regional foi definida a partir do tamanho da população local e do volume atual de matrículas. As províncias decidirão então como distribuir internamente estas permissões para as universidades.

Como parte da mudança, a partir de setembro, o governo também deixará de conceder mais permissões para trabalho para estudantes formados em faculdades com modelo público-privado, que é mais comum na província de Ontário.

"É inaceitável que algumas instituições privadas venham se aproveitando dos estudantes estrangeiros, operando campi com poucos recursos, sem dar apoio aos estudantes e cobrando mensalidades elevadas, enquanto aumentam significativamente a entrada de alunos de fora do país", disse Miller.

O ministro defendeu que as novas medidas "não são contra estudantes estrangeiros individualmente", mas destinam-se a garantir que os futuros alunos recebam a "educação de qualidade para a qual se matricularam".

O anúncio ocorre em um momento que o governo do primeiro-ministro Justin Trudeau enfrenta pressão crescente para conter um mercado imobiliário cada vez mais inacessível.

Os preços dos imóveis no Canadá atualmente custam em média 750 mil dólares canadenses (cerca de R$ 2,7 milhões) e o aluguel aumentou 22% nos últimos dois anos.

Alguns economistas têm associado o preço da habitação a um aumento na imigração, já que a construção de casas não acompanhou o crescimento populacional sem precedentes do Canadá.

Em 2022, pela primeira vez, o país viu sua população aumentar em mais de 1 milhão de pessoas no período de um ano —um crescimento impulsionado em grande parte pelos recém-chegados. No ano passado, a população do Canadá atingiu um recorde de 40 milhões de pessoas.

Aluno caminha pelo campus St. George da Universidade de Toronto, no Canadá
Aluno caminha pelo campus St. George da Universidade de Toronto, no Canadá - Wa Lone - 26.set.2023/Reuters

A agência nacional de habitação estima que o país necessita de mais 3,5 milhões unidades habitacionais até 2030 para resgatar a acessibilidade do mercado.

Embora o crescimento populacional seja parte do problema, especialistas apontam para outros fatores que interferem na disponibilidade de habitação acessível, como taxas de juros elevadas.

O custo dos materiais de construção também segue alto devido à inflação e às interrupções no abastecimento causadas pela pandemia da Covid-19.

A redução na entrada de estudantes representa uma mudança significativa na política do Canadá, historicamente dependente da imigração para preencher vagas de emprego e lidar com a sua força de trabalho, que envelhece rapidamente.

Miller já havia sugerido reduzir o número de estudantes internacionais admitidos no Canadá, despertando preocupação de algumas universidades do país.

Na semana passada, o reitor da Universidade McMaster, em Hamilton, disse que o projeto de limite significaria "uma perda" para a sua instituição.

"Se perdêssemos os nossos estudantes internacionais, não seríamos tão ricos do ponto de vista do ambiente de aprendizagem", afirmou David Farrar à emissora pública CBC.

Farrar acrescentou que as mensalidades pagas por estudantes estrangeiros ajudam a compensar os custos para alguns estudantes canadenses, à medida que as universidades lutam com restrições no orçamento governamental.

Um limite para estudantes de fora, argumentou o reitor da universidade, significaria que a instituição teria de reduzir o número de estudantes canadenses admitidos.

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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