Embaixador do Brasil em Israel começou carreira no Oriente Médio e foi escanteado por Ernesto

Frederico Meyer foi chamado para reunião de repreensão em Jerusalém após Lula ter comparado guerra em Gaza ao Holocausto

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Brasília

O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, foi um dos diplomatas escanteados no Itamaraty durante a administração do ex-chanceler bolsonarista Ernesto Araújo.

Meyer era o número 2 da missão do Brasil na ONU quando Jair Bolsonaro chegou ao poder. Sua proximidade com o então chefe da missão, Mauro Vieira (ex-chanceler de Dilma Rousseff e atual ministro das Relações Exteriores de Lula), fez com que Ernesto lhe enviasse para o consulado-geral no Cantão, na China —isso apesar de ele já ter sido anteriormente embaixador no Cazaquistão e no Marrocos.

Antes da missão da ONU, Meyer já havia ocupado altos postos no Itamaraty durante a primeira gestão de Mauro Vieira: primeiro como assessor especial e, depois, chefe da assessoria de imprensa.

O embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, (à dir.) e o chanceler Israel Katz durante visita ao Yad Vashem, em Jerusalém - Ahmad Gharabli - 19.fev.24/AFP

Com a volta de Lula ao poder, Meyer foi reabilitado por Vieira e escolhido para comandar a sensível embaixada em Tel Aviv.

Durante sua sabatina no Senado, em maio de 2023, Meyer abordou brevemente o histórico do conflito entre israelenses e palestinos. Disse que uma "solução negociada e equilibrada para o conflito israelo-palestino é condição necessária para que Israel possa viver em segurança e realizar todo o potencial de sua sociedade e economia".

Meyer desembarcou em Tel Aviv em agosto do ano passado. No começo de outubro, o grupo terrorista Hamas realizou diversos ataques em território israelense que deixaram mais de 1.200 mortos. A reação de Israel causou mais de 29 mil mortes na Faixa de Gaza, segundo autoridades locais.

Por isso, praticamente todo o período do diplomata brasileiro à frente da embaixada em Tel Aviv foi marcado pela guerra Israel-Hamas. As primeiras semanas do conflito foram tomadas pela operação de repatriação de brasileiros que estavam no território em conflito e que retornaram ao país em voos da FAB (Força Aérea Brasileira).

O início da carreira no exterior do diplomata foi em meio a outro conflito. Entre 1980 e 1983, ele serviu na embaixada em Bagdá, período que coincidiu com o início da guerra entre Irã e Iraque. O conflito entre Israel e palestinos, por sua vez, foi tema recorrente durante sua passagem pela missão do Brasil na ONU.

No domingo (18), Meyer foi convocado pelo chanceler do Estado judeu, Israel Katz, a dar explicações sobre a fala de Lula horas antes, que havia comparado os ataques israelenses a Gaza ao Holocausto nazista. A declaração do petista gerou forte reação do governo de Binyamin Netanyahu e de entidades judaicas no Brasil.

O encontro estava inicialmente previsto para ocorrer na sede do ministério de Relações Exteriores, na tarde desta segunda (19). Ainda na manhã de segunda, Meyer foi avisado que o local da reunião seria o Yad Vashem, mais importante memorial sobre o Holocausto.

A mudança de local em cima da hora e a forma como os israelenses organizaram a reprimenda foi vista pelo Itamaraty como uma armadilha para constranger o governo brasileiro.

"Em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, diga ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que retire o que disse", afirmou Katz, ao lado de Meyer, no local escolhido.

Mas a declaração de Katz foi em hebraico, o que fez com que Meyer só se inteirasse sobre o que havia sido dito sobre Lula posteriormente.

Em resposta, o Itamaraty chamou Meyer de volta ao Brasil para consultas —ele deve chegar ao país nesta terça— e convocou o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações a Mauro Vieira na sede do Itamaraty no Rio de Janeiro.

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