Biden critica conduta 'exagerada' em Gaza enquanto Israel bombardeia Rafah

Crítica é a mais contundente do presidente americano a Tel Aviv até agora e acontece em meio a nova rodada de negociações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington e Jerusalém | Reuters e AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou na noite desta quinta-feira (9) que a resposta militar de Israel em Gaza tem sido "exagerada" e disse estar buscando uma "pausa sustentada nos combates" para ajudar os civis palestinos.

"Eu acredito, como vocês sabem, que a conduta da resposta na Faixa de Gaza tem sido exagerada", afirmou Biden a repórteres na Casa Branca. Ele acrescentou que tem pressionado por um acordo para normalizar as relações entre Arábia Saudita e Israel, aumentar a ajuda humanitária e fazer uma pausa temporária nos combates para permitir a libertação dos reféns feitos pelo Hamas.

O presidente dos EUA, Joe Biden, da entrevista coletiva na Casa Branca, em Washington - Kevin Lamarque - 8.fev.2024/Reuters

"Estou pressionando muito agora para negociar esse cessar-fogo", disse Biden. "Há muitas pessoas inocentes passando fome, muitas pessoas inocentes em apuros e morrendo, e isso precisa parar."

As declarações são algumas das críticas públicas mais contundentes do líder americano ao governo do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, até agora. Após os ataques iniciais de Israel, o presidente foi criticado por descrever a morte de palestinos inocentes como "o preço de travar uma guerra". Agora, porém, o democrata tem enfrentado críticas crescentes dentro de seu país para pressionar Tel Aviv a interromper os combates.

Israel iniciou sua ofensiva militar depois que ataques do Hamas no dia 7 de outubro mataram cerca de 1.200 pessoas e fizeram 253 reféns no sul de Israel, segundo Tel Aviv. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista, afirma que mais de 27 mil palestinos morreram em bombardeios, em grande parte crianças.

Até o momento, apenas um cessar-fogo, que durou uma semana, no final de novembro, foi alcançado.

Em comunicado divulgado na quarta-feira (7), a Arábia Saudita disse aos EUA que a condição para normalizar as relações com Israel é o reconhecimento de um Estado palestino independente nas fronteiras traçadas em 1967, com Jerusalém Oriental, e a interrupção dos ataques israelenses na Faixa de Gaza. No entanto, Bibi, como é chamado o premiê israelense, descarta essas possibilidades e segue com sua ofensiva no território.

Na quinta, forças israelenses bombardearam áreas de Rafah, cidade no sul de Gaza onde mais da metade da população do território palestino está abrigada, enquanto diplomatas tentavam salvar as negociações de cessar-fogo que Netanyahu rejeitou. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, concluiu nesta quinta uma viagem pelo Oriente Médio para tentar promover nova trégua e pediu a Israel para "proteger" os civis.

O novo ciclo de negociações no Cairo segue com a mediação do Egito e do Qatar. Uma pessoa próxima à direção do Hamas afirmou que as conversas serão difíceis, mas que o grupo está aberto a elas.

Rafah tem 1,3 milhão de pessoas, a maioria abrigada em barracas e cabanas construídas com lençóis, pedaços de metal e galhos.

Esta é a situação de Um Ahmed al Burai, 59, que teme uma operação terrestre de Israel. "Se Rafah for atacada, haverá massacres e um genocídio. Não sei se conseguiremos fugir para o Egito", afirmou ela. Antes de chegar à cidade, ela passou por Khan Yunis e por Jirbet Al Adas.

Também na quinta, Washington advertiu que Rafah pode se tornar o cenário de um "desastre" humanitário e afirmou que não apoia uma operação "sem planejamento e sem reflexão" sobre os civis. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também se declarou "alarmado" com a possibilidade de ataque, que, segundo ele, "aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário".

Na madrugada desta sexta-feira (9), várias testemunhas relataram bombardeios israelenses no centro e no sul de Gaza. "Ouvimos o barulho de uma explosão enorme perto de nossa casa e encontramos duas crianças mortas na rua", disse Jaber Al Bardini, 60, morador de Rafah. "Se Israel executar um ataque [terrestre] contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.