Descrição de chapéu Estados Unidos Eleições EUA

Relatório sobre papéis sigilosos fala em 'memória fraca' de Biden e enfurece presidente

Investigação sobre documentos termina sem denúncias formais contra democrata; defesa diz que descrição é incorreta

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

Uma investigação sobre a posse de documentos confidenciais por Joe Biden após ele deixar o cargo de vice-presidente, em 2017, terminou sem resultar em acusações contra o democrata. O relatório sobre o caso, porém, menciona dificuldades de memória que têm potencial de prejudicar mais o mandatário do que um processo na Justiça.

"Ele não se lembrava de quando era vice-presidente, esquecendo no primeiro dia da entrevista quando seu mandato terminou ('se foi em 2013, quando parei de ser vice-presidente?'), e esquecendo no segundo dia da entrevista quando seu mandato começou ('em 2009, ainda era vice-presidente?'). Ele não se lembrava, mesmo num espaço de vários anos, quando seu filho Beau faleceu", diz o relatório assinado pelo conselheiro especial Robert Hur, do Departamento de Justiça, divulgado nesta quinta (8).

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se dirige ao helicóptero oficial na Casa Branca, em Washington - Mandel Ngan - 8.fev.24/AFP

Biden, 81, concedeu as entrevistas em 8 e 9 de outubro, logo após os ataques pelo grupo terrorista Hamas contra Israel, no dia 7. As falhas de memória foram uma das razões mencionadas pelo conselho especial para não apresentar acusações contra o democrata sobre seu manejo dos documentos, apesar de ter encontrado evidências de irregularidades.

"Consideramos que, em um julgamento, o sr. Biden provavelmente se apresentaria ao júri, como fez durante nossa entrevista com ele, como um homem idoso, simpático e bem-intencionado, com uma memória fraca", escreve Hur. "Seria difícil convencer um júri de que deveriam condená-lo, sendo ele um ex-presidente já na casa dos oitenta anos, por um crime grave que requer um estado mental de intencionalidade."

Já os advogados do presidente afirmam que a descrição feita no relatório de sua memória não é correta. Em resposta enviada ao conselheiro especial, Richard Sauber e Bob Bauer dizem que não veem esse tratamento como "preciso ou apropriado".

"O relatório usa linguagem altamente preconceituosa para descrever uma ocorrência comum entre testemunhas: a falta de lembrança de eventos de anos atrás", afirmam.

Os advogados defendem ainda que o fato de a entrevista ter acontecido logo após os ataques de 7 de outubro deve ser visto como um atenuante.

"Há evidências suficientes da entrevista de que o presidente se saiu bem ao responder às suas perguntas sobre eventos de anos atrás ao longo de cinco horas. Isso é especialmente verdadeiro nas circunstâncias, as quais você não menciona em seu relatório, de que a entrevista dele começou no dia seguinte aos ataques de 7 de outubro em Israel", escrevem.

"Na preparação para a entrevista, o presidente estava conduzindo chamadas com chefes de Estado, membros do gabinete, membros do Congresso e se reunindo repetidamente com sua equipe de segurança nacional."

Os apontamentos sobre a memória do presidente estão sendo comentados entre apoiadores de Donald Trump, que usam o trecho do relatório —que tem no total mais de 300 páginas— como evidência de uma das principais estratégias de ataque dos republicanos ao democrata: sua idade.

Para 59% dos americanos, a capacidade mental e física do democrata para exercer um segundo mandato é uma grande preocupação, segundo levantamento da NBC divulgado último domingo. Outra pesquisa, essa da Associated Press-Norc, mostra que 77% da população o vê como velho demais para ser eficiente por mais quatro anos.

O relatório que apontou "memória fraca" irritou o democrata. Horas após a divulgação, Biden disse a jornalistas na Casa Branca que a sua memória "está boa". Em tom mais duro do que o habitual, o presidente voltou a afirmar que em nenhum momento infringiu a lei, e criticou a menção a seu filho Beau no documento.

"Eu me lembro todos os dias de quando ele morreu", disse o democrata. "Como diabos ele [Robert Hur] se atreveu a levantar essa questão? Francamente, quando me fizeram a pergunta, pensei comigo mesmo: 'não era da conta deles.'"

Ao comentar o conflito entre Israel e Hamas, ainda durante o pronunciamento, Biden cometeu novo deslize ao se referir ao ditador do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, como presidente do México.

Quando questionado se não deveria se afastar da corrida presidencial devido à idade, o democrata disse que é a pessoa mais qualificada do país para ser presidente e que deveria terminar o trabalho que começou. Em relação ao relatório, disse que consideraria o assunto encerrado.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.