Israel bombardeia Rafah, onde mais da metade da população de Gaza está abrigada

Ofensiva contra cidade mais ao sul do território palestino ocorre um dia após Tel Aviv rejeitar proposta de cessar-fogo do Hamas

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Doha e Tel Aviv | Reuters

Israel bombardeou Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza onde mais da metade da população do território palestino está abrigada, nesta quinta-feira (8). O ataque acontece um dia depois de o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, rejeitar proposta de cessar-fogo.

Bibi, como o premiê é chamado, disse nesta quarta (7) que os termos propostos pelo Hamas para uma trégua, que incluíam a libertação de reféns mantidos pelo grupo terrorista, eram "delirantes". O primeiro-ministro, que vê sua popularidade diminuir dentro do país, prometeu continuar os combates e disse que a vitória estava próxima, apesar dos esforços diplomáticos para encerrar o conflito de quatro meses e meio.

Palestinos choram ao identificar cadáveres de parentes mortos no bombardeio de Israel em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Mahmud Hams - 8.fev.2024/AFP

Agências de ajuda humanitária têm alertado que a catástrofe humanitária que assola Gaza vai se intensificar caso Israel decida seguir em frente com sua ameaça de avançar sobre uma das últimas áreas do território palestino que não foram ocupadas durante a ofensiva terrestre.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, por exemplo, disse na quarta que a invasão de Rafah "aumentaria o que já é um pesadelo humanitário com consequências regionais incalculáveis". No local há mais de um milhão de pessoas, muitas delas em tendas improvisadas e sem alimentos e remédios.

Moradores afirmam que aviões israelenses bombardearam áreas na cidade na manhã desta quinta e mataram pelo menos 11 pessoas ao atingirem duas casas. Blindados também lançaram ofensivas em algumas áreas no leste da cidade, intensificando os temores dos palestinos de um iminente ataque terrestre total na área.

"Estamos de costas para a cerca e de frente para o mar Mediterrâneo. Para onde devemos ir?" disse à agência de notícias Reuters Emad, 55, que foi deslocado de sua casa no território e é pai de seis filhos. "Não há para onde ir. Mais de um milhão de pessoas está fazendo esta pergunta hoje: para onde devemos ir?"

Após o fracasso do acordo sugerido pelo Hamas, mais conversas estão planejadas para os próximos dias. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, está em sua quinta viagem à região desde o início da guerra e diz ver espaço para mais negociações.

Em entrevista coletiva na quarta, o americano disse que alguns elementos da proposta apresentada pelo grupo terrorista continham pontos fadados ao fracasso, sem dizer quais eram. "Mas também vemos espaço para buscar negociações, para ver se podemos chegar a um acordo. É isso que pretendemos fazer", disse ele.

Uma delegação do Hamas liderada pelo alto funcionário do grupo Khalil Al-Hayya chegou ao Cairo nesta quinta para conversas com o Egito e o Qatar, mediadores do recente esforço diplomático. Espera-se que a delegação se encontre com o chefe de inteligência egípcio, Abbas Kamel, e a equipe que gerencia a mediação do Egito em Gaza, segundo fontes de segurança egípcias.

O ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, disse que o país está trabalhando com todas as partes interessadas para encerrar o conflito e instou a comunidade internacional a pressionar mais pela entrada de ajuda humanitária no território palestino. "O sofrimento humano em Gaza é impensável, com um sistema de apoio humanitário à beira do colapso. As ameaças de uma perigosa expansão do conflito são reais", afirmou a repórteres.

O rei Abdullah, da Jordânia, também embarcou em missão diplomática com o objetivo de encerrar a guerra, visitando capitais ocidentais em uma jornada que incluirá uma reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden.

O Hamas, que rege Gaza, propôs um cessar-fogo de 4 meses e meio, durante o qual todos os reféns mantidos no território seriam libertados, Israel retiraria suas tropas e um acordo seria alcançado para encerrar a guerra. A oferta respondeu a uma proposta elaborada por EUA e Israel e entregue ao Hamas na semana passada por mediadores do Qatar e do Egito.

Israel estaria disposto a permitir que o líder militar do Hamas, Yahya Sinwar, fosse para o exílio em troca da libertação de todos os reféns e do fim do governo do grupo terrorista em Gaza, disseram autoridades israelenses e assessores de alto escalão à rede NBC News.

A guerra começou depois de uma ofensiva do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro matar cerca de 1.200 pessoas e fazer 253 reféns, de acordo com Tel Aviv. Segundo o ministério da saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista, o conflito já matou 27.840 palestinos e feriu mais de 67 mil.

Ao longo desta quinta, o Exército de Israel disse ter matado mais de 20 combatentes em Khan Yunis, cidade do sul de Gaza onde aconteceram alguns dos combates mais intensos da guerra até agora —não foi possível identificar o número de forma independente. Durante a noite, bombardeios israelenses continuaram na cidade e também em Deir Al-Balah, no centro de Gaza. Os ataques mataram o jornalista palestino Nafez Abdel-Jawwad e seu filho.

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